Uma das ferramentas mais simples e eficazes para manejar pastagens é o monitoramento de sua altura.
Estabelecer e respeitar metas de entrada e saída dos animais dos piquetes é uma prática que pode intensificar a produção animal em pastagens, uma vez que o manejo do pasto na altura adequada é uma combinação benéfica para os animais e as plantas.
A altura de manejo está fundamentalmente baseada em alguns conceitos “chave”.
O primeiro deles é o índice de área foliar (IAF) que é o resultado da divisão da área das folhas (cm2) pela área de solo (cm2) do qual estas folhas foram retiradas. Por exemplo, se coletarmos uma amostra de forragem em 1 m2 de solo e a soma da área de todas as folhas for de 3 m2 o IAF será de 3.
O segundo conceito é chamado de interceptação luminosa (IL) e significa o % da luz solar (radiação fotossinteticamente ativa) que é interceptado pelas plantas (folha, caule, inflorescência) “antes” desta luz chegar ao nível do solo. Por exemplo, se a radiação incidente na área é de 1000 µmol m2 s-1 e ao nível do solo está “chegando” 100 µmol m2 s-1, significa que 900 unidades foram interceptadas pelas plantas, ou seja, 90% de interceptação luminosa.
Descritos estes conceitos, imaginemos agora o crescimento de uma planta após o pastejo (ou corte mecânico). Logo após a desfolhação o dossel tem uma área foliar residual baixa, e pouca quantidade de luz é interceptada. À medida que a rebrotação ocorre, o IAF aumenta até alcançar o IAF crítico, que corresponde ao estágio de crescimento em que 95% da radiação incidente é interceptada pelo dossel (Brougham, 1956).
O IAF crítico é então considerado o limite para a entrada dos animais no piquete, porque se a rebrotação do pasto continuar além desse ponto há um aumento expressivo na competição por luz no dossel, o que aumenta as taxas de senescência foliar (há pouca luz disponível para as folhas de baixo), estabiliza as taxas de produção de folhas e promove incrementos na produção de colmos; fato absolutamente indesejável do ponto de vista de produção animal em pastagens (da Silva et al., 2019).
Além disso, a densidade de forragem no estrato superior do pasto também diminui, o que pode reduzir a taxa de ingestão de matéria seca dos animais (Congio et al., 2018). Deste modo, ao considerar um sistema de lotação intermitente (rotacionado), a entrada dos animais no piquete deve ocorrer quando o dossel apresentar uma IL entre 90 e 95% (Zanine et al., 2011).
Esta amplitude do índice de interceptação luminosa “ótimo” é alcançada com diferentes IAF para cada espécie, em geral plantas com crescimento ereto requerem maior IAF do que as espécies prostradas, uma vez que a disposição de suas folhas é mais ereta e relativamente menos eficaz em interceptar a luz.
Apesar destes conceitos parecerem um pouco abstratos, estes índices guardam uma relação muito forte com a altura das plantas (Hodgson & da Silva, 2002).
A altura tem sido considerada como uma ferramenta útil e facilmente aplicável no campo para o manejo do pasto em uma ampla diversidade de espécies forrageiras (da Silva et al., 2015). Em outras palavras, o produtor ou o técnico de campo não consegue estimar facilmente a IL das pastagens, pois isto requer equipamentos sofisticados.
Entretanto, estas mensurações já foram (e seguem sendo) realizadas por grupos de pesquisa ligados a forragicultura, que associaram estas condições ideais a uma altura aproximada de manejo, cabe então aos técnicos e produtores valerem-se destas informações e aplicá-las no manejo da pastagem.
Por fim, embora a discussão acima seja sucinta, tem o objetivo de elucidar superficialmente alguns aspectos do crescimento das plantas forrageiras que fundamentam a definição das alturas de manejo, pois é mais fácil se adotar uma prática de manejo, independentemente de qual seja, quando se conhece minimamente os porquês.
Referências
Brougham, R. W. (1956) Effect of intensity of defoliation on regrowth of pasture. Australian Journal of Agricultural Research, 7(5), 377–387.
Congio, G. F. S. et al. (2018) Strategic grazing management towards sustainable intensification at tropical pasture-based dairy systems. Science of the Total Environment, 636, 872–880.
da Silva, S. C. et al. (2019) Nutritive value and morphological characteristics of Mombaça grass managed with different rotational grazing strategies. Journal of Agricultural Science, 157(7–8), 592–598.
da Silva, S. C., Sbrissia, A. F., & Pereira, L. E. T. (2015) Ecophysiology of C4 Forage Grasses—Understanding Plant Growth for Optimising Their Use and Management. In Agriculture (Switzerland) (Vol. 5, Issue 3, pp. 598–625). MDPI.
Hodgson, J., & da Silva, S. C. (2002) Options in tropical pasture management. In Â. M. V. Batista, L. M. C. Ferreira, M. V. F. dos Santos, & S. B. P. Barbosa (Eds.), Proceedings of 39th Annual Meeting of the Brazilian Animal Science Society (pp. 180–202).
Zanine, A. de M. et al. (2011) Características estruturais e acúmulo de forragem em capim-tanzânia sob pastejo rotativo. Revista Brasileira de Zootecnia, 40(11), 2364–2373.
Fonte: MilkPoint