Quase abandonada por mais de 10 anos, ela retorna com mais qualidade aos confinamentos como alternativa vantajosa em tempo de milho e subprodutos caros
Após destacar-se como protagonista em dietas de terminação no início dos anos 2.000 e perder fôlego na década seguinte, a silagem de cana-de-açúcar está voltando à cena, principalmente em grandes projetos de engorda, nas regiões canavieiras de São Paulo, Minas Gerais e Paraná. Segundo Rafael Cervieri, sócio da Nutribeef, consultoria de Botucatu, SP, que atende 30 confinamentos responsáveis pela engorda anual de 300.000 cabeças, a silagem de cana tem conquistado novos adeptos nos últimos três anos.
“Em 2020, 25% de nossos clientes usaram esse volumoso, um percentual recorde, que deve aumentar neste ano, porque o milho caro e a escassez de subprodutos está obrigando os produtores a reajustar as dietas dos animais”, explica.
Nas três primeiras pesquisas que Danilo Millen, professor da Unesp Dracena, fez com nutricionistas brasileiros (2009, 2011 e 2015), sequer houve menção à silagem de cana, mas ela apareceu no último levantamento (2020), embora em percentual ainda baixo (3% a 5% dos entrevistados). Para Millen, não é possível falar em “tendência” de emprego desse insumo, mas sua menção na pesquisa indica no mínimo “uso de oportunidade”.
Na gangorra da nutrição animal, principalmente na engorda intensiva, alguns volumosos sobem e outros descem ao longo dos anos. Com exceção da silagem de milho, que é unanimidade entre os nutricionistas (70% dos entrevistados por Millen em 2020 trabalham com esse volumoso), o emprego das demais fontes de fibra depende de peculiaridades regionais e análises de “custo-oportunidade”.
Foi assim com a silagem de cana. Hoje “repaginada” (com maior padrão de qualidade em relação à “versão anos 2000”), ela tornou-se um coringa nas dietas de alto concentrado, substituindo volumosos como o bagaço cru, que está muito caro. Mesmo confinamentos de usinas, que têm este insumo à disposição, passaram a usar silagem de cana. São muitos os atrativos do volumoso: pouca variabilidade entre partidas; ótima aceitação pelo gado; boa aderência à mistura; elevado teor de fibra efetiva, o que permite adensar a dieta sem riscos de acidose; e altíssima produtividade (70 a 90 t/ha), característica que lhe confere custo atrativo.
Nas regiões canavieiras, onde o milho não entra no sistema de produção (usa-se amendoim ou soja na reforma dos canaviais), os confinadores têm se mantido fiéis ao volumoso e há quem tenha se especializado em sua produção para venda a terceiros.
Fonte: Portal DBO