Segundo o Sindiveg, receita deverá alcançar US$ 12 bilhões em 2020, 12% menos que no ano passado
A alta volatilidade do dólar ante o real deixou reflexos no mercado brasileiro de agrotóxicos em 2020, conforme aponta levantamento encomendado pelo Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg) à consultoria Spark. De janeiro a dezembro, a estimativa é que, em dólares, a receita das vendas dos produtos aplicados nas diferentes lavouras some US$ 11,994 bilhões, 11,8% menos que os US$ 13,603 bilhões do ano passado.
Em reais, considerando um dólar médio anual projetado em R$ 5,16 pela Spark, o mercado ainda deve se aproximar de R$ 62 bilhões. Em 2019, com o dólar cotado a R$3,94, em média, o faturamento do segmento foi de R$ 53,6 bilhões. Assim, enquanto o dólar subiu 31% na esteira da pandemia, o mercado de agrotóxicos cresceu não mais do que 15,5%.
Julio Borges Garcia, presidente do Sindiveg, destacou que a intensa desvalorização do real frente à divisa americana desafiou a indústria de defensivos agrícolas. Dependente de importações de matérias-primas, ela será obrigada a absorver parte do seu aumento de custos. “Devido à grande variação cambial, não foi possível fazer o repasse integral [ao produtor]”, disse ele, em nota.
A área tratada com os produtos, de qualquer forma, deverá ser 6,5% maior em 2020 do que foi no ano passado e chegar a 1,664 bilhão de hectares. O resultado é puxado pela ampliação do plantio da soja (3,4%), do milho (4%) e do algodão (3%) e pela pressão de pragas, doenças e ervas daninhas, que tornam indispensáveis no manejo.
Matheus Almeida, analista do Rabobank, ainda projeta que esse aumento de área possa contrabalançar a queda nos preços dos produtos em dólar, resultado de estoques mais fartos no início de 2020 e da queda dos preços internacionais no primeiro semestre. Por essa razão, na semana passada, o Rabobank projetou um mercado estável para 2020, ao redor de US$ 13,7 bilhões.
Nas projeções da consultoria Kleffmann Group para a safra 2019/20 das principais culturas do país que incluem de soja, milho e algodão a batata e tomate, o mercado de defensivos deverá crescer 2,7% em relação à temporada 2018/19, para US$ 11,8bilhões. Millôr Mondini, diretor de pesquisa da consultoria, pondera que a escalada do dólar só será sentida pelos produtores que precisaram fechar negócio depois do início da pandemia de covid-19, e que os efeitos do avanço do dólar devem ficar patentes no balanço da safra 2020/21.
“Na safra 2019/20, o trigo, que é plantado entre abril e maio, já pegou uma elevação mais drástica do dólar tanto no pré-plantio como durante o ciclo, e seu mercado tem espaço para cair de US$ 200,5 milhões para a casa de US$ 180 milhões”, exemplificou.
Como o cenário de vendas de defensivos já estava consolidado para culturas de maior relevância – como a soja, que cresceu 3,2% na última safra, chegando a US$ 6,2 bilhões, segundo os dados da Kleffmann Group, e o milho safrinha, cujo crescimento foi de6,6%, para US$ 1,6 bilhões -, ficou difícil observar os efeitos do câmbio já em 2019/20.“O mercado vinha embalado pelo aumento da área de grãos, pela adoção de inseticidas de maior valor agregado e investimentos em tratamentos de sementes, mas, sem dúvida sofrerá um revés com um dólar na casa de R$ 5, difícil de repassar ”,diz Mondini.
Fonte: Valor Econômico