Nos primeiros cinco meses deste ano, a margem média de lucro de confinadores que atuam em São Paulo, Goiás e Mato Grosso foi de R$ 461 por cabeça, ou 7,6%, o que representou um recuo de 70% em relação a 2020 e de 50% em comparação com os resultados de 2019. Nos dois anos anteriores, as margens foram de 25% e 15%, nesta ordem, o equivalente a R$ 1,1 mil e R$ 488 por animal, considerados diferentes valores finais de vendas.
Os dados são de um levantamento feito pela Gestão Agropecuária (GA), que tem a gestora de venture capital KPTL como um investidor. Com sede em Maringá (PR), a empresa de gestão estratégica de informações para a pecuária avaliou os resultados de uma amostra de 1,5 milhão de cabeças de gado distribuídas em propriedades de perfil similar, com giro anual a partir de 10 mil cabeças, considerado o período entre janeiro e maio dos três anos citados. Ao todo, a consultoria monitora confinamentos que somam 3,5 milhões de animais, um ativo de R$ 22 bilhões.
As margens vêm ficando mais estreitas nos últimos cinco anos mesmo com a valorização de venda dos animais, o que tem exigidos que os pecuaristas melhorem a eficiência na engorda, observa Paulo Dias, CEO e fundador da empresa. “Temos visto aumentar o investimento em tecnologias e, também, há um movimento de amadurecimento de gestão nas propriedades para lidar com o cenário, principalmente em 2021”, conta.
O custo de produção para a engorda neste ano está mais pressionado após a valorização dos grãos utilizados nas rações, m particular o milho. “E muitos produtores não estavam estocados como em anos anteriores”, explica. O ‘peso’ das rações na composição de custo de engorda chegou à média de 88% no período avaliado neste ano, ante 83% em 2020 e de 81% em 2019. Somados o insumo nutricional e a alta do boi magro, o capital de giro necessário para confinar praticamente dobrou, afirma Dias.
De acordo com a GA, melhorar o aproveitamento na fabricação de rações, de 65% para 95%, por exemplo, pode contribuir para uma economia de cerca de R$ 500 mil considerada a necessidade de um rebanho de 10 mil cabeças. A melhoria de eficiência no confinamento pode acontecer de diversas maneiras num sistema produtivo tão distinto como o da pecuária brasileira – seja com o emprego ou não de automação, dizem fontes. Entre as propriedades avaliadas por Dias, por exemplo, pelo perfil capitalizado dos donos, a busca por maior eficiência ocorre a partir de aporte em modernizações que envolvem desde sensores de pesagem individual de animais, que geram informações de eficiência biológica para análise de desempenho, passando por softwares de gestão administrativa, à automação em caminhões de distribuição de rações.
O empresário Victor Campanelli, diretor da Agro Pastoril Paschoal Campanelli, companhia proprietária de um confinamento cujo abate deve alcançar 90 mil cabeças neste ano, conta que as tecnologias desenvolvidas pelo grupo, que atua também em agricultura e tem expectativa de receita de R$ 700 milhões em 2021, têm sido fundamentais para reduzir exposição às altas de insumos. “Parte do ganho de margem vem pela valorização do boi estocado e parte vem da gestão, por isso estamos constantemente melhorando os processos”, explica.
O grupo verticalizou a parte nutricional há bastante tempo e, em 2019, um novo braço de negócios voltado à nutrição, chamado Tecnobeef, passou a atender outros pecuaristas. Como nem toda evolução precisa vir de softwares, diz, um estudo realizado pelo grupo no verão do ano passado, por exemplo, indicou que incluir três metros quadrados de sombra por animal na atividade, reduz o consumo diário de água de cada um em 7 litros. Com isso, o boi passou a ganhar seis quilos no período de confinamento, sem a necessidade de acrescentar nutrição.
Fonte: Valor Econômico