Com a ascensão dos preços do milho, confinadores estão lançando mão de insumos mais econômicos para reduzir a conta com o cereal no prato da boiada
A conta da ração fica cada vez mais salgada para o confinador. Na semana passada, o índice do milho, calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), de Piracicaba (SP), ultrapassou a marca histórica dos R$ 100, e continua subindo.
Na quarta-feira (12/5), a média fechou em R$ 102,39 pela saca de 60 quilos. Em pensar que, há exato um ano, a mesma saca valia R$ 50,11, não é estranho notar que muitos pecuaristas optem por ingredientes alternativos ao milho.
O Portal DBO consultou alguns produtores e especialistas para saber quais ingredientes estão ocupando parte do espaço do cereal na formulação da ração. É válido lembrar que a substituição é apenas parcial, já que o potencial energético do milho é inigualável. Mas dependendo da região há opções interessantes como a cevada, a polpa cítrica, a mandioca e até a torta de dendê.
Agroindústria amazônica
Um dos confinamentos entrevistados que tem diversificado mais a alimentação do seu rebanho é o do grupo paraense Mercúrio Alimentos. Com sede em Ananindeua, o grupo tem dois confinamentos na região metropolitana da capital do Pará, Belém. Um no município de Santa Isabel do Pará e outro em Abaetetuba.
No ano passado, o grupo abateu 22 mil bovinos e a meta deste ano é terminar 36 mil animais. No cocho, além de volumoso e milho, também estão resíduos de mandioca, cevada, dendê e laranja. Os ingredientes alternativos são obtidos em agroindústrias próximas aos confinamentos e que processam esses alimentos.
“Hoje, com preço do milho como está, conseguimos trabalhar bem com esses subprodutos, e tem compensado”, afirma o zootecnista Diogo Ramos Menezes, gestor do confinamento da Mercúrio Alimentos.
Segundo ele, a maior dificuldade é lidar com a conservação em função da alta umidade. A casca de mandioca chega a representar 40% de matéria seca e a cevada 40%.
Por isso, as compras são feitas somente quando há a disponibilidade dos produtos, sem fazer ter de fazer grandes estoques nas propriedades do grupo.
“A cevada entra em torno de 7% a 8% da matéria seca da ração, a casca de mandioca entra em torno de 4% a 5%, e a torta de dendê em torno de 7%. No ano passado tivemos a disponibilidade de bagaço de laranja. O produto também tem um índice de umidade muito, com até 20% de matéria seca. Ele entrou em 12% da dieta”, diz Menezes.
SP e MS
Alguns confinamentos em Mato Grosso do Sul e São Paulo tem incluído nas dietas a polpa cítrica e subprodutos da mandioca, em regiões produtoras e beneficiadoras desses alimentos, segundo o zootecnista Ricardo Bernardo Tonetto, consultor técnico e comercial do paulista Grupo Bueno Cevacom, que distribui insumos aos produtores.
O porém esbarra no mesmo caso do milho: disponibilidade, especialmente a polpa cítrica, que Tonetto vê ficar mais cara até que o próprio milho.
“Se não fosse o preço e a disponibilidade, seria um ótimo item pois pode substituir 40% do milho. Já o resíduo de mandioca é um energético excelente, porém não temos disponibilidade suficiente no mercado”, avalia.
Toretto é especialista em resíduos para alimentação de bovinos, especializado em distribuição de cevada. Mas mesmo a cevada, tem suas limitações de uso, e recomendada em apenas em alguns casos.
“A cevada se enquadra bem quando eu penso em vacas de cria, com bezerro ao pé, e recebendo uma suplementação a pasto para passar uma seca mais prolongada, aí, sim, eu posso dispensar o milho. Agora, em um confinamento de alto desempenho, a estratégia é reduzir um pouco a quantidade de milho, mas nada expressivo, pois é preciso uma fonte energética para dar o acabamento nos animais”, explica.
Preço também subindo
A estratégia da cevada já era uma tradição do pecuarista Antonio Roberto Alves Corrêa, com fazenda em Buri (SP), presidente da Associação Brasileira do Santa Gertrudis.
Com a oferta vinda de uma cervejaria próxima, Corrêa, que compra 25 toneladas diárias de resíduo do grão, com cerca de 25% de PB (proteína bruta) na matéria seca, pode rever sua estratégia.
“O custo ainda está aceitável, mas já fomos avisados que a cevada deve ficar mais cara. Se subir muito, devo rever o uso dela”, diz Corrêa.
O subproduto serve como um substituto de volumoso, do farelo de soja e pouco do milho. Mas, pelas análises do produto, compensa mais usar integralmente sua silagem de milho. Até seria menos trabalho, já que o resíduo ainda vem com um nível considerável de umidade. “Acabo pagando pela água, que vou ter de secar depois”, diz o produtor. O confinamento de Corrêa possui capacidade estática de 2 mil bovinos e abate 6 mil animais, por ano.
Fonte: Portal DBO