Braço agrícola do grupo gaúcho de 75 anos deverá registrar receita próxima de R$ 3 bi neste ano
Maior empresa produtora de grãos com capital aberto do país, a SLC Agrícola está se beneficiando dos bons preços dos grãos, inflados pelo câmbio, para garantir mais um ano de crescimento em 2020. Depois de registrar receita recorde em 2019, a empresa projeta um avanço de 10% a 15%, o que levará o faturamento a se aproximar do patamar de R$ 3 bilhões. Isso mesmo em um ano de cautela e baixos investimentos em virtude das incertezas provocadas pela pandemia.
Quando decidiu fazer o IPO da companhia, em 2007, a família gaúcha Logemann tinha sete fazendas em Goiás, Mato Grosso, Maranhão, Mato Grosso do Sul e Bahia, e pretendia se capitalizar para ampliar sua área de cultivo. Levantou R$ 426 mil com a operação, deu início a seus planos de expansão e já viu sua receita líquida saltar de R$ 211 milhões, em 2006, para R$ 2,5 bilhões no ano passado, ou 80% do faturamento total do grupo.
Controlada pela SLC Participações, holding da família Logemann que detém 53,5% de seu capital, a SLC Agrícola agora cresce impulsionada por soja e milho. “O lucro, sem dúvida, será maior neste ano que em 2019, quando alcançou R$ 315 milhões”, disse o presidente do Grupo SLC, Eduardo Logemann. O empresário se dedica há 50 anos aos negócios da família, que completam 75 anos em 2020.
Soja, milho e algodão
Hoje com 16 fazendas em seis Estados e área total de cultivo de 450 mil hectares divididos principalmente entre soja, milho e algodão, – quase quatro vezes mais que em 2007 -, a SLC Agrícola até acreditava que o passo poderia ser maior em 2020, mas optou por desacelerar o ritmo de expansão diante da crise econômica derivada covid-19.
“Somos uma empresa conservadora, mas com ousadia. Vendemos a safra [2019/20] antecipadamente com bons preços, ainda que as cotações das commodities tenham caído. Ninguém imaginava um dólar tão alto, e tivemos uma produtividade excepcional”, disse Logemann. Essa estratégia permitiu negociações vantajosas mesmo no mercado de algodão, cujas cotações recuaram com a paralisação de indústrias têxteis e do comércio por causa do novo coronavírus.
A postura cautelosa e os investimentos em governança transformaram a SLC Agrícola em um exemplo de que uma produtora de grãos pode abrir o capital apesar dos riscos inerentes à atividade, principalmente climáticos. Negociados no IPO a R$ 14, hoje os papéis da companhia rondam o patamar de R$ 27. Trata-se de crescimento bem menor que os avanços de área plantada e receita, o que sugere a seus controladores que há potencial para avanços maiores.
Os demais 20% do faturamento do grupo gaúcho vêm da SLC Máquinas, que é a sua origem. Concessionária John Deere com 18 unidades que atendem 213 municípios do Rio Grande do Sul, esse braço foi fundado em 1945 em Horizontina (noroeste do Estado) pelo avô de Eduardo, o imigrante alemão Frederico Jorge Logemann.
Pouco depois, o pai de Logemann liderou a emancipação de Horizontina e foi seu primeiro prefeito. “Começamos fazendo máquinas agrícolas e, em 1965, meu pai lançou a primeira colheitadeira 100% fabricada no Brasil. Naquele ano, o mercado foi de 13 colheitadeiras. Fizemos uma e as outras foram importadas”. No ano passado, foram vendidas 5,8 mil unidades em todo o país.
Em 1979, a John Deere passou a deter uma fatia de 20% da fábrica de máquinas do grupo, e em 1999 a unidade foi integralmente adquirida pela multinacional americana.
Melhor fase
A SLC Máquinas pertence 100% à SLC Participações, holding que tem Eduardo e quatro irmãos no comando. Mas não vive em 2020 sua melhor fase. A empresa enfrenta um período de demanda fraca, também prejudicada pela seca que causou fortes prejuízos nas lavouras de gaúchas grãos na temporada 2019/20.
“Esperávamos que a SLC Máquinas faturasse R$ 750 milhões neste ano, 23% mais que em 2019, mas o montante ficará entre R$ 570 e R$ 580 milhões”, disse Logemann. “Mas viemos de um ano de expansão após a compra da concessionária Lavoro em 2019”, afirmou. O grupo investiu R$ 120 milhões na rede, que conta com sete lojas no Rio Grande do Sul.
A gestão do grupo é profissionalizada, mas isso não significa que a nova geração da família controladora não tenha espaço – dois integrantes da quarta geração dos Logemann já estão por lá. “Eles estão sendo treinados primeiro para serem bons acionistas e bons conselheiros. Se puderem ser bons gestores, melhor ainda”, disse Eduardo.
Fonte: Valor Econômico