A demanda por lácteos se enfraqueceu durante a segunda quinzena de julho, desestimulada pelos altos preços nas gôndolas
O preço do leite captado em junho/22 e pago aos produtores em julho/22 avançou 19,1% frente ao mês anterior, chegando a R$ 3,1932/litro na “Média Brasil” líquida do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. Este valor é recorde real da série histórica do Cepea, iniciada em 2004, e está 24,7% acima da média registrada no mesmo período do ano passado. Com esta sexta alta mensal consecutiva, o leite no campo acumula valorização real de 42,7% desde janeiro (valores deflacionados pelo IPCA de junho/22).
Este expressivo aumento se explica pela menor oferta de leite no campo em junho e pela maior disputa das indústrias de laticínios pela compra da matéria-prima para a produção de lácteos, para tentar evitar capacidade ociosa de suas plantas. Segundo pesquisa do Cepea, o leite spot se valorizou 20,8% da primeira para a segunda quinzena de junho, chegando a R$ 4,16/litro. A média mensal, de R$ 3,80/litro, ficou 26,2% maior que a registrada em maio. Diante do aumento no custo da matéria-prima e com estoques baixos, os preços dos derivados lácteos dispararam em junho.
A diminuição da produção de leite no campo e, consequentemente, a redução dos estoques de lácteos no último mês está relacionada ao avanço do período de entressafra em um contexto de redução de investimentos na atividade.
O aumento dos preços dos insumos agropecuários tem elevado consideravelmente os custos de produção desde 2019, pressionando as margens dos produtores por muitos meses. Nesse cenário, muitos pecuaristas enxugaram investimentos ou saíram da atividade. Desse modo, o potencial de oferta já vem em retração há algum tempo. Contudo, a restrição da produção ficou mais intensa com o avanço da entressafra em junho. Sazonalmente, espera-se que a produção de leite se reduza devido ao inverno e ao clima mais seco, que diminuem a qualidade e a disponibilidade das pastagens, prejudicando, assim, a alimentação do rebanho. E é preciso destacar que, neste ano, o fenômeno climático La Niña também intensificou os efeitos sazonais de diminuição da oferta.
PERSPECTIVA – Colaboradores consultados pelo Cepea afirmam que a demanda por lácteos se enfraqueceu durante a segunda quinzena de julho, desestimulada pelos altos preços nas gôndolas. Isso tem pressionado as cotações dos lácteos e do leite spot, indicando que o pico de preços ao longo da cadeia produtiva já pode ter sido atingido. Do ponto de vista da sazonalidade, a produção só deve ser incentivada com o retorno das chuvas da primavera, em setembro. Contudo, desde maio, os custos de produção têm aumentado menos do que em meses anteriores. E, apesar de os custos com as operações mecânicas seguirem em alta devido à valorização dos combustíveis, a queda nas cotações do milho tem favorecido a atividade o que pode beneficiar a retomada de investimento e a recuperação mais rápida da produção.
Fonte: Cepea