A entrada do Brasil no Compromisso Global de Metano, no qual os países se comprometeram a cortar em 30% as emissões desse gás até 2030, deve aumentar a pressão sobre os frigoríficos brasileiros, que ainda não têm metas específicas para o poluente em sua cadeia de fornecimento para esse prazo.
Praticamente todas as emissões de metano do país estão relacionadas à pecuária. A fermentação entérica, do arroto e da flatulência do gado, representou 92% do metano emitido em 2020, e dos dejetos animais, 6%, de acordo com o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG) do Observatório do Clima. Em 2018, o Brasil era o quarto maior emissor de metano no mundo, com 5% do total, segundo os dados mais recentes do Banco Mundial.
Ao mesmo tempo, as emissões de metano da fermentação entérica cresceram relativamente pouco nos últimos anos se comparadas com o avanço da pecuária. Em 20 anos, a produção brasileira de carne bovina dobrou, para 7,8 milhões de toneladas em 2020, segundo o IBGE, e as emissões de metano por fermentação entérica cresceram 19%, a 13,3 milhões de toneladas em 2020, de acordo com o SEEG.
A situação até atenuou-se recentemente. Nos últimos dez anos, a alta nas emissões de metano da fermentação entérica foi de apenas 1%. Ainda assim, no ano passado, elas foram a segunda maior da história, abaixo apenas de 2016. E, para atender a nova meta com a qual se comprometeu, o Brasil precisa voltar ao nível de 1990.
Para garantir a meta, será preciso reduzir, e agressivamente, a taxa de emissão de metano por volume de produção. Afinal, o Ministério da Agricultura espera que, até 2030, o Brasil eleve sua produção de carne bovina em 17% em relação a 2020/21, a 9,7 milhões de toneladas, o que agora deverá ocorrer concomitantemente ao corte das emissões.
Os frigoríficos brasileiros já divulgaram metas para a redução das emissões de gases-estufa em geral, sempre traduzidas em “carbono equivalente”, medida que inclui o gás carbônico e ainda “traduz” em carbono as emissões de outros gases, como o metano. No caso das metas de emissões neutras, como as de JBS e Minerva, os compromissos envolvem, assim, todos os gases de efeito estufa.
No entanto, nenhuma empresa apresentou até o momento metas intermediárias específicas de metano, ainda que o gás esteja dentro das emissões de gases no escopo 3 do GHG Protocol. O compromisso do Brasil estabelece como prazo 2030, mas a meta de neutralidade de emissões de gases-estufa da Minerva é 2035, e da JBS, 2040.
Em estudo recente, divulgado pelo Valor, as organizações Changing Markets Foundation e Feedback alertaram que nenhuma das 20 maiores empresas globais de carnes e leite possui metas específicas de metano. Mas o novo acordo pode mudar o cenário.
Antes da entrada do Brasil no acordo, o diretor de sustentabilidade da Marfrig, Paulo Pianez, já havia dito ao Valor que a companhia “provavelmente” terá meta específica para o metano. Diante do novo compromisso brasileiro, a empresa tem o objetivo de reduzir 33% das emissões do escopo 3, incluindo metano, até 2035 (sendo 2019 o ano-base), e metas submetidas à iniciativa Science Based Targets (SBTi).
“A companhia vem trabalhando para desenvolver sistemas intensificados, com integração pecuária-lavoura-floresta, melhoria genética para diminuir o tempo de abate dos animais, manejo de pasto, destinação adequada de resíduos e tecnologia aplicada na alimentação animal”, disse a Marfrig, em nota.
A JBS disse que está “trabalhando em um plano de metas baseadas na ciência para chegar ao objetivo Net Zero 2040, que está sendo desenvolvido com critérios estabelecidos pela Science-Based Targets Initiative (SBTi)”. A companhia reiterou ainda que firmou recentemente parceria com o Instituto de Zootecnia (IZ) de São Paulo “para uma pesquisa sobre o uso de novos aditivos alimentares na dieta dos animais que leve à diminuição da emissão de metano”. A Minerva preferiu não comentar.
Fonte: Valor Econômico