País importa a proteína vermelha dos EUA ao preço médio de US$ 8,75/kg, enquanto a australiana vale US$ 7,05/kg, valores 63% e 31% maiores que os valores pagos pelo produto brasileiro
Nos últimos dias, o mercado brasileiro do boi gordo registrou certa volatilidade diante da indefinição do governo chinês sobre a liberação dos embarques de carne bovina, que foram suspensos no início de setembro, depois da confirmação de dois casos atípicos de vaca louca (Encefalopatia Espongiforme Bovina-EEB) no Brasil (no Mato Grosso e Minas Gerais).
Segundo análise da Agrifatto, o bloqueio ao mercado chinês ocorre justamente no período de maior demanda do país asiático pela proteína brasileira.
Nos últimos cinco anos, o quarto trimestre do ano respondeu por 34% das vendas anuais ao país asiático, informa a consultoria.
No caso de persistência das indefinições burocráticas em relação ao comércio de carne bovina entre os dois países, a China vai pagar bem mais caro pela proteína importada, já que o produto brasileiro é bem mais barato se comparado aos preços de mercado de outros tradicionais fornecedores da commodity.
As opções mais óbvias que surgiriam no radar para “ocupar” o espaço brasileiro nas importações chinesas seriam a Austrália e os Estados Unidos, relata a Agrifatto, lembrando que a Argentina, outro importante fornecedor ao gigante asiático, impôs restrições aos seus embarques de carne bovina, uma medida polêmica que visa controlar o efeito inflacionário naquele país.
No entanto, nesses dois casos (de maior interesse pela carne australiana e norte-americana), o preço médio pago pela China pelo produto importado sofreria um forte aumento.
Atualmente, o país asiático compra carne bovina dos EUA por um preço médio de US$ 8,75/kg, enquanto a australiana vale US$ 7,05/kg, valores 63% e 31% maiores que os valores pagos pela proteína bovina brasileira, de acordo com cálculos da Agrifatto.
Hoje, 38% da carne bovina que chega na China sai do Brasil, ou seja, das 1,32 milhão de toneladas de proteína bovina que os chineses compraram em até julho deste ano, 503,13 mil saíram do território brasileiro, calcula a consultoria.
A participação atual da carne bovina da Austrália no mercado chinês é de 6%, enquanto a fatia abocanhada pelos EUA não ultrapassa os 5%.
“Aceitar pagar mais caro pela proteína bovina pode significar um aumento ainda mais intenso para os índices inflacionários da China”, diz a Agrifatto.
Época de maior demanda – A necessidade de abastecimento para o Ano Novo Chinês (a partir de 1º de fevereiro) faz com que os importadores do país asiático acelerem as aquisições de proteína até novembro, visto que o tempo entre a compra da carga no Brasil e a entrega na China demora mais de 35 dias, relata a Agrifatto.
“Renunciar às compras do Brasil agora seria desafiador para os chineses”, considera a consultoria.
Segundo a Agrifatto, é possível que a China acelere a busca pela carne suína, de longe a proteína mais consumida naquele país.
Isso porque o preço da proteína está extremamente mais barato se comparado ao valor da carne vermelha.
Nos últimos meses, diz a consultoria, os criadores chineses de porcos têm liquidado o rebanho, devido aos temores de um novo avanço da peste suína africana no país, doença que devastou o plantel local nos últimos dois anos.
Diante da antecipação dos abates, o preço da proteína suína fechou o mês de agosto/21 no menor valor dos últimos 27 meses, valendo US$ 3,32/kg.
“Desta forma, a substituição da proteína bovina pela suína voltou a ser cogitada por parte da população chinesa, já que a diferença de preços, que chegou a ser de apenas 50% em julho/20, foi de 254% em agosto/21”, compara a Agrifatto.
Ainda assim, continua a consultoria, este é “um artifício que teria efeito momentâneo, visto que já é fato que a suinocultura chinesa deve sofrer outro baque produtivo em 2022 devido a esses abates antecipados”.