A Embrapa tem estudos para conhecer o consumo em cada uso da água nas propriedades rurais
De acordo com o pesquisador Julio Palhares, da Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos – SP), saber o consumo hídrico é fundamental para a conservação desse recurso, identificar os pontos de ineficiência e implementar ações para reduzir possíveis desperdícios. O Dia Mundial da Água, comemorado nesta-sexta-feira, 22 de março, é uma oportunidade para refletir e melhorar a gestão hídrica na agropecuária.
Neste ano, a revista internacional Water, da Suíça, especializada em ciência e tecnologia da água, incluindo ecologia e gestão de recursos hídricos, publicou o artigo científico “Indicadores de desempenho hídrico e valores de referência para Sistemas de Produção de Leite”. Nele, Julio Palhares e os pesquisadores da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (USP) Danielle Matarim, Rafael de Sousa e Luciane Martello apresentaram os primeiros valores de referência brasileiros para o consumo de água de vacas em lactação e limpeza da sala de ordenha.
O estudo gerou os indicadores Litro de água por vaca em lactação por dia e Litros de água por quilo de leite por dia por tipo de sistema de produção e época do ano (águas e seca). Foram monitoradas, por meio de hidrômetros, 876 propriedades leiteiras entre Janeiro de 2021 e Dezembro de 2022, em parceria com a empresa Nestlé.
Segundo os pesquisadores, as fazendas com sistema de produção em confinamento apresentaram as maiores médias de consumo para ambos os usos, 87,5 litros diários de água por vaca e 84,4 litros por dia, respectivamente. Por outro lado, os modelos semiconfinados tiveram a menor média de consumo dos animais, 54,4 litros de água por vaca ao dia.
Os sistemas a pasto obtiveram a menor média de limpeza, 45,2 litros de água por vaca ao dia. Palhares observa que os indicadores propostos na pesquisa são as primeiras referências para consumo animal e lavagem de sala de ordenha por sistema de produção em condições tropicais. “Saber o quanto consumimos de água em cada consumo da fazenda é o primeiro passo para dar maior eficiência ao uso deste recurso natural.
Mas muitas fazendas brasileiras ainda não têm sistemas de medição do consumo de água. Então, os referenciais irão ajudar os produtores e produtoras a conhecer melhor o volume de água que utilizam e a implementar ações para reduzir esse consumo”, destaca o pesquisador da Embrapa. Além disso, os indicadores podem contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas voltadas para a otimização da eficiência hídrica.
Com a adoção de práticas de conservação da água, é possível uma atividade mais adaptada a eventos climáticos extremos, como as secas, que já vêm ocorrendo em várias regiões brasileiras a cada ano e com maior frequência e intensidade. As práticas de conservação de água também conferem maior segurança hídrica à propriedade leiteira, tornando-a mais preparada para um futuro climático incerto.
As variações de consumos ocorrem tanto na ingestão de água pelos animais como na lavagem dos locais de ordenha. No caso do consumo pelas vacas, ele pode ser influenciado por fatores produtivos (produção de leite, peso do animal, teor de matéria seca da ração, sódio, etc.), bem como por fatores climáticos (precipitação, temperatura, velocidade do vento, etc.).
Já em relação à limpeza, a quantidade de água utilizada pode ser motivada pela arquitetura do local, tipo de ordenhadeira, tempo de espera dos animais no curral, condições do piso, práticas de raspagem do piso antes da lavagem, sistemas de lavagem (mangueira ou flushing) e capacitação de mão de obra.
Esses fatores influenciam diretamente no volume de água utilizado. “O estudo demonstra que a ampla variação nos valores de consumo hídrico (seja para bebida dos animais ou para lavagem) indica que há margem para aprimorar o manejo hídrico na produção leiteira, visando alcançar uma maior eficiência no uso da água”, explica Palhares.
Ações como essa contribuem para o cumprimento do sexto Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) de assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento.
Fonte: Embrapa Pecuária Sudeste