Em um ano de preço recorde do leite, os 100 maiores produtores do Brasil colocaram o pé no acelerador. Mesmo com custos também mais elevados, a média diária de produção do grupo cresceu 10,29% em 2020, para 23.057 litros, segundo o levantamento “Top 100 MilkPoint”. Foi o melhor resultado desde o início da pesquisa, em 2001. Naquele ano, os integrantes do ranking produziram 6.544 litros por dia.
Se consideradas as 89 propriedades que estavam na lista em 2019 e seguiram no ranking em 2020, o crescimento na produção diária foi de 10,44%, acima da média geral.
“Desde 2001 a média vem crescendo. Isso por causa da profissionalização das fazendas, que leva a uma melhoria do pacote tecnológico. Isso permite que esses produtores aumentem não apenas a produtividade, mas o rebanho”, disse Marcelo Carvalho, CEO da Agripoint, responsável pelo levantamento.
Entre as dez fazendas mais bem colocadas no ranking, o aumento do rebanho foi responsável por 65% do incremento da produção entre 2019 e 2020, e a elevação da produtividade por vaca respondeu pelos demais 35%. A média de produção dos “top 10” cresceu 7,23%, para 57.454 litros por dia.
Carvalho afirmou que as propriedades já partem de um nível de produtividade por vaca muito elevado, restringindo o espaço para avanços.
Juntas, as empresas produziram 845.7 milhões de litros de leite em 2020, um aumento de 10,83% em relação a 2019, e responderam por 3,30% da produção formal do País em 2020, que cresceu 1,54%, para 25.4 bilhões de toneladas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia a Estatística (IBGE).
“No ano passado houve um choque de demanda brutal, com o auxílio emergencial e o home office. A conta fechou, e bem, para os produtores”, afirmou Carvalho. Outro fator que favoreceu os grandes produtores foi o bônus pago na entrega de grandes volumes de matéria-prima. Segundo ele, o sobrepreço chega a 25%. O cenário, contudo, mudou. “Agora, o mercado vive uma ressaca”.
A Fazenda Colorado, que produz leite tipo A com a marca Xandô, liderou o ranking pelo oitavo ano consecutivo, com média de 80.000 litros por dia, 26.3 milhões de litros no total em 2020, e 6,29% a mais que no ano anterior.
Com sede em Araras (SP), a Colorado ampliou o rebanho para 2.150 vacas e alcançou uma produtividade média de 43,6 quilos por vaca ao dia. O avanço da distribuição dos produtos pelo interior do estado aumentou a demanda.
“Tivemos uma condição favorável para produção, com silagem de qualidade, climatização, genética e animais com condição corporal muito boa”, disse Carlos Alberto Pasetti, integrante do conselho de administração da holding, que controla a propriedade.
Para 2021, a Colorado pretende ampliar ainda mais o rebanho. Vai investir em armazenagem para a silagem e venderá animais para outros planteis para “equilibrar” os negócios. “O custo de alimentação está absurdo e tem representado mais do que os 60% habituais. O impacto disso é que o Brasil deverá produzir menos”, afirmou Pasetti.
O custo de produção por litro de leite dos “top 100” já foi pesado em 2020. Chegou, em média, a R$ 1,56, um aumento de 24,80% em comparação com os R$ 1,28 do levantamento anterior (sem considerar a inflação).
Mesmo assim, 77% das propriedades avaliaram a rentabilidade da atividade leiteira em 2020 como superior à de 2019. O índice de receita menos custo de produção (RMCR) foi, em média, de R$ 26,30 por vaca por dia em 2020, superior aos R$ 25,50 de 2019 e o maior desde 2008, quando começou a ser medido.
Fonte: Valor Econômico