Por que mesmo faturando o dobro, 20% das fazendas de pecuária ainda tiveram prejuízo na safra 20/21?

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Confira a interpretação do consultor Antonio Chaker, do Inttegra, sobre os principais resultados do benchmarking da última safra

Em entrevista concedida ao Giro do Boi e exibida no programa desta sexta, dia 22, o zootecnista Antonio Chaker, mestre em produção animal e coordenador sênior do instituto Inttegra, analisou os dados em destaque do estudo de benchmarking das fazendas acompanhadas pela consultoria na safra 2020/21.

Resumidamente, participaram do benchmarking Inttegra da safra 637 fazendas (de Brasil, Bolívia, Colômbia e Paraguai) com mais de dois milhões de cabeças de gado, 1,5 milhão de hectares de pastagens e 102 mil hectares de agricultura, além de quase nove mil colaboradores ao todo.

“É um estudo bastante profundo para entender o que de fato faz a diferença no lucro de uma fazenda”, opinou Chaker.

O QUE SURPREENDEU?

Segundo Chaker, embora as melhores fazendas tenham tido um resultado duas vezes melhor do que o apresentado na safra anterior pelo benchmarking Inttegra, ainda assim boa parte das propriedades fecharam o ciclo no vermelho.

“De fato foi uma safra histórica de resultado. O resultados dos melhores foi o dobro da safra anterior. Esse reposicionamento de valores ou de preço fez toda a diferença. Foi um aumento líquido de 57% no valor de venda da arroba. […] Nunca na história houve um crescimento desse tamanho” contextualizou.

Contudo, a melhoria não foi o suficiente para reduzir mais expressivamente o volume de propriedades que tiveram prejuízo no benchmarking Inttegra. “Quando você imagina que teve o dobro de resultado, então resolveu o problema de todo mundo… Mas, infelizmente, não! 20% das fazendas – e historicamente são 30% – tiveram prejuízo. Então você vê que o aumento do valor expressivo não solucionou o problema dessas fazendas”, concluiu.

E qual a razão? “Porque, de fato, e definitivamente, o que resolve é da porteira para dentro porque no mesmo valor de venda, é eficiência”, salientou Chaker.

SUSTENTABILIDADE

Por outro lado, Chaker pediu atenção para um dado em especial: o quanto as fazendas analisadas pelo benchmarking Inttegra investem em preservação ambiental. “Para cada R$ 1,00 que a fazenda fatura, ela tem em média R$ 3,00 preservados. […] Só desses clientes que nós estudamos, tem quase 1 milhão de hectares preservados, o que representa R$ 12 bilhões. E o faturamento desse ano foi R$ 4 bilhões. Então você vê o quanto o produtor rural investe em preservação. […] É uma agenda importante que a gente defende”, reconheceu o consultor.

PECUÁRIA DE CRIA

Em seguida, o consultor analisou o que fez cada tipo de propriedade lucrar ou fechar o ano no vermelho no benchmarking Inttegra. “A cria segue sendo a atividade de maior margem”, comentou Chaker. Um dos modos de atingir o potencial deste tipo de fazenda, conforme constatou o zootecnista, é apostar no desempenho do rebanho como um todo, e não somente dos índices reprodutivos.

Por exemplo, ao invés de focar só na taxa de prenhez, entender a importância do ganho de peso das novilhas, o peso ao abate das vacas e a idade à primeira monta das novilhas. “As fazendas de cria mais rentáveis foram as que tiveram não apenas maior taxa de prenhez ou desmame, mas que tiveram maior taxa de desfrute, que é a taxa de aproveitamento de rebanho. Como que faz isso? A vaca deu vazia, ela foi abatida rapidamente. Ela morreu um mês depois, não perdeu tempo. Isso foi o que fez a fazenda sair do top 30 para o top 10”, apontou.

“GRANDE ALERTA” PARA O CICLO COMPLETO

De acordo com Chaker, “na nossa visão, no instituto, deveria ser o sistema que mais entrega resultado. Você tem várias oportunidades”.

No entanto, na prática isso não se comprovou no benchmarking Inttegra. “Aconteceu que, apesar disso, […] nós medimos com muita profundidade que o desempenho do ciclo completo é muito inferior ao desempenho da cria das fazendas só de cria. E o desempenho da engorda do ciclo completo é muito inferior ao da engorda de quem faz só recria e engorda”, constatou.

Em resumo, Chaker disse que o papel do dono de uma fazenda de ciclo completo é entregar um resultado igual ou superior a 5% do que vale a fazenda. “Se ele não entregar 5% do que vale a fazenda, o papel dele como dono, como CEO, está falho”, alertou.

A POLARIZAÇÃO DA RECRIA E ENGORDA

Conforme apontou o zootecnista, na recria e engorda “nós temos os que mais ganham e os que mais perdem”, explicou.

Como resultado, a recria e engorda “é onde você encontra incríveis R$ 4.751,00 por hectare. Mas também é o sistema que praticamente 25% das fazendas têm prejuízo”, ponderou, indicando os números do benchmarking Inttegra 2020/21.

E quem ganhou dinheiro na recria e engorda? Segundo Chaker, mesmo com a valorização do bezerro, as fazendas com melhor resultado não tiveram acréscimo grande do ágio pago na reposição. Ou seja, o diferencial foi a forma como a fazenda operou.

“Na recria e terminação precisa ter uma habilidade da porteira para fora porque você tem compra de insumo, porque você tem compra de bezerro. Então você percebe que é mais exigente do ponto de vista gerencial”, sustentou.

QUEM VEIO PRIMEIRO: 100 SACAS OU 100 ARROBAS POR HECTARE?

O consultor animou celebrou o fato de que parte das fazendas de pecuária do Brasil já superam a marca das 100 arrobas produzidas num hectare por ano, como ficou constatado no benchmarking Inttegra.

“A média brasileira é de quatro a cinco arrobas. Eu falei que as top superam 40 (@/ha/ano) e esse ano, pela primeira vez na história, as top de produção produziram mais que 100 arrobas por hectareJá tem gente com 200 arrobas por hectare. […] Muita gente me perguntava o que ia chegar primeiro: 100 sacas ou 100 arrobas. E as 100 arrobas chegaram primeiro que as 100 sacas por hectare”, comemorou.

Fonte: Giro do Boi

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