A escalada dos preços dos insumos agropecuários, como fertilizantes, defensivos e ração animal, foi a principal responsável pelo aumento generalizado dos custos de produção da atividade rural em 2021.
A variação cambial acentuou o movimento e teve impacto nas altas de 17% na soja, de 15,2% na pecuária de corte para cria e recria, de 34% no arroz produzido no Rio Grande do Sul e de 29% na cana plantada no Nordeste, segundo dados levantados pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Cálculos da entidade também apontam que, ainda que a alta de preços compensou a dos custos na área de grãos, na pecuária houve achatamento.
O fertilizante foi o item que mais pesou no bolso dos produtores rurais. De janeiro a setembro, os preços da ureia, do MAP (fosfato monoamônico) e do KCl (cloreto de potássio) subiram 70,1%, 74,8% e 152,6%, respectivamente, em relação ao mesmo período de 2020. A ração concentrada para o gado subiu 15% e o sal mineral, 24,7%. Já os custos com defensivos dobraram. O preço do glifosato, herbicida mais utilizado nas lavouras do país, aumentou 126,8%.
Bruno Lucchi, diretor técnico da CNA, disse que o setor detectou a elevação de custos com defensivos já no episódio de proibição de uso do herbicida paraquate, mas admite que a tensão é maior com as crises nos países fornecedores dos insumos. O escritório da entidade na China monitora as restrições de produção de alguns produtos químicos e rastreia informações sobre a disponibilidade de matéria-prima no Vietnã.
Nesta quinta-feira, 29/10, em evento virtual de apresentação dos custos, a CNA alertou para a necessidade de oferta volumosa de crédito rural em 2022 para que a alta de custos não gere retrocessos no nível tecnológico aplicado no campo.
O pico de preços dos insumos, influenciado ainda pela alta histórica das commodities e pela expansão da demanda global e demais gastos diretos, resultaram em um Custo Operacional Efetivo (COE) para os produtores de soja 16,5% mais alto na safra 2020/21 do que na temporada anterior. Carro-chefe do agronegócio brasileiro, a oleaginosa surpreendeu pelo aumento da produtividade média, que atingiu quase 60 sacas por hectare. A cotação do grão subiu 46,9%, o que ajudou a amenizar as altas de 14,8% e 16,9% nos preços de fertilizantes e defensivos para a cultura, respectivamente.
No caso do milho, o principal gasto na primeira safra foi com o controle de pragas, 25,7% superior ao da temporada 2019/20, puxado pelos ataques da cigarrinha. Já na safrinha, o que influenciou negativamente foi o clima, com secas e geadas. O rendimento das lavouras recuou quase 40%. Mas o bom momento dos preços de venda do cereal foi capaz de assegurar receita bruta 2,7% maior e margens brutas ainda positivas.
O arroz foi o produto com a maior alta nominal de custos, que subiram 34% no Rio Grande do Sul. E o clima também afetou outras cadeias. A safra de café colhida neste ano teve o desenvolvimento comprometido. No caso do tipo arábica, a produção caiu 10% em comparação com o volume de 2020. O COE da variedade aumentou 15%. Já para o conilon, a elevação foi de 31,3%.
Na pecuária bovina o cenário foi mais complicado, com diversas praças operando com margens líquidas negativas. Em nove meses, o custo para recria e engorda acumulou alta de 15,2%. Já o modelo de ciclo completo teve aumento de 10,6% e os sistemas de cria, de 16,1%. Na produção leiteira, os custos cresceram 15,7%.
O cenário de incertezas deve permanecer em 2022 e apertar as margens de lucro no campo. Para os criadores de gado, o “fator China” ainda é determinante, já que estava “precificando o mercado”, afirmou no mesmo evento o pesquisador Thiago Bernardino de Carvalho, do Cepea/Esalq-USP.
Com o mercado doméstico enfraquecido pela crise econômica e as exportações de quase 16% de toda produção de carne bovina travadas com o embargo chinês, deve haver desestímulo aos investimentos e contenção de gastos, o que pode abrir oportunidades para o pecuarista confinador que se planejar bem. “A ausência da China vai doer”, resumiu Lygia Pimentel, diretora executiva da Agrifatto.
O gerente da mesa de fertilizantes da StoneX, Marcelo Mello, passou uma mensagem tranquilizadora para os agricultores ao praticamente descartar riscos de desabastecimentos de adubos e prever um auto-ajuste do mercado com cortes significativos, de até 40%, na aplicação de alguns produtos nas lavouras na próxima safra. Mesmo assim, é “inevitável” outro aumento de custo.
“A destruição de demanda será crucial para a melhora das relações de trocas a partir do segundo trimestre de 2022. É fundamental uma estratégia proativa de gestão de compras”, disse Mello. “Será necessária uma grande espremida de margem para reduzir o uso de fertilizante e equacionar a situação”, avaliou Carlos Ortiz, associado sênior da Centrec Consulting Group e sócio da AgroSchool.
Fonte: Valor Econômico