Mundo teme início de era dos extremos climáticos

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Enquanto os paquistaneses calculam os prejuízos causados por uma das piores enchentes que já ocorreram no país, o sudoeste da China registrava chuvas intensas e a cidade americana de Dallas, no Texas, começava a tentar se recuperar da enxurrada de 254 milímetros que ocorreu em um só dia no mês passado. Cada uma dessas catástrofes seguiu-se a uma onda de calor, o que sugere que o tempo nessas regiões tem oscilado violentamente entre dois extremos opostos. Mas o calor extremo e as chuvas extremas estão estreitamente ligadas e estão sendo alimentadas pela mudança climática, dizem cientistas.

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Altas temperaturas no Sudeste Asiático durante a primavera, superiores a 50°C, provavelmente aqueceram o oceano Índico. Essa água aquecida teria estimulado o que o secretário geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Antonio Guterres, chamou na semana passada de “monções movidas a esteroides” sobre o Paquistão que despejaram um volume de chuvas mais de três vezes superior à média para um mês de agosto dos últimos 30 anos e inundaram um terço do país.

Mais de mil pessoas morreram, safras se perderam e casas foram destruídas. Serão necessárias semanas, se não meses, para avaliar qual foi exatamente o papel das mudanças climáticas nas enchentes deste ano, mas os cientistas concordam que elas estão intensificando os extremos.

As ondas de calor estão mais frequentes e intensas no mundo inteiro, o que aumenta a evaporação das águas. Como a temperatura atmosférica elevada tem capacidade também de reter mais umidade, o vapor d’água se acumula até as nuvens acabarem se dissipando e despejando chuvas mais intensas. “Os mesmos lugares podem experimentar tanto enchentes quanto seca quando o tempo fica mais quente”, disse a cientista climática Deepti Singh, da Universidade Estadual de Washington.

A área em torno de Dallas enfrentou três meses de seca aguda, e mais de metade do Texas sofreu com estiagem extrema. As plantações de algodão murchavam nos campos, e criadores foram obrigados a sacrificar boa parte de seu gado por falta de ração. Os solos endureceram e racharam, formando um ressecado tabuleiro de jogo de damas em toda a paisagem o cenário perfeito para enchentes relâmpago.

Voltou a chover no dia 21 de agosto, quando caíram 254 milímetros em um intervalo de 24 horas. No entanto, o solo estava duro demais para absorver a enxurrada, o que fez com que boa parte da água invadisse a cidade.

A inundação paralisou o trânsito interestadual, exigiu cancelamento de voos e inundou residências da área histórica do Velho Oeste de Dallas. Em uma região castigada pela seca, “a reação do solo é praticamente a mesma do concreto em um ambiente urbano”, disse a cientista climática Liz Stephens, da Universidade de Reading, no Reino Unido.

Ao contrário das enchentes, que ocorrem quando os rios transbordam, as enchentes-relâmpago são desencadeadas por chuvas intensas em um curto período de tempo normalmente menos de seis horas, o que deixa pouca margem de ação antes de a água se transformar em uma torrente caudalosa. É nos núcleos urbanos que elas representam o maior risco.

Mas as enchentes-relâmpago também atingem cânions nos desertos nos Estados de Utah e do Arizona, nos EUA, o que ameaça os participantes de caminhadas turísticas. Houve quatro outras enchentes-relâmpago relevantes nos Estados Unidos desde julho em Kentucky, Illinois, no Vale da Morte da Califórnia e na cidade de St. Louis, no Estado de Missouri. Em cada uma delas, a volume de chuvas foi considerado um evento que ocorre apenas uma vez a cada mil anos, segundo dados históricos. Não se sabe se esses episódios ficarão mais frequentes caso o planeta continue se aquecendo.

Afetada pela seca no verão (que no Hemisfério Norte vai de junho a setembro), a Bacia do Rio Yangtzé, na China, enfrenta problemas com a escassez de energia elétrica e água. Desesperadas com a escassez de chuvas, algumas províncias que integram a bacia começaram a mandar aviões aos céus para “bombardear” as nuvens com iodeto de prata o material faz as nuvens se dissiparem em chuvas.

Mas, com a chegada, agora, das chuvas do fim do verão, a maior preocupação das autoridades passou a ser a água em excesso. Na semana passada, a China precisou evacuar mais de 119 mil pessoas de áreas do sudoeste do país por risco de inundações, de acordo com a mídia estatal.

Os eventos climáticos recentes no Hemisfério Norte também podem estar ligados ao fenômeno conhecido como “jato polar”, uma corrente de ar de fluxo acelerado que desloca sistemas climáticos de uma parte do mundo para outra. Mas os cientistas descobriram que o aquecimento do planeta e desequilíbrios recentes na circulação de ar podem estar aumentando a ocorrência simultânea de extremos climáticos.

O distúrbio da corrente de jato ainda é objeto de intensa pesquisa. No entanto, um estudo recente sugeriu que esses fatores, associados, tornaram sete vezes mais provável a ocorrência simultânea de ondas de calor no Hemisfério Norte do que 40 anos atrás, segundo a pesquisa, publicada em janeiro no “Journal of Climate”. 

Fonte: Valor Econômico

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