Projetos em Minas Gerais, Santa Catarina e Brasília pagam por serviços ambientais e, com isso, estão recuperando vegetação e reduzindo risco de escassez nas regiões.
Falta de chuva, rios mais fracos, reservatórios em baixa…em meio à crise hídrica, tem agricultor ganhando dinheiro produzindo água a partir da preservação do meio ambiente. É o chamado pagamento por serviços ambientais.
Uma das iniciativas pioneiras é tocada pelo município de Extrema, no estado de Minas Gerais, em um projeto chamado Conservador das Águas. Ele recebe este nome porque a recobertura vegetal é capaz de recuperar o potencial hídrico dos terrenos.
Em 2008, o Globo Rural chegou a acompanhar este projeto e, na ocasião, visitou a fazenda do Sebastião Fróes, o primeiro proprietário rural a receber dinheiro da iniciativa, após ter aceitado destinar pasto degradado para a reconstituição da floresta.
Quatorze anos depois, só se vê copa de árvore onde o capim dominava a cena. E a área restaurada até alcançou a mata nativa que já existia no alto da encosta.
“Nós temos um manancial produzindo algo em torno de 1 litro por segundo em um momento onde nós estamos atravessando uma das piores crises hídricas dos últimos 90 anos da região Sudeste”, conta o biólogo Paulo Henrique Pereira, idealizador do projeto.
Preservação na Serra da Mantiqueira
O projeto abrange uma área de 20 mil hectares em cerca de 300 sítios e fazendas de Extrema. E já correu o mundo, sendo notícia na Alemanha, Espanha, além de ter ganhado prêmios, como um da Organização das Nações Unidas (ONU).
A ideia do biólogo Pereira se expandiu para outras regiões e o que era originalmente política pública só em Extrema, virou o Conservador da Mantiqueira, com o propósito de cobrir toda a Serra da região.
Com o patrocínio de Organizações não Governamentais (ONGs) e órgãos técnicos de governo, foram criados 28 núcleos de atuação, envolvendo 280 municípios.
Os valores e a frequência dos pagamentos variam em cada município. Mas, na média, os agricultores têm recebido R$ 250 por hectare, por ano.
Pensando só na Serra, a dimensão do projeto é grande. A Mantiqueira tem cerca de 500 quilômetros vertendo água para a formação de 5 importantes bacias hidrográficas: as dos rios Grande, Paraíba do Sul, Tietê, Piracicaba e Mogi/Pardo.
Risco de falta de água diminuiu em SC
Em Santa Catarina, uma outra iniciativa tem diminuído o risco de falta de água nos municípios de Balneário Camboriú e Camboriú.
Inspirada pelo projeto em Extrema, a administradora Kelli Dacol incentivou o pagamento por serviços ambientais nas duas cidades, em um programa que coordenou por 10 anos.
E ela conseguiu dar um passo à frente, ao incluir o pagamento por serviços ambientais na tarifa que o consumidor paga.
O risco de escassez de água começou a diminuir quando proprietários no entorno das nascentes toparam entrar no projeto demarcando e, em vários casos, reconstituindo áreas com investimento patrocinado.
Douglas Rocha, que é diretor-geral da Empresa de Água e Saneamento de Balneário Camboriú (Emasa), explica que as áreas recuperadas agora absorvem mais água suprindo bem os 200 mil moradores das duas cidades.
Água para todos
Pertinho da capital federal, fica um conjunto de nascentes conhecido como Águas Emendadas. Uma dessas veredas forma o córrego do Pipiripau, que abastece 200 mil moradores e 86 propriedades rurais no entorno de Brasília.
É o primeiro a fazer parte do projeto de pagamento por serviços ambientais no Brasil Central. O rio quase chegava a secar, mas, com o projeto, a situação mudou e hoje tem água para todos o ano inteiro.
Em 2017, a propriedade da Dona Marta e Nascimento entraram no programa de restauração da Adasa, a empresa responsável pelos serviços de água e esgoto do Distrito Federal.
Com o cercamento das minas d’água e o plantio de 2.500 mil árvores, o que antes era pasto degradado já mostra recuperação. Como pagamento pelo serviço ambiental prestado, os dois produtores receberam, em 5 anos, R$ 15 mil reais do programa.
O dinheiro vem recursos públicos e de ONGs.
“O projeto produtor de água é um achado, é um ganha-ganha. Ganha o produtor, porque ele pode melhorar a propriedade dele. E ganha a sociedade que vai ter água de melhor qualidade”, diz Devanir Ribeiro, o coordenador do programa em Brasília.
Fonte: Globo Rural