Na terceira palestra do painel “Além da Madeira”, realizada no dia 11/8, no Workshop da Embrapa Florestas/Apre, um tema novo foi apresentado aos participantes sobre um recente projeto da Embrapa Florestas iniciado em 2021. Liderado pelo pesquisador Vanderley Porfírio-da-Silva, o projeto pretende desenvolver e validar um novo sistema de produção silvipastoril voltado à produção de celulose e “carne baixo carbono”
Nesse sistema de produção de celulose e “carne baixo carbono” pretende-se avaliar o papel das raízes das árvores na imobilização de carbono, a exemplo do que ocorre com a produção de madeira para serrados. “Pretendemos, entre outros aspectos, avaliar o quanto, tocos e raízes das árvores, ao permanecerem no solo após o corte raso (para obtenção de celulose), irão imobilizar de carbono e, com isso mitigar, a emissão entérica dos bovinos” , resume Vanderley Porfírio-da-Silva.
Diante das mudanças climáticas, a necessidade de descarbonização da agropecuária brasileira se torna ainda mais premente. “O silvipastoril, na bovinocultura de corte, com o protocolo de Carne Carbono Neutro consegue dar tratamento para essa questão e atender à perspectiva brasileira da descarbonização, conforme preconiza o Plano ABC+, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento”, enfatiza o pesquisador.
Para embasar a importância do sistema silvipastoril no desenvolvimento da pecuária nacional, o pesquisador mostrou um panorama histórico da introdução do componente arbóreo na pecuária, iniciado na década de 1990. “O Paraná tem hoje as experiências de silvipastoril mais antigas do Brasil. Já há algum tempo vem se aprendendo essa condição de colocar árvores em pasto. E elas vêm complexando, chegando ao ponto de hoje se pensar em celulose e carne”, diz o pesquisador.
Desde o início buscava-se com a implantação do silvipastoril promover mudanças no sistema de uso da terra, visando à agregação de renda, a um melhor manejo ambiental, com redução dos impactos da pecuária e ao bem-estar animal. “A introdução do componente arbóreo nas pastagens busca mitigar ou reduzir o impacto da pecuária, além de trazer uma perspectiva na mudança de uso da terra, agregando mais produtos na mesma área”, diz o pesquisador.
Sob a ótica do sistema silvipastoril são vários os benefícios, dentre eles a melhoria na qualidade da madeira produzida, a garantia de cuidados e acompanhamento à plantação florestal, sendo uma importante estratégia para a produção em substituição à exploração de madeiras de florestas naturais que se tornam cada vez escassas e de acesso restrito.
Já sob a perspectiva ambiental, o silvipastoril se mostra ainda mais importante nos dias atuais, embutindo o marketing ambiental. “Atualmente o silvipastoril se reveste de uma importância grande que, além das questões pragmáticas e de produção, promove práticas que favorecem a biodiversidade, a proteção de solo e água e de mitigação do efeito estufa, aspectos que vão trazer uma melhoria na imagem do negócio. Claro que na perspectiva sempre de uma complementaridade ou de uma suplementaridade de renda na área pastoril”, afirma Porfírio-da-Silva.
Outro aspecto enfatizado pelo pesquisador é a maior exigência quanto aos produtos advindos da bovinocultura. “Isto porque a bovinocultura é uma área de um sistema de produção que está em busca cada vez mais de diferenciação para atender aspectos mais exigentes de mercado, como certificação da carne, bem-estar animal, custos ambientais, consumidores preocupados com a questão de consumo, qualidade, procedimentos na qualidade ética de produção da carne, dentre outros”, cita.
Carne Carbono Neutro
À esteira desses movimentos, em 2015, foi proposto pela Embrapa o selo “Carne Carbono Neutro”, respaldando-se nos estudos sobre pecuária e silvicultura. Com o selo, foi firmada também uma parceria com um dos maiores frigoríficos do Brasil, que inovou, ao colocar no mercado o conceito de carne produzida com baixa ou neutra emissão de carbono.
Segundo o pesquisador, o protocolo Carne Carbono Neutro funciona sob o ponto de vista da pecuária, na qual se introduzem as árvores buscando um melhor manejo ambiental e o bem-estar animal. “O protocolo do Carne Carbono Neutro estipulou que parte dessa madeira das árvores que crescem no sistema onde está o rebanho, tem que ser destinada para serraria, para produtos de maior valor agregado, porque tem uma perspectiva de manter e imobilizar por um período mais longo o carbono nessa madeira. A depender do índice de sítio, entre 16 e 43% de toda a madeira produzida deverá ser destinada para serraria. Por isso, se discute hoje uma perspectiva de como a madeira para celulose poderá contribuir para a produção de ‘carne baixo carbono’”, diz.
Carne Baixo Carbono
Para Porfírio-da-Silva, a proposta de se criar um protocolo para a integração da produção de madeira para celulose e carne, integra dois grandes setores nacionais, além de atender a exigências de objetivos de desenvolvimentos sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). “O Modelo silvipastoril para celulose e “carne baixo carbono” atende a três dos 17 ODS que são Trabalho decente e crescimento econômico; Consumo e produção responsáveis e Vida terrestre, e nós temos a perspectiva de integrar esses dois gigantes do Agro brasileiro, com foco na produção de celulose.
Fonte: Embrapa