Maior celeiro de grãos do Brasil, o estado não tem armazéns suficientes para guardar tudo o que produz
Na segunda reportagem da série sobre a situação da armazenagem de grãos no Brasil, vamos ver que, em Mato Grosso, a carência de armazéns é o principal gargalo na produção do estado. Para mudar este cenário, o setor cobra políticas de crédito menos burocráticas, que possam viabilizar construções de silos nas fazendas.
Maior celeiro de grãos do Brasil, Mato Grosso não tem armazéns suficientes para guardar tudo o que produz. O estado tem um déficit de quase 50% na capacidade estática instalada, condição que preocupa quem está no campo e causa transtornos, especialmente nas regiões em que a falta de espaço é mais crítica, como em Canarana.
“A gente teve aumento de área com acúmulo de plantio e, consequentemente, o acúmulo de colheita também. Devido aos fatores climáticos, os produtores estão forçados a plantar mais rápido e colher mais rápido, mas os armazéns não estão preparados para isso. Além das estagnação dos armazéns, digamos 99% deles estão como a 10 anos atrás, sem investir nada, sem aumentar nada-, nas próximas safras pode se repetir esse mesmo problema. Como poderia resolver isso? Viabilizar a formação de condomínios de produtores, cooperativas ou então os produtores em melhores condições construir seu próprio armazém, mas fica inviável com as leis atuais”, disse o presidente do Sindicato Rural de Canarana, Alex Wish.
Para o vice-presidente da Famato, Marcos da Rosa, houve uma mudança significativa neste setor. “Várias tradings nos comunicaram no processo de colheita que elas iriam receber apenas os nossos produtos que estavam vendidos a futuro, aqueles que tinham adquirido do produtor rural através de contrato. Se, por acaso, houvesse excedente de produção além dos contratos, que eles não iriam receber para armazenagem, pois foi um ano muito concorrido, veio uma produção muito grande e os portos ficaram congestionados”, disse.
Marcos da Rosa acredita que essa dificuldade para embarcar não é de interesse das empresas. “Essa medida nos preocupou muito e recorremos aos bolsões, já que armazéns gerais também estavam lotados”, explicou.
Onde guardar?
A carência de armazéns principalmente dentro das fazendas – é o principal gargalo na produção de grãos do estado, segundo o presidente da Aprosoja Mato Grosso, Fernando Cadore. Ele destaca que apenas 40% das unidades estão nas mãos dos produtores rurais. “Essa comercialização é de 60%, 70%, e só tem um motivo: não se tem onde armazenar, onde guardar esse produto e o produtor é forçado a operar no mercado futuro sem saber se vai produzir ou não”, falou.
O problema crônico também interfere na estratégia de buscar melhores preços pelo produto na hora de negociar a safra, segundo o agricultor Robson Weber. “Se você tiver um sistema de armazenagem, por mais que você colha menos grão, você consegue segurar, porque tudo depende da oferta e procura. Se você tiver este grão aqui na fazenda na entressafra, com certeza esse grão agrega valor, e esse valor acaba diminuindo e diluindo o custo e se tornando um custo menor, mas, infelizmente, a nossa política de crédito ainda é precária e o sistema é burocrático”, disse.
“Então fica um alerta para o nosso governo, para os nossos planos econômicos que venham futuramente: nós precisamos estimular as construções de armazéns principalmente aqui no estado de Mato Grosso, um estado que produz 35 milhões de toneladas e consome 10 milhões”, disse Cadore, que fez um alerta ainda para o mercado interno: “para quem trabalha com proteína animal, sempre existe a possibilidade de comprar milho barato no estado, uma vez que produzimos três vezes o que consumimos e, em situações difíceis, temos que tirar as lições positivas”.
Fonte: Canal Rural