Dificuldade para repassar alta nos preços de reposição e alimentação animal impulsiona procura pela tecnologia em ano de aperto nas margens
Há 25 anos atuando na pecuária, o engenheiro agrônomo Luiz Antonio Venturi, 48 anos, já fazia uso das mais diversas tecnologias em seu confinamento no Mato Grosso do Sul: fábrica de ração automatizada, pesagem frequente dos animais e softwares para gerir a propriedade com mais de 3,5 cabeças de gado.
Mesmo assim, a alta nos custos de produção puxada pela valorização dos grãos e dos animais de reposição desde o ano passado não o poupou. “Com o contexto econômico, na verdade, a gente ficou cada vez mais espremido. E sempre que você está espremido, precisa ganhar eficiência”, relata o pecuarista, que desde o início deste ano passou a fazer uso de inteligência artificial para decidir o momento exato de vender seus animais.
“Com o sistema monitorado, eu tinha uma situação em que sabia até o hoje. E o beeftrader veio trazer a visão de futuro. Nós fizemos uma integração com o nosso software de gestão do trato e ele sabe o custo efetivo de cada lote para prever o crescimento de cada carcaça, otimizando o uso da carcaça”, conta Venturini ao relatar a sua experiência com o aplicativo lançado em 2019 e que monitora mais de 30 confinamentos no Brasil e no Paraguai.
A marca, segundo conta o presidente da @Tech, Tiago Albertini, tem registrado crescimento “muito significativo” no último ano, de cerca de 20% ao mês. “Não só a gente, mas todas as empresas de tecnologia do mercado estão sentindo isso de certa maneira”, comenta o executivo.
A ferramenta utiliza dados de manejo da própria fazenda e informações de mercado, como valor da arroba no mercado spot e futuro, para traçar uma curva de lucro futuro, permitindo ao produtor prever em qual momento os animais estarão prontos para serem vendidos com o máximo de retorno financeiro possível.
“Isso empodera o produtor porque a gente entrega uma informação simples: qual o melhor momento de vender. E a gente converte tudo numa curva simples, que é uma curva de lucro. E todo produtor entende o que é lucro”, observa Albertini.
Essa avaliação feita pelos algoritmos de inteligência artificial, até então, era feita visualmente pela equipe do produtor Venturi. “Mas isso tinha muito erro porque o boi que você retira na avaliação principal é o mais bem acabado, mais gordo. E justamente esse que está ganhando peso é quem deveria ficar mais tempo no confinamento”, explica o pecuarista ao citar um velho conhecido do setor, o famoso “boi ladrão”.
“É aquele boi que sempre vai ganhar pouco peso porque ele é geneticamente ruim e vai chegar ao final do confinamento dando prejuízo. Então, se a gente consegue identificar precocemente esses animais, deixa de perder dinheiro”, afirma.
Com mais de 15 mil animais confinados, Venturi ressalta que é impossível identificar o “boi ladrão” de forma visual, o que tem tornado a inteligência artificial cada vez mais relevante para a operação.
“Eu acho que não ter uma ferramenta dessas hoje em dia é uma loucura. Seria inviável. A arroba tem um teto. As pessoas não vão conseguir suportar, com a economia como está, um aumento sem fim no valor da arroba para cobrir essa alta nos custos. Então, a gente tem que ganhar eficiência conseguindo monitorar nossa atividade para sobreviver”, completa o produtor.
Fonte: Globo Rural