Às vésperas da introdução da tecnologia de internet 5G, o Brasil tem apenas 23% da área agrícola coberta com algum tipo de conexão e precisa investir pesado para ampliar a inclusão digital dos produtores rurais. Um dos caminhos, apontado em estudo da Esalq-USP, é instalar 15 mil conjuntos de torres e antenas para conseguir levar banda larga a 90% do território produtivo em quatro anos e elevar em mais de R$ 100 bilhões o faturamento anual do agronegócio brasileiro apenas com a chegada dessa infraestrutura.
O estudo, encomendado pelo Ministério da Agricultura, traçou dois cenários para ampliar a conectividade no campo com modelo tecnológico de sinal 4G, 3G e 2G. O primeiro indica que a instalação de 4,4 mil pares de torres e antenas, com alcance médio de 3 km a 5 km de raio, geraria cobertura adicional de 25% da área, chegando a 48% do território agrícola nacional com internet. Para o segundo, a introdução de 15,1 mil pares seria capaz de cobrir 90% da demanda.
O impacto da melhor “iluminação” de conectividade para a área rural é bilionário. De 4,5% do Valor Bruto da Produção (VBP) agropecuária no primeiro cenário, ou R$ 47,5 bilhões, e de 9,6% do índice no segundo modelo, com acréscimo de R$ 101,5 bilhões no faturamento anual do setor.
As cifras podem aumentar se consideradas as inovações econômicas e de negócios potencialmente incorporadas ao processo produtivo graças à conectividade, segundo adiantou, com exclusividade ao Valor, o secretário-adjunto de Inovação do Ministério da Agricultura, Cleber Soares. Sem recursos, o governo se propõe a induzir o desenvolvimento do mercado de internet para o campo. “Não vamos prover sinal. Queremos estimular a dinâmica de provimento de conectividade”, disse.
Apesar da maior demanda de agtechs por conectividade para acessos avançados, como internet das coisas e monitoramento de lavouras por sensores, há uma profunda disparidade em relação às necessidades dos produtores. “Públicos diferentes carecem de estratégias diferentes no que diz respeito a políticas públicas que demandem conectividade no meio rural”, afirma o estudo.
Segundo Soares, o impacto da ampliação da conectividade seria maior nas regiões Nordeste e Norte, hoje as mais carentes de infraestrutura digital. O Centro-Sul seria beneficiado por poder ampliar o uso do aparato tecnológico no campo. “A conectividade não é tudo, é apenas a primeira camada da estrada, falta o asfalto, a sinalização e as placas”, reconheceu.
O estudo será apresentado hoje e servirá de base para as ações do ministério nesta área em quatro frentes de atuação. Uma delas é a estratégia apresentada no estudo. Existem ainda iniciativas para ampliar a internet via satélite – incluindo a instalação de antenas em 156 assentamentos da reforma agrária, já em curso em 51 deles -, a chegada da fibra óptica a regiões de cultivo próximas de cidades e até mesmo o uso da banda analógica, ociosa e mais barata com o desligamento do sinal analógico de TV, mesmo que com alcance limitado para dados.
“Temos que ter todas as possibilidades. Nosso papel é prover tecnologia ao produto. Ele decide o que vai usar”, diz Soares. Para indicar ações no meio rural a serem contempladas, o ministério aguarda a publicação do decreto que vai regulamentar a composição do comitê gestor do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), que prevê empréstimos e subvenções para aumentar a conectividade no país. “Já estamos com projetos prontos, só falta ter o dinheiro. Como é subvenção, a prioridade são os pequenos produtores no Nordeste e no Norte”, concluiu.
Fonte: Valor Econômico