Nos últimos anos, temos observado algumas mudanças na cadeia láctea, que podem ter grandes impactos na geografia do leite brasileiro num futuro próximo.
Uma delas é a concentração da produção de leite em regiões específicas que, em função de diferentes características do ambiente de produção, de negócios e de mercado, crescem num ritmo mais acelerado do que outras regiões. Alguns chamam este fenômeno de clusterização da produção de leite no Brasil ou seja, estamos assistindo à formação de clusters (regiões de concentração) de produção de leite.
Figura 1. Produção de leite (1.000 Litros) – 2021.
Fonte: CILEITE, a partir de dados do IBGE.
Apesar de 99% dos municípios brasileiros produzirem leite, a produção tende a se concentrar em alguns clusters de produção. Temos alguns já bem definidos e conhecidos, como o Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba junto ao Sul de Goiás, ou o Sul de Minas e Zona da Mata Mineira.
Outros têm chamado bastante atenção nos últimos anos pelo forte crescimento e tecnificação, como o caso do Centro Oriental do Paraná e da união entre as mesorregiões Noroeste do Rio Grande do Sul, Oeste de Santa Catarina, Sudoeste e Oeste do Paraná — ambos, crescendo a cerca de 5% ao ano.
Há também outras regiões que tendem a concentrar a produção de leite, como a Região Oeste e Central de Minas Gerais e o Centro Goiano. Importante também destacar o crescimento na região Nordeste, tomando como exemplo o Agreste Pernambucano, que cresce num ritmo interessante em uma região com alta demanda.
Este movimento de clusterização tem alguns impactos para a cadeia, dentre eles:
- Há a vantagem logística, que se dá tanto pela maior facilidade de captação de leite pelos laticínios, quanto pela melhor distribuição/disponibilidade de insumos e diminuição dos custos de frete destes;
- Há também um benefício dos serviços, já que as empresas conseguem direcionar os serviços/assistência ao produtor em áreas mais específicas (ao invés de 99% dos municípios brasileiros) e o produtor consegue estes de forma mais acessível, além da maior gama destas comodidades;
- A mão de obra tende a ser mais qualificada nestas regiões;
- Tem-se um peso político maior, já que, pela concentração da atividade econômica na região, há a tendência da criação de mais políticas públicas para tal;
- Por fim, do lado da captação de leite – que também se enquadra na logística – o produtor tem uma grande vantagem de competitividade na venda de sua matéria-prima, já que mais empresas estarão em busca do leite naquela região.
Além destes, temos o fator de competitividade entre as empresas: seja do lado da indústria, que terá de competir com mais empresas na aquisição de matéria-prima, contratação de mão de obra e desempenho em logística na venda de produtos lácteos, quanto do lado das empresas de insumos, que terão uma competitividade maior no fornecimento de serviços e produtos para os produtores.
Portanto, o movimento de clusterização e seus impactos têm de ser analisados pelos envolvidos, sejam os produtores, as empresas de insumos, a indústria, as entidades governamentais, entre outros. E para isto, ter informações estratégicas sobre seu cliente ou fornecedor, sobre seus concorrentes e sobre a região onde atua ou pretende atuar, é de extrema importância para manter a competitividade neste mercado!
Fonte: MilkPoint