Participação da proteína brasileira no total de importações chinesas atinge 38% no 1º semestre de 2021, um avanço de 7 pontos percentuais sobre a fatia observada em igual período de 2020, informa o Rabobank
De janeiro a junho deste ano, o Brasil elevou em sete pontos percentuais a sua participação nas importações globais da China de carne bovina, saltando para 38%, ante 31% observado em igual período de 2020, segundo estudo divulgado nesta quarta-feira, 18 de agosto, pelo Rabobank, banco de origem holandesa.
Entre os principais fornecedores mundiais da proteína vermelha, o Brasil foi o que mais avançou em território chinês, seguido pela Argentina, cuja participação saltou de 17% para 22%, considerando o mesmo intervalo de comparação.
Chama a atenção o tombo da Austrália, que, no período de janeiro a junho de 2021, respondeu por apenas 7% das importações totais de carne bovina da China, enquanto em igual período do ano passado essa participação era de 17%.
Os Estados Unidos é outro país que vem ganhando participação no comércio de carne bovina à China, mas ainda está bem longe dos seus principais concorrentes – respondeu por apenas 5% das entregas totais entre janeiro e junho deste ano, ante 1% observado em igual período de 2020.
Terceiro maior fornecedor mundial de carne vermelha ao mercado chinês, o Uruguai registrou queda de participação este ano, recuando para 14% no primeiro semestre deste ano, frente a fatia de 21% verificada no primeiro semestre de 2020.
Dado o limitado potencial de crescimento da produção chinesa de carne bovina, nos próximos anos, as importações globais precisarão desempenhar um papel cada vez mais importante no atendimento ao crescimento da demanda pela proteína vermelha no gigante asiático, aponta o relatório do Rabobank.
“Esperamos que a China continuará importando carne bovina em ritmo constante nos próximos anos”, ressalta o banco.
Na visão dos analistas do Rabobank, os países da América do Sul continuarão a dominar as importações de carne bovina da China, favorecidos sobretudo pelos baixos custos de produção e pela ampla variedade de produtos capazes de atender a diferentes nichos do mercado chinês.
Atualmente, a carne bovina importada pela China já chega a 25% da oferta total da proteína no país asiático. “Espera-se que essa participação aumente de forma constante nos próximos anos, alcançando 30% em 2025, o equivalente a 2,7 milhões de toneladas”, estima o Rabobank.
Com uma participação de 25% das compras globais de carne bovina em 2020, a China já é a maior importadora dessa proteína no mundo, seguido pelos EUA (12,5%) e Japão (8%), aponta relatório.
Panorama interno – A peste suína africana (ASF), que causou enorme escassez de carne suína no mercado chinês em 2019 e 2020, e a pandemia de Covid-19, que trouxe mudanças importantes no estilo de vida da população local (como a rápida expansão do comércio eletrônico e, consequentemente, o crescimento do consumo de carne bovina nos lares chineses), contribuíram para o crescimento do mercado de carne bovina no país asiático.
Nos próximos anos, prevê o banco, a China fortalecerá ainda mais o seu papel de comprador dominante de carne bovina no mundo, acirrando a competição entre os países fornecedores da commodity, tanto para os cortes bovinos de menor valor agregado (mercado dominado atualmente pelo Brasil) quanto para produtos de maior valor (abastecido hoje por países como EUA, Austrália e Uruguai).
Dessa maneira, continua o Rabobank, os níveis de preços da carne bovina no mercado global tendem a subir consideravelmente nos próximos anos, aumentando a pressão sobre os países exportadores para abastecer um mercado chinês em grande transformação.
Tal tendência, diz o banco, pode contribuir para que haja mudanças nos sistemas de produção em alguns países exportadores, especialmente entre os fornecedores da América do Sul (tendo o Brasil como protagonista), visando atender à crescente demanda dos mercados de médio e alto padrão na China.
No entanto, pondera o Rabobank, ao aumentar a dependência em relação ao mercado chinês, os países fornecedores terão que conviver com maiores riscos operacionais.
O banco estima que a participação da carne bovina no consumo total da China crescerá para 9,7% em 2025 (o que significa, em valores, um acréscimo equivalente a US$ 10 bilhões), ante a fatia de 8,5% registrada em 2000 – em 2020, esse percentual chegou a ultrapassar a casa dos 10%, devido ao forte declínio da oferta de carne suína após surtos de peste suína africana no rebanho do país.
Em termos de volume, o consumo de carne bovina aumentará de 8,7 milhões de toneladas em 2020 para 9,5 milhões de toneladas em 2025, com a maior parte do crescimento adicional provenientes de importações.
Segundo o banco, o crescimento do consumo de carne bovina será impulsionado pelo mercado de varejo, que atende às necessidades de uma ampla variedade de segmentos.
Mercado bilionário – Atualmente, relata o Rabobank, o mercado de carne bovina da China movimenta algo em torno de US$ 110 bilhões ao ano. Depois da carne de porco, o frango é a segunda maior proteína animal consumida na China, quase três vezes o consumo de carne bovina, em termos de volume. No entanto, o valor de mercado da carne bovina é 30% superior ao da ave, compara o banco.
Olhando para trás, os preços da carne bovina passaram por diversos estágios, impulsionados pela evolução da relação oferta/demanda.
Primeiramente, as cotações da proteína vermelha sofreram uma escalada durante os anos de 2012 e 2013, impulsionados por problemas de abastecimento. Em seguida, outra escalada foi registrada em 2019, refletindo a enorme escassez de carne suína registrada depois do avanço da peste suína africana.
No início de 2021, a queda dos preços da carne suína se acelerou, principalmente a partir de fevereiro – sofreu baixa de 50% no período de quatro meses.
Em contrapartida, em igual período, os preços da carne bovina recuaram apenas ligeiramente (baixa de 5%). “Isso sugere que o novo patamar de preço da carne bovina foi aceito pelos consumidores chineses”, observa o banco.
Segundo o banco, nos próximos anos, a maioria das importações chinesas de carne bovina continuará sendo de cortes de baixo a médio valor. Porém, a parcela de cortes premium provavelmente crescerá mais rápido, visando atender à forte demanda de consumidores de classe média e alta. Isso indica que o valor médio das importações de carne bovina continuará a aumentar nos próximos anos.
Na avaliação do banco, o Brasil e os países vizinhos da América do Sul têm mudado os seus sistemas de produção para produzir mais carne bovina de animais alimentados com grãos, visando ocupar o valoroso e crescente mercado chinês de carne de alta qualidade.
Fonte: Portal DBO