No agro, falta de contêiner tem impacto de US$ 1bi

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A escassez global de contêineres teve um impacto de pelo menos US$ 1 bilhão sobre a receita das exportações do agronegócio brasileiro neste ano, segundo levantamento preliminar da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). O estudo, elaborado em conjunto com o setor, apresenta uma estimativa do volume de recursos que deixaram de entrar no país em casos em que os embarques não ocorreram por falta de contêineres, mas desconsidera despesas como multas e demurrage.

Entre nos cálculos os efeitos do “apagão” sobre três grandes segmentos exportadores. No caso das exportações de aves, ovos e suínos, o impacto (de janeiro a julho) foi estimado em US$ 436,9 milhões. O setor de café já indicou que sua receita foi prejudicada em cerca de US$ 500 milhões entre maio a agosto – período em que ficou evidenciado o aperto. Nas exportações de tabaco os impactos foram de US$ 170 milhões entre junho e julho. De janeiro a agosto, o agronegócio brasileiro exportou US$ 83,6 bilhões.

O levantamento deixou de fora informações sobre grandes exportadores, como os segmentos de carne bovina e de papel e celulose. A consolidação desses números é considerada complexa e, como algumas empresas têm capital aberto, há dificuldade na apuração de dados mais precisos.

Representantes do agronegócio tentam diálogo com o governo para tratar da falta de contêineres desde o fim de agosto, mas só no último dia 22 os exportadores conseguiram se reunir com o Ministério da Economia. Ontem, foram atendidos no Ministério da Infraestrutura.

A curto prazo, o setor pede “reunião urgente” com armadores para cobrar um plano para escoar as cargas que estão paradas nos portos. “Não se trata de alterar as leis de mercado […], mas sim de olharem o Brasil como um provedor de alimento para o mundo”, diz o estudo. Essa reunião deverá ser organizada pelo governo nos próximos dias.

O setor usa como exemplo a Comissão Marítima Federal (FMC, na sigla em inglês), órgão regulador da atividade nos Estados Unidos, que está acompanhando o problema para tentar impedir impactos sobre os produtores americanos.

Os exportadores do agro brasileiro também criticam a concentração da atividade de transporte marítimo. Cinco armadores detêm, sozinhos, 65% do mercado global, o que, na visão do setor, “dificulta a prática do livre mercado”.

Outra reclamação dos representantes do agro é que os transportadores estariam priorizando outras rotas, consideradas mais vantajosas, em vez de garantir fluxo para as necessidades brasileiras. “A situação está extremamente cômoda para os armadores e não vemos perspectivas de regularização”, afirma o documento.

Para isso, a médio prazo, pedem para que o governo estude formas de permitir a entrada de novos armadores ou a criação de incentivos para que os atuais fornecedores garantam maior disponibilidade de contêineres.

Em nota divulgada no fim de agosto, o Centro Nacional de Navegação Transatlântica (Centronave), que representa 97% do mercado brasileiro, afirmou que seus associados não pouparam esforços para garantir as exportações. Porém, reconhece que ainda não há perspectiva de melhora neste segundo semestre.

Thiago Péra, coordenador do EsalqLog/USP, reconhece que o alto custo do frete tem tirado a competitividade dos exportadores. Ele destaca ainda que, diferentemente do ano passado, não havia tanta demanda das grandes economias por contêineres como neste ano – situação que ficou acentuada por problemas como a interrupção do Canal de Suez e o fechamento do maior porto de contêineres do mundo (Ningbo-Zhoushan). “Há um problema global, mas ele não ocorre apenas no Brasil, estamos em uma fase de muita demanda e o arranjo é demorado”, diz.

Péra ressalta, porém, que a movimentação de contêineres no Brasil cresceu neste ano. Dados mais recentes da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) mostram que o fluxo subiu 16,5% de janeiro a julho em comparação com o mesmo período de 2020.

A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa Aurora, BRF e Seara (JBS), disse no estudo que o problema também estaria afetando a importação de insumos importantes para a alimentação dos animais de abate, como vitaminas e aminoácidos. O custo do frete saiu de US$ 2 mil por contêiner para US$ 12 mil. Esse aumento, alega, tem deixado menos atrativa a compra insumos de menor valor agregado.

Miguel Faus, presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea) diz que também há seguidos adiamentos de embarque e dificuldade de exportar volume adicional. “Com sorte, você só consegue agora para embarcar para janeiro”. “No ano passado, nós batemos recorde de exportação de algodão, mas ocorreu porque os armadores disponibilizavam navios adicionais e, hoje, simplesmente não vamos ter. O resultado é que vai demorar mais do que deveria”, acrescenta.

Fonte: Valor Econômico

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