Analistas ainda têm dúvidas sobre o impacto do fim do auxílio emergencial nas vendas
Os resultados da BRF no terceiro trimestre animaram o investidor. As ações da empresa de alimentos subiram 5,95% nesta terça-feira. O desempenho da empresa ,que lucrou R$ 216,8 milhões entre julho e setembro, foi catapultado por resultados históricos no Brasil.
A valorização desta terça-feira devolveu R$ 900 milhões ao valor de mercado da dona de Sadia e Perdigão. Atualmente, a BRF está avaliada em quase R$ 16 bilhões. No acumulado do ano, porém, o papel ainda amarga queda de 44%, o que indica que a empresa ainda tem um longo caminho pela frente. Para tanto, a empresa terá demostrar que a boa fase é sustentável mesmo com o fim do auxílio emergencial.
Em relatório divulgado a investidores, o BTG Pactual enfatizou a margem operacional recorde obtida pela BRF no Brasil, país responsável por mais de 50% das vendas da companhia de alimentos. “O Brasil foi praticamente o único responsável pelo resultado mais forte”, disseram os analistas Thiago Duarte e Henrique Brustolin.
A avaliação do BTG é que, assim como ocorreu com outra empresas brasileiras de alimentos, o consumo em casa de produtos como margarina e produtos processados ajudou a BRF, assim como o auxílio emergencial pago pelo governo.
O cenário ajudou a empresa a elevar o preço médio dos produtos vendidos no terceiro trimestre em 9,9%, na comparação com o segundo trimestre deste ano. Só esse aumento foi responsável por mais de 50% do crescimento do lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, sigla em inglês) da operação brasileira da BRF no terceiro trimestre. No período, o margem Ebitda da companhia no Brasil atingiu o recorde de 15,7%.
Por outro lado, os analistas do BTG fizeram uma ressalva. Na balanço divulgado ontem, a empresa reportou uma perda de participação de mercado no Brasil, o pode indicar que a melhora do resultado no mercado nacional foi um fenômeno setorial e não necessariamente um resultado específico da estratégia do grupo.
No mercado, há preocupação com o possível enfraquecimento da demanda interna que o fim da renda emergencial pode provocar. Se o bom momento da BRF no Brasil estive vinculado aos pagamentos, a situação poderia indicar cautela aos investidores.
“A remoção do auxílio emergencial levanta dúvidas sobre a capacidade da indústria de manter os atuais aumentos de preços por muito mais tempo”, destacaram os analistas Victor Saragiotto e Felipe Vieira, do Credit Suisse, em um relatório. Vale lembrar que os ajustes de preços foram importantes para minimizar o impacto dos maiores custos com os grãos.
Em teleconferência com analistas pela manhã, os principais executivos da BRF foram perguntados sobre o impacto que o fim do auxílio emergencial pode ter para o desempenho da empresa em 2021. Para o CEO global da companhia, Lorival Luz, a demanda por alimentos deve continuar “sustentada” no Brasil mesmo com o fim do auxílio emergencial.
O executivo afirmou que o fim do auxílio pode ter um impacto negativo, mas frisou há diversos outros fatores que podem sustentar o consumo. De acordo com ele, as notícias positivas sobre o desenvolvimento da vacina contra a covid-19 e a retomada de alguns setores da economia são alguns desses elementos.
O vice-presidente de Brasil da BRF, Sidney Manzaro, acrescentou que também há sinais positivos nas vendas ao pequeno varejo e food service, que foram bastante afetadas pela covid-19 no segundo trimestre. Segundo ele, o volume de vendas voltou ao nível pré-covid.
Aos analistas, o CEO da BRF assegurou que, hoje, “não há nenhum problema de demanda”. Pelo contrário. A BRF está otimista com o desempenho das vendas para as festas de fim de ano. As aves, carro-chefe da campanha natalina, estão mais competitivas do que a carne bovina, o que deve favorecer a empresa, que aposta no sucesso do Chester da Perdigão e do peru da Sadia.
Fonte: Valor Econômico