O Plano Safra para a temporada 2021/22, que o governo federal anunciará antes de julho, deve ter um volume de recursos superior aos R$ 236,3 bilhões ofertados em 2020/21. Fontes ouvidas estimam que o total pode ser 8% a 10% maior, de R$ 255 bilhões a R$ 260 bilhões. O incremento seria possível porque os depósitos à vista, ou seja, o dinheiro depositado em conta corrente, aumentou significativamente no ano passado, assim como a poupança rural, porque a insegurança gerada pela pandemia de covid-19 levou o brasileiro a restringir gastos e deixar o dinheiro parado na conta. Parcela relevante do crédito concedido ao agronegócio no Plano Safra, em torno de 30%, vem justamente dos depósitos à vista.
De acordo com informações às quais o Broadcast teve acesso, a previsão atual é de que o volume oriundo de depósitos à vista a ser destinado ao agronegócio em 2021/22 fique próximo de R$ 72,5 bilhões, 28,2% acima dos R$ 56,6 bilhões direcionados ao setor no ciclo 2020/21. Esse valor a mais já considera a redução prevista – em 2021 – do porcentual de depósitos que deve obrigatoriamente ser aplicado em crédito rural, de 27,5% para 25%. Dos R$ 72,5 bilhões, 22% ou R$ 15,9 bilhões iriam para o Pronaf (programa de apoio à agricultura familiar), majoritariamente para custeio; 28% ou R$ 20,3 bilhões para o Pronamp (programa voltado a médios produtores), e 50% ou R$ 36,3 bilhões para outros produtores.
“No ano passado as pessoas gastaram menos e vimos o que chamamos de poupança circunstancial ou por preocupação. Em anos anteriores tanto os depósitos à vista como em poupança vinham caindo porque as pessoas estavam buscando outras aplicações (mais rentáveis)”, diz o vice-presidente de Agronegócios e Governo do Banco do Brasil, João Rabelo. “Por conta disso, a expectativa é de ter mais recursos para o Plano Safra”, comenta o executivo da instituição, maior financiadora do setor no País.
“O que aconteceu em 2020 e que deve contribuir para (a oferta de crédito rural em) 2021 é que os depósitos à vista dos principais bancos foi muito forte. Então devemos ter mais recursos para serem aplicados (no agro) e o número do Plano Safra deve ser maior”, reforça o diretor de Agronegócios do Bradesco, Roberto França. O executivo prevê que o Bradesco deve entrar na safra 2021/22 com R$ 12,5 bilhões provenientes de depósitos à vista, que necessariamente serão aplicados na agropecuária. Na safra 2020/21, o banco contou com R$ 10,9 bilhões da mesma fonte.
O diretor de Agronegócios do Itaú BBA, Pedro Fernandes, recorda que o governo tem sinalizado a intenção de fortalecer o volume direcionado à agricultura familiar e a médios produtores, por meio do Pronaf e Pronamp, e que por isso tem expectativa de restrição de recursos para produtores não enquadrados nestas categorias. “Mas os recursos livres (com taxas de juros de mercado) crescem conforme o apetite dos bancos, então o número do ministério deve ficar bonito”, avaliou.
Em 2020/21, dos R$ 179,38 bilhões previstos para custeio, R$ 130,61 bilhões foram para grandes produtores, dos quais a maior parte, R$ 76,88 bilhões, com juros de mercado, e R$ 53,74 bilhões com taxas controladas. Para médios produtores, foram R$ 29,36 bilhões, com taxas controladas (equalizadas e sem equalização), e aos agricultores familiares foram oferecidos R$ 19,4 bilhões, também com taxas de juros com teto.
A previsão de que o governo reduzirá o porcentual dos depósitos a ser destinado ao crédito rural, de 27,5% para 25%, não deve impedir o anúncio de um plano maior, segundo os executivos ouvidos. Entidades do setor agropecuário paranaense solicitam a manutenção do porcentual de 27,5% para os depósitos à vista, e de 59% para a poupança rural. Os bancos, porém, enxergam poucas chances de isso ocorrer.
“Não vemos o governo voltar atrás na decisão de reduzir a exigibilidade deste ano e do próximo. Pode ser que, por conta da pandemia (a decisão seja postergada), mas não aposto nisso”, afirma o superintendente executivo de Agronegócios do Santander Brasil, Ricardo França. “É possível que a equipe de política monetária decida reduzir a exigibilidade (o porcentual) para destinar mais dinheiro para a economia em geral”, reforça Rabelo, do BB.
Roberto França, do Bradesco, pondera que, mesmo com um possível aumento do volume total a ser anunciado pela Agricultura, é preciso lembrar que os custos de produção subiram bastante de um ano para cá. “Uma série de itens teve aumento de custos, como óleo diesel, insumos. Para cultivar a mesma área já vai ser preciso uns 30% a mais, e a perspectiva é de aumento de área plantada”, alertou.
Fonte: Broadcast