O aumento dos preços do gás natural, principal matéria-prima dos fertilizantes nitrogenados – dos quais a ureia é o mais importante , gerou uma crise de produção desses nutrientes na Europa: o continente tem usado apenas 40% da sua capacidade instalada, de cerca de 11 milhões de toneladas.
Gigantes do segmento, como Yara, CF Industries, OCI, SKN e Basf, diminuíram a produção na Europa, o que deve fazer com que os agricultores locais aumentem suas importações de adubos no segundo semestre – um movimento incomum -, disputando o insumo com países que tradicionalmente compram fertilizantes nesse período, como Brasil e Índia.
O mercado de nitrogenados está atípico e volátil, segundo analistas. No Brasil, os preços da ureia têm caído nos portos nos últimos meses, mas eles podem mudar de direção a qualquer momento.
Entre o pico, em abril, e a média da semana encerrada na última sexta-feira, a tonelada do produto recuou 40%, a US$ 592 (preço no porto). Em comparação com a semana imediatamente anterior, a queda foi de 8%.
Devido, sobretudo, à crise na Europa, a consultoria americana StoneX projeta aumento de preços de cerca de 10% no curto prazo.
Em boletim a clientes, a empresa informou que as importações brasileiras de ureia devem aumentar a partir do mês que vem, quando os produtores de milho safrinha farão as compras do insumo a ser aplicado no primeiro trimestre de 2023.
Até agora, por causa do ano atípico no setor de adubos e das turbulências nos mercados futuros de commodities, os agricultores mantiveram-se retraídos. Nos primeiros sete meses deste ano, as importações de ureia somaram 3,8 milhões de toneladas, volume 7% menor do que o do mesmo período de 2021.
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O Brasil produz nitrogenados, mas importa a maior parte do que consome. Além disso, ao contrário de potássio e fosfatados, o solo não retém reservas desse nutriente, o que exige compras todos os anos. O consumo de ureia representa cerca de 18% das entregas totais de adubos, que somaram 46 milhões de toneladas no ano passado.
O Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) diz que ainda não é possível saber se os produtores de milho resolveram economizar em algum grupo de nutrientes em 2022/23. Nessa cultura, o agricultor usa mais nitrogenados e potássio do que fosfatados. “Não temos uma visão clara se o produtor de milho vai reduzir a compra de algum desses nutrientes por enquanto”, afirma Cleiton Gauer, superintendente do Imea. “Eles ainda estão fazendo compras”.
Mas, segundo ele, já se sabe que o peso dos nitrogenados nas despesas totais será maior na safra 2022/23. O Imea projeta que o custo médio com macronutrientes (NPK) na próxima temporada de milho será de R$ 1,8 mil por hectare, montante 63% superior ao do ciclo anterior, quando os custos já haviam subido 62%.
De acordo com Marcelo Mello, diretor de fertilizantes da StoneX, é muito difícil que ocorra “destruição de demanda” (redução das compras) de nitrogênio, já que isso certamente levaria a uma queda de produtividade. Mas, no Brasil, explica ele, há uma particularidade: o plantio da safrinha ocorre na esteira da colheita de soja, que libera nitrogênio no solo. “Com isso, até daria para o agricultor colocar um pouco menos de ureia”, afirma.
Mello reforça que a necessidade europeia de aumentar suas importações deve ter impacto sobre os preços globais. Atualmente, explica, está inviável produzir nitrogenados na Europa. O custo de produção local é hoje de US$ 1,5 mil por tonelada, o triplo do preço no porto no Brasil.
O diretor da StoneX observa, por outro lado, que há um importante fator de pressão sobre as cotações: o aumento da produção do nutriente na Índia. O país, um importante produtor agrícola, é, ao lado do Brasil, um dos maiores compradores desse insumo no segundo semestre.
Fonte: Valor Econômico