O caminho que a demanda da China vem fazendo diante de uma oferta tão apertada atualmente vem ganhando ainda mais espaço nas análises de consultores e analistas nacionais e internacionais. Apesar dos movimentos de washout que tem sido registrados na nação asiática, traders afirmam que o crescimento do consumo segue forte e ainda tem espaço para continuar.
Em entrevista à Bloomberg, o CEO da Cargill, Dave MacLennan afirmou que as compras chinesas fortes ainda têm “pelo menos mais alguins trimestres pela frente” para que o país tenha estoques suficientes de soja e milho. Mais do que isso, acredita ainda que os preços terão que subir ainda mais para, de fato, conseguirem conter o ímpeto do consumo.
MacLennan afirma que isso se dá diante de um percentual já muito elevado da soja norte-americana comprometida com a exportação – de 60,7 milhões de toneladas estimadas para serem exportadas, quase 59 milhões já foram vendidas – e as vendas de milho dos EUA para a China já também registram volumes recordes. Somente na última semana, as vendas semanais do cereal para exportação norte-americanas foram de mais de 7,4 milhões de toneladas, e o principal destino foi o país asiático.
“A mais antiga ‘cura’ para preços altos são preços ainda mais altos, ainda não chegamos lá e os chineses continuam sendo fortes compradores”, disse o CEO da Cargill.
Ao lado do interesse comprador, há também o interesse vendedor, já que nos EUA os lucros garantidos com as exportações de soja pelo Golfo do México, em 2020, registraram seus mais elevados patamares desde 2016. O mesmo se dá no Brasil, com os preços da oleaginosa e do milho em níveis historicamente elevados, e ainda sendo beneficiados – ao lado dos bons preços em Chicago – pelo dólar alto frente ao real, mantendo-se acima dos R$ 5,40 nesta semana.
OFERTA
E no mercado brasileiro, as condições da oferta se agravam diante também de um elevado índice de comercialização já realizada – mais de 60% – o que garante perto de 40% apenas da nova safra a ser vendida. E este volume deverá ser acirradamente disputado entre exportações e demanda interna, já que o processamento da oleaginosa internamente também vem crescendo ano a ano.
Além das vendas antecipadas já muito adiantadas, a safra brasileiras inspirou uma série de incertezas desde o plantio. Os trabalhos de campo sofreram com adversidades climáticas no início da temporada e, mesmo que pontualmente, são registrados agora também durante a colheita, que já se mostra atrasada e com os primeiros volumes disponíveis com perda de qualidade dos grãos.
“O fato é que a colheita está andando e o grão que tem saído dos campos está com qualidade baixa e a maior parte não consegue dar padrão de exportação. Assim, as ofertas seguem escassas, mantendo fôlego
positivo dos preços, com apoio do dólar. Ainda assim, o mercado não conta com muitos vendedores, já que eles continuam esperando mais pela soja”, explica Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting.
Do lado dos compradores, ainda como relata o consultor, também há certa cautela e espera, já que há muitos contratos para começarem a ser cumpridos. “Os grandes compradores dão sinais de que vão esperar receber a soja para depois negociar novos volumes. Assim, neste momento, temos uma calmaria no mercado”, diz.
Para a consultoria, a safra brasileira deverá ficar entre 127 e 133 milhões de toneladas. “Os números vão seguir flutuando, mas vem uma grande safra pela frente”, acredita Brandalizze. Ao mesmo tempo, a Datagro revisou sua estimativa para cima e agora projeta a safra 2020/21 do Brasil em 135,87 milhões de toneladas. “Em caso de confirmação, esse volume será 6,9% superior aos 127,15 milhões de toneladas da safra recorde colhida em 2020”, afirma a consultoria.
Assim, há expectativas também no mercado de que o USDA, em seu novo boletim mensal de oferta e demanda que chega no dia 9 de dezembro, traga revisões em suas estimativas para a safra brasileira. E o sentimento de especialistas ouvidos pelas S&P Global Platts é de que o número de 133 milhões de toneladas – que não é alterado desde setembro – seja corrigido para cima diante da melhora das chuvas no início de 2021.
WASHOUTS DA CHINA
Enquanto a oferta do Brasil ainda segue bastante escassa, bem como a dos Estados Unidos vai se limitando a cada semana que passa, as margens de processamento da soja foram se ajsutando na China diante dos altos preços da oleaginosa, incentivando movimentos de washout pela nação asiática no destino, como informou ao Notícias Agrícolas a Agrinvest Commodities.
de acordo com o portal internacional AgriCensus, entre quatro e cinco cargos de soja brasileira para embarques entre fevereiro e março passaram por este movimento nos últimos dias. O mesmo se deu também com três cargos de óleo de palma e um de óleo de soja.
“As margens destes cargos não estavam boas. O mercado está bem baixista para os óleos vegetais agora”, disse um analista ao AgriCensus direto da China. “Além disso, os embarques no Brasil estão bastante lentos, ao lado das margens que já não estão boas”.
WASHOUTS PONTUAIS X DEMANDA A LONGO PRAZO
Ao lado de margens apertadas e da falta de oferta ainda disponível no Brasil, a China se prepara para o feriado do Ano Novo Lunar, o mais longo e um dos mais importantes do país, o que também traz uma pausa gradual nas atividades da indústria processadora. Algumas delas, inclusive, só voltarão a operar em março.
O momento deu espaço para algumas notícias de que a demanda chinesa estaria um pouco mais lenta, ao menos neste momento, todavia as expectativas de que o consumo chinês segue crescendo de forma muito intensa e consistente, como reafirmou o CEO da Cargill.
Dessa forma, o que se espera, portanto, é que as compras chinesas – que já foram muito intensas nos últimos meses – voltem a se acelerar nos próximos meses. A imagem abaixo, desta sexta-feira (5), mostra alguns poucos navios de soja saindo do Brasil com destino à nação asiática.
“Mas, o line-up entre fevereiro e março está bastante cheio e já há navios esperando para embarcar nos portos. Estas águas não ficarão sem soja em trânsito por muito tempo”, diz a analista internacional de commodities da Reuters, Karen Braun. O lineup para fevereiro já está próximo de 11 milhões de toneladas.
A Pátria Agronegócios trouxe a apuração de duas imagens que mostram o fluxo de navios graneleiros saindo da China com destino Brasil e Estados Unidos e a diferença é bastante clara:
Os chineses estão chegando em peso para carregar soja no Brasil entre fevereiro e março”, explica Matheus Pereira, diretor da consultoria. “A demanda está sendo represada. A soja disponível nos próximos dias, próximas semanas, irá ganhar prêmio”, complementa.
Fonte: Noticias Agrícolas