Entrevista com Eduardo Vanin – Analista de Mercado da Agrinvest sobre o Mercado de Derivados
O caminhar dos preços do farelo e do óleo de soja tem muito a mostrar sobre o comportamento da demanda pela oleaginosa em grão e, assim, também sobre a trilha que os futuros da commodity deve continuar seguindo, como explicou ao Notícias Agrícolas o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities, nesta quinta-feira (26). Afinal, segundo os cálculos da consultoria, somente a China ainda precisaria comprar cerca de 20 milhões de toneladas de soja até fevereiro para estar adequadamente abastecida.
A soja do Brasil neste momento está mais cara do que a dos Estados Unidos, mesmo com alguns bons volumes disponíveis por aqui. E se essa soja não sair agora, vai sair em janeiro, competitindo com a soja americana, ao passo que a competitividade brasileira volta a crescer em fevereiro com a chegada da nova safra.
“E isso aconteceu esse ano, o que fez a China fazer compras de hedge nos EUA se protegendo do atraso no Brasil, coisa que não vejo acontecendo esse anoe tudo isso faz parte desses próximos seis meses, com as vendas americanas, a transição para o Brasil e uma demanda chinesa que não está da mão para a boca, e o único ponto positivo é que a safra americana não deve ser muito grande. Inclusive, acreditamos que no relatório de setembro do USDA poderemos ter uma redução na produtividade de milho e soja”, afirma o analista.
Diante dos atuais níveis de prêmios, “a soja brasileira, a partir de fevereiro, é imbatível, e se formos exportar 92/93 milhões de toneladas, teremos que exportar bastante soja entre fevereiro e agosto”. E de olho nestas boas oportunidades, os chineses já teriam comprado 8 milhões de toneladas de soja da safra 2021/22 do Brasil.
FARELO DE SOJA
As vendas de farelo de soja na China têm crescido forte nos últimos dias e agosto deve terminar com mais de cinco milhões de toneladas. O volume retoma os níveis mensais a patamares considerados “normais”, depois de meses de vendas mais lentas. “As indústrias na China vão vendendo mais e, por isso, têm que comprar mais soja também”.
E por mais que a suinocultura seja um importante elo desste processo, desta vez não é daí que vem este aumento de demanda. Afinal, a suinocultura no país continua sofrendo com margens muito apertadas, tendo perdido até US$ 100,00 por cabeça de animal abatido em julho, contra uma média de ganho de US$ 400/cabeça no ano passado.
“Então, não é desse setor que vem esse aumento da demanda. Há, sazonalmente, um consumo maior da psicultura – muito importante na China, a maior do mundo – e também uma pressão maior de venda por parte das indústrias, mais do que uma pressão de compra. A grande dúvida agora é se essas vendas de farelo vão continuar fortes depois de agosto ou se vão diminuir”, explica.
Além da questão da suinocultura, os fretes marítimos muito elevados também dificultam uma melhora das margens. E essa melhora poderia vir ou da matéria-prima mais barata – via Chicago ou prêmios nas origens – ou com fretes marítimos, os quais não têm fundamentos que sinalizem uma redução.
“A China vai continuar comprando, mas muito cadenciado, nada como vimos no ano passado, quando a margem estava boa, as compras aconteciam em volumes bastante grandes e vimos como foi grande o programa de exportação americano, o que levou a soja de US$ 9,00 até mais de US$ 16,00 o bushel. O momento é bem desafiador para as processadoras, estão com a cobertura bem curta, mas margens bem aquém do ideal”, afirma Vanin.
A utilização de outros grãos para compor a ração animal e diminuir a utilização de soja já também não surte grande mudança no atual cenário, uma vez que os preços do trigo – que é um substituto interessante – tambémn estão bastante elevados. Porém, “na China ainda não acabou o trigo barato, e o trigo ainda está mais barato do que o milho, no mundo já não é mais”, explica Vanin, complementando que esse quadro não deve durar muito mais, e o consumo de farelo de soja deve voltar a crescer.
ÓLEOS VEGETAIS
A China registra agora um menor esmagamento de soja, o que resulta em menos óleo de soja enquanto o consumo do derivado no país está crescendo, inclusive por falta de substitutos. “O óleo de soja na China é a ponta forte do complexo, e em todo mundo também”, diz o analista.
Além disso, estão elevados também os óleos de palma, girassol e canola. As perdas pelo calor intenso na canola do Canadá irão resultar em exportações menores para a nação asiática, o que serão mais um ponto de alta para os preços do óleo.
Para o óleo de soja na Bolsa de Chicago, boa parte da movimentação se deve às especulações e às definições esperadas pelas políticas de biocombustíveis nos Estados Unidos. E também como explica Vanin, mais do que o biodiesel, o diesel renovável é um mercado que exige atenção.
“O diesel renovável não está sob o mandatório como o biodiesel e ele tem tudo a ver com os estados democratas da costa oeste que querem carbono zero. E esse produto já tem bom incentivo financeiro, está alinhado com o Acordo de Paris e tem tudo a ver com o pilar verde sob o qual se elegeu Joe Biden. E vai faltar óleo nos EUA, é só olharmos os projetos que estão em andamento. Na nossa opinião na Agrinvest, os EUA mudaram a chave de exportador de soja para produtor de óleo para biocombustíveis, e isso inclui o diesel renovável. E o Brasil vai ter que assumir cada vez mais esse papel de exportador de soja “, detalha Eduardo Vanin.
Fonte: Noticias Agrícolas