Os produtores rurais brasileiros têm contratado cada vez mais empréstimos bancários sem juros controlados para financiar a atividade, aponta um relatório divulgado nessa segunda-feira pelo Banco Central. A participação dos recursos com taxas livres ou aqueles direcionados, mas não controlados, no financiamento do campo saiu de 14,5% na safra 2015/16 para 30,2% na temporada 2019/20, passando de R$ 24,1 bilhões para R$ 57,8 bilhões. Já as fontes controladas, ainda protagonistas nesse mercado, recuaram de R$ 142,6 bilhões para R$ 133,3 bilhões.
Os juros pagos nos contratos de crédito rural caíram em todas as categorias analisadas, tanto de porte de produtor quanto de fonte de recursos. As quedas mais acentuadas foram registradas nas linhas de direcionamento não controladas, que saíram de 16,1% ao ano na safra 2015/16 para 8,2% no ciclo 2019/20, e nos programas com taxas livres, que passaram de 14,1% para 9,1%.
A redução da Selic influenciou esse movimento, que foi ainda mais expressivo nos investimentos. A busca pelos recursos não controlados é maior entre médios e grandes produtores de soja, milho e carne bovina devido à integração com cadeias internacionais, aponta o BC. O desembolso desse tipo de financiamento cresceu mais nos bancos privados, que responderam por quase 70% do incremento dessas operações entre dezembro de 2019 e dezembro de 2020.
Segundo o Banco Central, o estoque total de crédito rural em 2020 chegou a R$ 342,1 bilhões, crescimento de 8,2% em relação ao ano anterior. “O saldo devedor das operações de crédito rural concedidas com funding em recursos livres aumentou nominalmente 126,7% entre 2017 e 2020 (atingindo R$ 43,6 bilhões em 2020), enquanto aquelas concedidas com base nos recursos direcionados aumentaram 10,5% (totalizando R$ 289,7 bilhões). Com relação aos recursos livres, os valores para custeio aumentaram nominalmente 128,6% (atingindo R$ 24,1 bilhões), e os investimentos aumentaram 219,6% (totalizando R$ 15,2 bilhões)”, diz o Relatório de Economia Bancária.
O BC destacou também que houve diminuição na concentração do segmento de crédito agropecuário no país. O Banco do Brasil, no entanto, mantém a dianteira com 52,9% do mercado, bem à frente dos concorrentes, mas com fatia menor a cada ano. A participação das cooperativas de crédito cresceu, para quase 17%, e dos bancos comerciais e múltiplos para 23,8%.
O mercado de crédito rural ainda é considerado “altamente concentrado”. O índice que mede essa concentração caiu de 3.275 pontos (73,4%), em dezembro de 2017, para 2.999 pontos (69,2%), em dezembro de 2020, com recuo maior nas operações com recursos livres. O indicado é abaixo de 2.500 pontos.
Fonte: Valor Econômico