Prévia da inflação oficial do país, IPCA-15 mostrou queda de 2,50% no longa vida. Especialistas apontam três fatores para a situação
O leite longa vida apresentou uma das maiores quedas no segmento alimentação e bebidas, de acordo com o IPCA-15, a prévia do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial de inflação do país. A baixa nos preços do UHT, de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi de 2,5% entre os dias 16 de junho e 15 de julho, período de coleta dos dados.
Por que o leite ficou mais barato para o consumidor? Natália Grigol, especialista do Cepea Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), explica que o consumo está enfraquecido e as importações aumentaram. A oferta do produto ficou maior, mesmo em período de entressafra, levando a uma pressão sobre os preços.
“O consumo de lácteos segue reduzido em função do menor poder de compra da população, pressionando os preços para baixo”, afirma. “Já o aumento das importações de lácteos no primeiro semestre de 2023 é um fator importante nesse contexto porque, além de o volume estar quase três vezes acima do registrado no ano passado, os preços negociados seguem mais competitivos em relação aos nacionais, o que pressiona as cotações domésticas”, acrescenta.
Dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Secex/MDIC) compilados pelo Cepea mostram que, em junho, as importações somaram mais de 212,1 milhões de litros, elevando o déficit da balança comercial a patamares recordes.
A quantidade importada no primeiro semestre de 2023 representa aproximadamente 9,5% da captação formal de leite cru (tendo como base os dados da Pesquisa Trimestral do Leite do IBGE de 2022). No mesmo período do ano passado, as importações representaram apenas 3,2% da captação nacional.
Natália Grigol menciona ainda um terceiro fator de redução nos preços do leite ao longo da cadeia produtiva, que refletiu nos preços do longa vda ao condumidor: os custos de produção estão em queda, influenciados sobretudo pela desvalorização do concentrado, dos adubos e corretivos de pastagem.
A pesquisa do Cepea mostra que, em junho, o Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira caiu 1,7% na “Média Brasil”. O poder de compra do pecuarista frente ao milho melhorou 17,4% de abril para maio e 34,5% na comparação anual. “Esse contexto de menor custo incentivou investimentos na produção, e levou a oferta de leite a se recuperar mesmo na entressafra e, por sua vez, pressionar preços de venda”, diz a especialista do Cepea.
Natália Grigol ressalta, no entanto, que esse comportamento dos preços é atípico para esta época do ano. “Diante desse cenário, mesmo se tratando de uma época típica de entressafra no Sudeste e no Centro-Oeste, em que a produção não é estimulada pelo clima (uma vez que o inverno seco limita a disponibilidade e qualidade das pastagens, afetando os custos do manejo alimentar do rebanho), os preços não têm seguido a tendência sazonal de alta”, comenta.
Fonte: Globo Rural