Segundo a Abiove, medida pode fazer com que menos soja seja esmagada, aumentando a oferta do grão e diminuindo a disponibilidade do farelo
O setor do biodiesel está preocupado com a redução de 13% para 10% na mistura do produto ao diesel . O governo federal defendeu a medida no 79º Leilão de Biodiesel (L-79), promovido pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), para evitar uma alta acentuada nos preços do combustível com o retorno da cobrança de PIS/Cofins.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), André Nassar, se for uma redução momentânea, o problema será contornado. Porém, caso o Executivo decida manter o percentual menor ao longo do ano, “vai fragilizar estruturalmente o programa de biodiesel”.
Nassar lembra que a mistura do biocombustível ao diesel já foi reduzida no passado, mas por problemas na oferta. Agora, segundo ele, há excedente de 200 mil metros cúbicos. O problema é que o biodiesel está valorizado.
“Me preocupa muito se o governo quiser manipular a mistura por conta do preço”, diz. Caso adote essa postura, o presidente da Abiove acredita que o país terá problemas para alcançar para 2023, quando a mistura deve chegar a 15%.
Impacto da menor produção de biodiesel
Com a menor demanda por biodiesel, a tendência é que as esmagadoras diminuam a sua produção. Assim, vai sobrar mais soja em grão para ser exportada, o que pode comprometer os preços pagos ao produtor.
Para piorar, menos biodiesel sendo produzido implica também em menos farelo de soja, pois 20% do produto esmagado vira óleo vegetal, a partir do qual se dá 70% da produção do biocombustível. “Quem é que vai pegar todo este volume de soja, colocar num estoque e carregar até o segundo semestre? O esmagamento pode sofrer redução e ter menos farelo, o que não é bom para a indústria de carnes”, pontua.
A Abiove, junto da Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio) e da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), estudam medidas jurídicas. Porém, as entidades acreditam que o melhor caminho é convencer o governo sobre o problema que essa decisão representa.
“O que o Brasil vende lá fora é que a nossa matriz energética é uma das mais limpas do mundo. Entre os argumentos, toda a parte de geração de energia pelas hidrelétricas e cogeração por bagaço de cana e outros resíduos. E, claro, a nossa política de biocombustíveis que é muito intensa. Se essa redução caminhar pelo resto do ano, a gente vai sujar a nossa matriz energética. Serão emitidos menos CBios [créditos de carbono] e será difícil cumprir com a meta [do Renovabio]”, finaliza Nassar.
Fonte: Canal Rural