Mastite subclínica e o seu impacto silencioso nas fazendas leiteiras

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A mastite subclínica impacta desde a produção de leite até questões relacionadas à reprodução de vacas leiteiras. Controlar e prevenir o problema é essencial

Não é só por meio da literatura e livros que é possível constatar que a mastite subclínica (MSC) impacta negativamente em vários aspectos nas fazendas leiteiras. A própria prática prova isso, ainda mais, quando o produtor é adepto e utiliza os dados, índices zootécnicos e outras ferramentas como aliados na rotina e na resolução de conflitos.

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Vale lembrar que a MSC é prevalente entre os quadros de mastite nas fazendas, de 90 a 95% dos casos, e os agentes causadores podem ser divididos em contagiosos e ambientais.

Segundo banco de dados da OnFarm, uma em cada três vacas com MSC apresentam um patógeno contagioso e eles têm grande importância na ocorrência da doença. Por via de curiosidade, informações extraídas de 1178 rebanhos de OnFarmers (produtores que utilizam o sistema OnFarm de cultura na fazenda) apontam que os patógenos contagiosos representam 34% dos casos positivos de MSC. É interessante destacar que esses produtores estão distribuídos em 20 estados brasileiros e o número de amostras de MSC analisadas totalizou 50 mil.

Em um quadro de MSC, as células somáticas, que são compostas por leucócitos, migram do sangue ao úbere para auxiliar no combate da infecção, situação que permite que a sua contagem (CCS) seja ponto-chave no monitoramento do processo inflamatório da glândula mamária.

Alta CCS e perdas na produção de leite  Em um experimento realizado nos Estados Unidos a redução na produção de leite na lactação total foi de 155 kg para primíparas e 455 kg para multíparas. Vale pontuar que uma pior saúde do úbere é esperada em multíparas no decorrer da lactação e isso ocorre pela exposição prévia aos patógenos causadores de mastite que podem resultar em danos permanentes na glândula mamária das vacas. Isso faz com que as perdas de produção também sejam sentidas nas lactações seguintes, comprometendo a produção total dos animais.

Hand e colaboradores (2012) ao estudarem 2.835 rebanhos observaram que quanto maior era a contagem de células somáticas dos animais, maior era a perda de produção de leite. Vacas primíparas com CCS individual de 200 mil cél/mL deixaram de produzir 1,8% de leite/dia e vacas multíparas com a mesma contagem de células somáticas deixaram de produzir 2,5% de leite/dia. Já as vacas primíparas e multíparas com CCS individual de 2 milhões cél/mL deixaram de produzir 7,6 e 10,9% de leite/dia, respectivamente.

Além da perda na produção de leite, os prejuízos advém do risco da evolução da mastite subclínica para quadros clínicos; comprometimento permanente do tecido mamário; penalidades sofridas no pagamento do leite; descarte prematuro de vacas; despesas com médico veterinário e tratamentos, entre outros.

A forma e a frequência de realização e a organização dos dados provenientes da CCS e do California Mastitis Test (CMT) são fundamentais para gerar informações úteis aos técnicos e proprietários no intuito de inferir sobre a real situação da fazenda. Esses dados, de acordo com o Índice Ideagri de Leite Brasileiro (IILB), referência sobre qualidade e eficiência produtiva da pecuária leiteira nacional, por consequência, podem auxiliar na correta tomada de decisão e na resolução dos problemas, eventualmente, enfrentados.

Impacto na reprodução das vacas leiteiras 

Como a infecção estimula o sistema imunológico da vaca, a doença também acaba acarretando em piora no desempenho reprodutivo e são inúmeros os estudos que observaram que em comparação com vacas não infectadas a probabilidade de concepção das fêmeas foi reduzida quando as mesmas foram diagnosticadas com MSC, principalmente quando os casos são crônicos.

Já foi demonstrado por exemplo que a elevação de CCS antes e depois da inseminação artificial (IA) está associada à piora no desempenho reprodutivo e a probabilidade da IA resultar em prenhez pode ser reduzida em 18% em vacas com CCS entre 200.000 e 399.000 células/ml. Essa probabilidade de prenhez é reduzida mais ainda em quase 26% quando a CCS supera 399.000 células/ml. Isso comprova que a intensidade da inflamação está associada a maior redução da fertilidade.

Os mecanismos pelos quais a mastite subclínica pode afetar a fertilidade de vacas leiteiras ainda não estão bem elucidados. Entre os possíveis fatores são descritos: falha na ovulação e menor produção de estradiol, menor manifestação de estro, maior produção de prostaglandina (PGF2α), aumento da temperatura corporal e liberação de moléculas que podem afetar o óvulo e o embrião.

Foi possível concluir em uma outra pesquisa que os agentes causadores de mastite e a alta CCS exercem efeito deletério sobre a fertilidade de vacas leiteiras receptoras de embrião. Diferente de outros trabalhos, neste, a MSC foi avaliada também com base no isolamento dos patógenos por meio da cultura microbiológica, assim a presença das bactérias causadoras de MSC reduziu a prenhez por transferência de embrião (P/TE).

Animais com isolamento positivo de agentes causadores de mastite tiveram menor prenhez por transferência de embrião aos 31 e aos 66 dias em relação ao controle. O presente estudo mostrou também que a CCS alta também tem impacto negativo sobre a fertilidade, pois as vacas que apresentaram CCS maior que 400.000 céls./ml tiveram a P/TE reduzida em 25,5%.

Cultura microbiológica na fazenda 

A cultura microbiológica na fazenda pode ser uma grande aliada no combate e controle da mastite na fazenda, pois ela é capaz de identificar as fontes de infecção das bactérias e selecionar as vacas que realmente necessitam de tratamento. Um dos intuitos da cultura é fazer com que as bactérias responsáveis pela MSC não passem despercebidas, não sirvam de veículo e não comprometam os animais saudáveis.

Para o melhor entendimento do potencial problema das bactérias causadoras de mastite subclínica é recomendado o exame de cultura microbiológica do leite em animais que apresentarem CCS > 200 mil células/ml, e de todos novos casos de infecções subclínicas (CCS <200 mil na análise anterior e > 200 mil na análise atual), dos animais pós-parto (principalmente novilhas) e de mastite clínica.

De acordo com informações da OnFarm, quanto aos benefícios da cultura, vários projetos sobre a avaliação da tecnologia apontam para uma relação custo-benefício de acima de 1:5; ou seja, a cada R$1,00 investido na tecnologia, o retorno é de R$5,00. Considerando que o aumento da CCS acarreta em grandes prejuízos ao produtor de leite e à indústria láctea, a cultura se torna uma ferramenta indispensável para a produção leiteira (ainda mais que hoje há opções para que o pecuarista adote um sistema de cultura com zero de investimentos em estrutura ou equipamentos).

São pelos motivos apresentados nesse texto que fica evidente a importância da adoção de estratégias para o monitoramento e controle da mastite subclínica no rebanho. Os prejuízos acarretados pela doença podem ser substanciais e irreversíveis, fato que deve direcionar ainda mais os produtores para o caminho da prevenção. 

Fonte: Assis Comunicações

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