Desembolsos de crédito rural recuaram 28% em julho

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O volume de crédito rural acessado pelos produtores brasileiros em julho de 2022 caiu 28% em relação ao desembolso de julho de 2021. Ao todo, o sistema financeiro liberou R$ 20,3 bilhões nessa frente no mês passado, segundo dados do Banco Central compilados pelo Valor.

O primeiro mês da safra 2022/23 foi marcado pela demora na liberação dos recursos equalizados do Tesouro Nacional, que só ocorreu no dia 20 e impactou o fluxo. As informações foram extraídas da Matriz de Dados de Crédito Rural do BC no dia 1º e podem mudar conforme atualizações do sistema. Segundo o Ministério da Agricultura, os números serão consolidados em 30 dias.

O recuo foi mais acentuado nas linhas de investimentos, cujo montante emprestado alcançou R$ 939 milhões, sete vezes menos que em julho do ano passado. Com as taxas mais caras do Plano Safra de até 12,5% ao ano – e alíquotas ainda maiores nos programas com juros livres, alguma queda era esperada, mas não tão grande.

Também houve um freio no acesso às linhas de comercialização e industrialização. Os números caíram 183% e 171% na comparação com julho de 2021, para R$ 687 milhões e R$ 748 milhões, respectivamente. Embalados pela alta generalizada nos custos de produção no campo, os desembolsos dos financiamentos de custeio aumentaram 10% e chegaram a R$ 17,9 bilhões.

Com o atraso de 20 dias para o acesso às linhas com equalização, a principal fonte do crédito rural em julho foram as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), com juros livres. Dos R$ 20,3 bilhões acessados, R$ 11,1 bilhões vieram desses títulos, desempenho muito superior ao do primeiro mês da safra 2021/22 (R$ 3,4 bilhões). Poupança rural subvencionada (R$ 3,9 bilhões) e os recursos obrigatórios (R$ 3,6 bilhões) aparecem na sequência entre as fontes financeiras do ciclo atual.

Altamente dependente dos recursos controlados do Plano Safra, a agricultura familiar sentiu o baque do atraso na liberação. As contratações de crédito rural em julho caíram quase pela metade na comparação com o ano passado, saindo de R$ 6,4 bilhões para R$ 3,3 bilhões. O número de contratos dos pequenos produtores saiu de 166,8 mil para 54,5 mil agora.

O acesso aos investimentos foi baixo: apenas R$ 400 milhões liberados, para pouco mais de 15 mil contratos. Nos primeiros 30 dias da safra 2021/22, os pronafianos contrataram R$ 1,7 bilhão para investimentos, em mais de 77 mil contratos. Também houve queda no Pronamp, acessado por médios produtores. As contratações chegaram a R$ 3 bilhões, 23% menor que os R$ 3,7 bilhões da safra passada.

Os bancos públicos, encabeçados pelo Banco do Brasil, continuam na liderança absoluta dos desembolsos de crédito rural no país com mais de 70% do valor em financiamentos (R$ 14,6 bilhões em julho). As cooperativas de crédito praticamente empataram com as instituições privadas, com R$ 2,8 bilhões cada em julho.

Algumas linhas de investimentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foram suspensas em poucos dias de contratações, o que mostra que a procura pelos recursos subsidiados será forte, o que deve se refletir nos dados de desembolso de agosto.

O Tesouro Nacional tem R$ 1,2 bilhão para equalização até o fim do ano. O orçamento de todo o Plano Safra 2022/23 ficou em R$ 11,6 bilhões, bem aquém do que o setor produtivo pediu, liderado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) R$ 22 bilhões, para que fossem mantidos os mesmos parâmetros de juros.

“Não é possível afirmar se haverá o esgotamento de determinadas linhas. Isso depende de diversos fatores, em especial da velocidade de contratação do crédito por parte dos produtores rurais”, informou o Tesouro. Para 2023, o impacto orçamentário do Plano Safra atual foi estimado em R$ 4,2 bilhões.

Fonte: Valor Econômico

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