Com cerca de 23% da área rural do país sem acesso à internet, o agronegócio brasileiro espera que o 5G impulsione a conectividade no campo. O ministro das Comunicações, Fábio Faria, previu ontem que o setor será “o mais beneficiado” pela implantação da nova tecnologia no Brasil. O presidente do Banco do Brasil (BB), Fausto Ribeiro, disse, por sua vez, que a instituição dará suporte na transição para o 5G. Uma das possibilidades é o banco apoiar empresas responsáveis pela infraestrutura necessária para instalação da tecnologia, incluindo antenas e torres.
Faria afirmou ainda que a implementação da rede não é um projeto do presidente Jair Bolsonaro, mas um projeto do país, para colocar o Brasil em condições de competitividade com outros “players”. O ministro disse que todos os setores vão tirar proveito do 5G, caso da mineração, da educação e da saúde, mas que o “agronegócio será o mais beneficiado”.
“Todas as empresas que visitamos no mundo estão prontas para atender o agro brasileiro”, afirmou Faria em debate sobre a nova tecnologia promovido pela organização Esfera Brasil. Segundo ele, o leilão do 5G vai possibilitar a expansão da rede 4G no país, o que já “ajuda a atender o agronegócio”.
Também presente ao evento, Ribeiro, do BB, disse que o 5G trará acréscimo de R$ 1,2 trilhão ao PIB brasileiro até 2035 e que o banco vai apoiar “intensamente” o setor agrícola. O BB, reforçou, é responsável por cerca de 55% do crédito disponibilizado para produtores rurais.
O diretor de agronegócios do Banco do Brasil, Antonio Chiarello, afirmou que existem muitas oportunidades que conectam o sistema financeiro ao agronegócio, seja por crédito, soluções financeiras ou seguros. “O setor é muito heterogêneo, pequenos, médios e grandes produtores passam a ter acesso de forma simples à tecnologia”, disse Chiarello. E acrescentou: “O agro sempre foi tecnologia pura, sementes, bioinsumos, máquinas. O 5G impulsiona essa transformação no campo. Quando se olha a carteira do Banco do Brasil, são 1 milhão de produtores atendidos”.
O diretor de inovação e tecnologia da John Deere, Rodrigo Bonato, disse que, hoje, apenas 23% da área rural do país tem algum tipo de conectividade. Ao mesmo tempo, 89% das sedes das fazendas têm acesso à internet. Segundo ele, existe uma enorme demanda por conectividade, e o produtor brasileiro está interessado em novas tecnologias. Bonato destacou o ganho de produtividade que uma melhor conexão pode trazer.
“Será possível fazer uma rastreabilidade completa da cadeia de produção de alimentos baseada nos pilares de sustentabilidade, social e ambiental. Estudos mostram que a conectividade, com melhor gestão de defensivos e sementes gera um aumento [de produtividade] de dois a quatro sacas por hectare”, afirmou Bonato.
O diretor geral da AGCO América do Sul, Rodrigo Junqueira, afirmou que, “a curto prazo”, o grande estímulo para o setor é o quanto a conectividade vai ser impulsionada no campo por meio do edital do leilão do 5G, que prevê cobertura obrigatória com 4G em cidades ou áreas ainda não conectadas. “O desafio é produzir mais, melhor e mais barato, e isso depende da tecnologia, seja no insumo, seja nas máquinas. Para isso, é preciso ter conectividade.”
O diretor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Bruno Lucchi, disse que a conectividade pode melhorar o fornecimento de assistência técnica virtual para os produtores. Lucchi afirmou que, na pandemia, muitas vezes os produtores tinham que subir em áreas mais altas de suas propriedades ou ir para a cidade para conseguir receber orientação técnica remota.
Fonte: Valor Econômico