O número de contratos de inovação entre grandes empresas e agtechs, startups do agronegócio, cresceu 141% entre 2020 e 2021 no Brasil. O levantamento foi feito pela 100 Open Startups, a pedido do Valor. A plataforma, que facilita a cocriação de negócios inovadores, analisou uma base de 146 pequenos empreendimentos do setor. Do total de acordos, a maior parte foi firmada com gigantes do agronegócio (14,2%) e companhias de bens de consumo e alimentação (13,9%).
A Mosaic Fertilizantes entra nessa lista. De acordo com Felipe Klemperer, vice-presidente de transformação e procurement da marca de fertilizantes e ingredientes para rações, desde 2019 até agora a companhia se conectou com 30 startups para a execução de provas de conceito, estudos e oportunidades de negócio – sete são agtechs, como a InCeres, de Piracicaba (SP) da área de software para agricultura de precisão; e a loja on-line InstaAgro, de São Paulo.
No momento, diz o executivo, os acordos se dão por meio do desenvolvimento de projetos digitais com foco em vendas de insumos, sem aportes financeiros. “No próximo ano, vamos manter as parcerias atuais, buscando inovações que contribuam para a tomada de decisão na lavoura, rentabilidade do agricultor e uma melhor escolha de fertilizantes”, diz. A opção de começar a injetar capital nas empresas será avaliada em 2022.
A Mosaic costuma pagar por projetos isolados, realizados pelas startups, em nichos como testes de impressão em 3D, chatbots e procurement (compras). Entre os impactos obtidos a partir das ligações com as empresas, Klemperer destaca avanços na área de logística. Um trabalho com a mineira LogPyx, de sistemas de gestão e transporte, ajudou a reduzir em 66% o tempo médio do ciclo de um caminhão dentro do pátio das fábricas, de 12 para quatro horas.
Na Cargill, considerada a maior empresa de agronegócios do mundo, um dos caminhos de acesso às startups acontece por meio de uma unidade de venture capital. O Cargill Ventures foi estabelecido em 2020 como parte de uma frente global de inovação do grupo e faz investimentos em empreendimentos em estágio inicial, explica João Alexandre Carvalho, advisor de estratégia e inovação digital para a América Latina da Cargill.
O histórico de relacionamentos com startups começou em 2018, com programas de aceleração global e iniciativas regionais que promoviam “pitchdays” (apresentações de negócios). Até agora, foram mais de 100 conexões em 15 programas. “Em geral, o apoio e as relações com as empresas ocorrem por meio de mentorias, premiações e geração de negócios, como contratação de projetos, co-desenvolvimento de produtos, provas de conceito e acordos comerciais.”
Em aportes, o portfólio global inclui cerca de 20 investimentos, alguns realizados antes da formação do Cargill Ventures. “São companhias que representam mais de US$ 100 milhões em investimentos”, diz. Cerca de 1/4 do total investido está relacionado à agricultura sustentável.
A Cargill também aplica no Land Innovation Fund, fundo criado em 2019 com aporte inicial de R$ 30 milhões da própria empresa, que busca inovações para a promoção de uma cadeia de soja sustentável e livre de desmatamento. O hub de inovação no agronegócio AgTech Garage, de Piracicaba, é um dos parceiros nos projetos bancados pelo veículo.
André Fukugauti, gerente de inovação aberta da divisão agrícola da Bayer, diz que a multinacional alemã está de olho em startups que ofereçam otimização de recursos na produção de alimentos, redução da perda de produtos na cadeia produtiva e estímulo a práticas sustentáveis no campo. Em 2020, teve projetos e serviços prestados por 20 startups no Brasil. Em 2021, desse total, mantêm acordos com 18 e incluiu mais 15 contratos.
Globalmente, a Bayer investe em startups por meio do braço de investimento de impacto Leaps by Bayer, criado em 2015. Desde a criação do instrumento, foram investidos mais de US$ 1 bilhão, em um portfólio com 35 negócios. Um dos aportes mais recentes aconteceu em fevereiro, numa rodada de R$ 13,5 milhões, liderada pela Lanx Capital, na Grão Direto, plataforma digital para o comércio de grãos fundada em Uberaba (MG). “Não é possível criar a inovação necessária para os desafios globais sem colaboração”, diz Fukugauti.
Fonte: Valor Econômico