Dólar favorável estimula comercialização mais antecipada do que o habitual.
Com quase metade da próxima safra vendida, os produtores de Mato Grosso já começaram a comercializar a soja que será colhida em 2022. As primeiras negociações foram confirmadas na semana passada pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). A antecipação é puxada pelo câmbio vantajoso e reflete o bom momento do grão no Estado, que teve colheita recorde neste ano e preços acima de R$ 100 para a saca disponível em julho.
Os contratos antecipados são fechados, geralmente, a partir de dezembro. A precocidade das negociações para a safra 2021/2022 surpreende quem acompanha o setor. A comercialização ocorre 15 meses antes do plantio e 18 meses antes da colheita do grão. “Não é tão comum vender tão adiantado. Nessa velocidade, quantidade e montante nunca vimos antes no Estado”, disse Marcel Durigon, responsável pela área de agricultura do Imea.
O dólar acima de R$ 5 é um item determinante. A valorização da moeda levou o preço da saca de soja disponível a ultrapassar os R$ 100 neste mês, patamar inédito para o produtor mato-grossense. Mas restam poucos grãos para pronta entrega. Quase 96% da safra colhida esse ano já foi vendida.
Durigon diz que a antecipação também é influenciada por um conjunto de fatores, como as exportações em alta, facilitadas por incrementos na logística para envios pelo Arco Norte e impulsionadas por quebra de safra nos EUA e problemas de escoamento na Argentina.
Matéria Prima
“O mercado quer se antecipar para ter segurança sobre a matéria-prima e o ano foi bom para o produtor, já que a valorização do dólar ajudou nos preços. Fica bom para o agricultor e para o comprador”, relata o especialista.
As dúvidas sobre a relação comercial entre EUA e China e uma possível, mesmo que improvável o conflito entre os dois países até se acentuou na última semana queda acentuada nas compras da oleaginosa brasileira pelos chineses em detrimento da americana também pesam na decisão dos mato-grossenses. Os negócios fechados para 2022 até agora são majoritariamente para exportação. “O produtor não sabe o que vai acontecer com o mundo, para ele é importante se puder fixar preço bom”, acrescenta Durigon.
O Imea ainda não tem um balanço do volume negociado, mas diz que as principais tradings e muitas revendas já fecharam contratos em algumas regiões do Estado, responsável por cerca de 10% da produção mundial de soja.
Exportação
Fonte do setor exportador diz que a comercialização para 2022 ainda é tímida, com cerca de 1 milhão de toneladas de soja ou 3% do volume previsto. Já a negociação para a colheita de 2021 segue avançada. Entre 50 e 55 milhões de toneladas já foram vendidas para as tradings em todo o país. No caso do milho, o número gira em torno de 13 a 17 milhões de toneladas.
Os preços não foram revelados, mas Durigon garante que eles não se distanciam dos valores negociados para o ciclo que terá início em outubro. Em junho, a saca de 60 quilos da soja foi travada a R$ 89 em Mato Grosso para 2021. Mais de 47% da safra 2020/21 já foi negociada, outro recorde. “Mais que o dobro do volume negociado em julho de 2019 e da média dos últimos cinco anos”, revela o Imea.
O cenário se repete no milho, puxado mais pelas exportações do que pela demanda das usinas de etanol para 2022, segundo o vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Glauber Silveira. “O produtor está aproveitando a alta do dólar e negociando para travar os custos a longo prazo”, afirmou o dirigente.
De acordo com o Imea, mais de 87% da safra do cereal que está sendo colhida já foi vendida. Para 2020/21, os negócios começaram em fevereiro e já atingiram 40% este mês, bem acima dos 26% registrado em julho do ano passado.
Fonte : Valor Econômico