No caso do grão, queda deverá ser apenas temporária
O governo argentino não chegou a um acordo com o setor produtivo do país, mas ainda assim a imprensa do país afirma que o presidente Alberto Fernández vai anunciar hoje uma redução nas retenciones (taxas que incidem sobre as exportações) para grãos e carnes.
Segundo os jornais argentinos, a redução para a soja será de 3 pontos percentuais, para 30% do valor exportado, por 90 dias. No caso da carne, a expectativa é que o governo anuncie uma redução de 4 pontos percentuais, para 5%, permanentemente.
O governo precisa urgentemente gerar uma receita maior de dólares para a Argentina. As novas medidas serão adotadas, então, para promover a liquidação dos estoques de soja que estão no setor exportador.
Ministério da Agroindústria argentina
Os últimos dados do Ministério da Agroindústria argentina, de 9 de setembro, mostram que os produtores venderam até agora 31,6 milhões de toneladas de soja da safra 2019/20, ou 62% do volume total de 50,7 milhões de toneladas. O percentual é menor que no mesmo período do ciclo anterior, quando 36 milhões de toneladas haviam sido comercializadas, ou 65% da produção estimada em 55 milhões de toneladas.
No caso do milho, as vendas se aceleraram e já foram comercializadas 36,8 milhões de toneladas, 71% de 51,5 milhões de toneladas no total, ante 34,5 milhões (68%) no mesmo período do ciclo 2018/19.
Assim, segundo o jornal “Clarin”, os produtores têm em mãos quase 20 milhões de toneladas de soja, no valor de US$ 8 milhões, e cerca de 14 milhões de toneladas de milho, no valor US$ 2,6 milhões.
Dólar
“Atualmente, o ‘dólar da soja’ gira em torno de 50 pesos, levando em consideração o câmbio oficial e as retenções de 33% que acabam sendo descontadas do preço. Assim, com o dólar azul [câmbio não oficial] ultrapassando 140 pesos, os produtores mantêm os grãos como “moeda de troca’”, diz matéria de hoje do “Clarin”.
Fontes do agronegócio consultadas pelo jornal dizem que esse tipo de medida provisória não terá impacto, porque será isolada, e reforçam que o que afeta principalmente os produtores é o diferencial cambial.
No que diz respeito aos frigoríficos, o jornal “La Nacion” informou que perderam competitividade no mercado internacional nos últimos meses, e que por isso o governo pensa em uma redução definitiva das retenciones para o segmento.
Em 2019, as exportações de carne bovina da Argentina bateram recorde, com quase800 mil toneladas e receita de US$ 3 milhões. Neste ano, dados do Instituto Argentino de Promoção da Carne Bovina mostram que os embarques até agosto somaram 320 mil toneladas, 16% mais que no mesmo período de 2019. Mas o faturamento cresceu apenas 1%.
Segundo o “La Nacion”, o governo também anunciará hoje um pacote de reembolso de retenciones para 42 mil produtores de soja, que produzem menos de 1 mil toneladas por ano e representam 23% da colheita do país.
Numa segunda fase, dizem os jornais, está previsto o lançamento de um planoestrutural com benefícios fiscais aos produtores agrícolas.
“As medidas que serão anunciadas pelo governo, pelo que temos ouvido, não serão suficientes. Não vão gerar efeito de venda massiva de grãos”, disse ao “La Nacion” Daniel Pelegrina, presidente da Sociedade Rural Argentina (SRA). Com outros representantes do setor, ele participou da reunião com o ministro da Economia, Martín Guzmán, ontem à noite.
Fonte: Valor Econômico