Roçadeira química aplica herbicida, como glifosato, somente nas gramíneas mais altas do pasto, que podem ser separadas pelo pastejo seletivo natural do gado
O produto não chega a ser uma novidade, mas ajuda a resolver um problema que ainda afeta boa parte dos pecuaristas brasileiros. A invasão de pastagens por gramíneas, como o Capim Annoni, sobretudo na Região Sul. Em episódio da série Embrapa em Ação que foi ao ar nesta sexta, 21, o conteúdo apresentou o implemento Campo Limpo, uma espécie de roçadeira química seletiva que ajuda a controlar esse tipo de plantas daninhas.
Quem falou sobre a roçadeira química foi o engenheiro agrônomo e doutor em zootecnia Naylor Peres, pesquisador da Embrapa Pecuária Sul. Antes disso, no entanto, o especialista apresentou o desafio das plantas daninhas para os produtores da região.
Por exemplo, o Capim Annoni, gramínea de difícil controle por conta de o defensivo que faz o controle matar também o capim. Além disso, a Maria-mole (Senecio brasiliensis), conhecida ainda como Flor das almas por florescer sempre próximo ao Dia de Finados. Esta planta, inclusive, possui alcaloides e uma série de compostos tóxicos para o gado, causando prejuízo expressivo ao pecuarista. O pesquisador citou ainda Vernonia (ou Alecrim) e o Caraguatá.
Conforme analisou Peres, o manejo de pasto torna-se mais importante à medida que a pecuária passa a competir com a agricultura. Dessa forma, a bovinocultura precisa aproveitar ainda mais suas áreas de pastagens.
INVASÃO DE GRAMÍNEAS
Em seguida, Naylor falou a respeito do desafio do controle de gramíneas que o gado não come nas pastagens. O problema é que os produtos que combatem essas plantas acabam matando também a forrageira escolhida para a nutrição do gado. “Essas, sim, são um problema. Não somente com o Capim Annoni aqui no Rio Grande do Sul, mas em todo o Brasil a gente vê invasoras gramíneas invadindo pastagens, que são gramíneas. Nesse sentido, você não tem uma molécula herbicida capaz de controlar só a invasora. E, com isso, você vai ter perda de produtividade e, muitas vezes, vai enriquecendo o banco de sementes que está no solo com as sementes dessa invasora, tornando o processo de recuperação bastante complicado”, alertou.
Segundo Peres, nesses casos o controle exige mobilização do solo. Contudo, a prática não é a mais correta. “Demanda um recurso grande, tem toda a questão da emissão de carbono, perda de fertilidade, erosão”, ponderou.
ALTERNATIVAS
Logo depois, o especialista falou sobre as opções que o produtor tem para solucionar o problema. Por exemplo, o uso de forrageiras alternativas, como Azevém, Trevo branco ou vermelho, Capim Lanudo ou Aveia. Peres ressaltou os níveis de proteína e digestibilidade dessas espécies. “Tem que ter mentalidade de agricultor, cuidando bem do solo para que essas espécies, que também têm mais exigência, possam se desenvolver bem nesse período frio. E aí trazer produtividades que multiplicam por dois ou três o que se pode conseguir apenas nos pastos ou na pastagem nativa”, acrescentou.
SOLUÇÕES
De acordo com Peres, o Annoni pode trazer uma redução de 50% do potencial do pasto infestado. Juntamente com isso, a planta daninha tem infestação gradual pelo pastejo seletivo do gado. Primeiramente, os animais comem o pasto e possibilitam o desenvolvimento do Annoni. Depois disso, passam a comer as inflorescências da invasora e disseminando a espécie pelo esterco. “Essas sementes vão se espalhando. E não é só com o Annoni. Isso acontece com outras gramíneas no Brasil em geral. Então se não for feito nada, o pastejo acaba reforçando essa infestação”, alertou.
Assim, a primeira ação para reverter o quadro é eliminar as plantas daninhas. “A melhor forma é utilizar o próprio pastejo seletivo para criar esse duplo extrato. A gente tem plantas em diferentes alturas, em que as plantas rejeitadas estão mais altas”, ilustrou.
ROÇADEIRA QUÍMICA
Posteriormente, o pesquisador lembrou da roçadeira química seletiva, que permite a aplicação de herbicida justamente das plantas mais altas que restaram no pasto. “A gente desenvolveu um equipamento que se chama Campo Limpo. É um aplicador seletivo de herbicida. Ele não faz a pulverização, mas vai justamente entrar em contato por diferença de altura com as plantas que estão mais altas. Então a gente regula uma certa altura, o equipamento passa e, com isso, ele vai umidificar as folhas das plantas invasoras daninhas que estão mais altas. Justamente aquela que o gado rejeitou”, explicou.
Primordialmente o herbicida usado na roçadeira química é o glifosato. “O glifosato é um herbicida sistêmico. Ele vai entrar no sistema vascular da planta e levar aquelas plantas à morte. Mas o pasto bom que o gado deixou mais baixo fica presente na área”, salientou.
Fonte: Canal Rural