Apesar das complicações com o longo embargo imposto no ano passado pela China, o principal comprador da carne bovina do país, as exportadoras brasileiras do segmento atingiram um novo recorde de faturamento com as vendas externas, com mais de US$ 9 bilhões em embarques em 2021. O recuo no volume das exportações foi compensado pela alta de 16,13% no preço médio da proteína, que chegou a mais de US$ 5 mil por tonelada.
A expectativa para 2022, com o retorno da China às compras e a possibilidade de novas aberturas de mercado para produtos e destinos, como Canadá, Coreia do Sul e Japão, é de que a receita chegue pela primeira vez à casa dos US$ 10 bilhões, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec). A reabilitação de 12 plantas brasileiras pela Rússia também pode favorecer os negócios neste ano.
O presidente da entidade, Antonio Jorge Camardelli, prevê que o volume exportado deverá voltar para a casa de 2 milhões de toneladas de carcaça equivalente, patamar alcançado pelo setor apenas em 2020. No ano passado, foram 1,8 milhões de toneladas enviadas ao exterior de acordo com as projeções da entidade.
“Nós nos preparamos e cuidamos do nosso produto para não haver problema lá fora. A perspectiva é estar pronto para responder à demanda e com preço da arroba extremamente remunerador ao produtor”, disse Camardelli ao Valor. A ausência de compras chinesas entre os dias 4 de setembro e 15 de dezembro não deixou nenhuma “mácula” com o maior parceiro comercial do setor. “Fora os percalços financeiros e a sequência comercial que foi interrompida, o maior prejuízo que poderíamos ter era a ausência do nosso produto nas gôndolas da China, e isso não aconteceu”, explicou. Com a existência de estoques dos importadores asiáticos e a liberação da entrada da produção certificada antes do embargo, não houve quebra de margem nas empresas nacionais, segundo Camardelli.
Os últimos 15 dias de dezembro reforçaram o otimismo da indústria exportadora. Com a retirada da suspensão, a China já comprou 20 mil toneladas de carne bovina brasileira nesse período. “O fluxo está normal com a China. Já vínhamos conversando um pouco. No momento que [a China] reabriu, o processo comercial se fez automaticamente”, relatou. O fim do ano também reservou a abertura do mercado da Malásia para cortes com ossos e miúdos.
Busca por mais clientes
Camardelli disse que a “dependência” da China tem que ser desmistificada, já que é um mercado com o qual o setor mantém um excelente relacionamento e faz negócios com “100% de sucesso”. A saída, segundo ele, é conseguir uma maior abertura comercial, com a conquista de mais clientes em termos de destinos e produtos.
“A gente tem que sair atrás de alternativas contínuas no processo, com a abertura de novos mercados, como Coreia do Sul, Japão, Taiwan, Canadá e México. Somados, eles representam 40% das importações mundiais e não tenho liberdade para vender para eles ainda. É isso que regula mercado”, afirmou.
A perspectiva é que as negociações com o Canadá avancem no primeiro trimestre deste ano. “A maior ou menor dependência é regulada pela continuidade de abertura de mercado”, disse.
O Japão importa mais de 700 mil toneladas de carne bovina por ano e a Coreia do Sul, 500 mil. Quase 80% disso sai dos Estados Unidos. “Queremos uma fatiazinha desse processo. Não vamos roubar mercado, pois ele se adequa”, projetou Camardelli. “Não somos competidores pelas características de carne, somos parceiros”.
A capacidade de produzir em larga escala e de atender essas especificidades nos produtos enviados para a China e outros importadores sustenta o otimismo. Uma das apostas é na expansão das venda de carne gourmet, que é mais rentável, mas cujo mercado é comandado por Estados Unidos, Argentina e Austrália.
“Na hierarquia financeira, a carne gourmet vale muito mais e o consumidor não retorna para as carnes de outro padrão”, disse o executivo. “O Brasil é o único player em volume capaz de abastecer as especificidades de cada país e esse é um dos itens que nos proporciona cenário bom para 2022”.
A crescente pressão ambiental sobre os produtos brasileiros não deve ser empecilho para os negócios, avaliou o presidente da Abiec, devido aos compromissos assumidos pelo Brasil e pelas regras rígidas que os frigoríficos exportadores são obrigados a seguir. O problema, segundo ele, está na dificuldade de trabalhar com conceito de “boi indireto” e na falta de homogeneidade dos requisitos cobrados dos estabelecimentos que vendem internamente. “Os produtos que exporto são iguais aos que mando para o mercado interno. É preciso resolver esse nó, senão não vamos avançar”, concluiu.
Fonte: Valor Econômico