Com atraso na colheita da soja o milho ficou prejudicado e produtor deve observar outras culturas
As chuvas constantes dos últimos dias, em boa parte de Mato Grosso, atrasaram a colheita da soja. Como a semeadura em muitas áreas já havia sido mais tardia, em função da falta de umidade no solo no início da safra, os produtores terão de buscar alternativas ao milho para cultivar em talhões de suas propriedades. Culturas menos exigentes em água, como o sorgo, por exemplo, devem ganhar espaço. Outras opções que podem ser consideradas são os consórcios forrageiros.
De acordo com boletim divulgado pelo Instituto Mato-grossense de Pesquisa Agropecuária, Imea, até o dia 5 de março 67,2% da soja havia sido colhida no estado. Nessa mesma data na safra passada, o índice era de 91,47%. Em regiões como a centro-sul a situação é ainda mais preocupante, com 50,42% da safra colhida até então. O atraso fez com que produtores perdessem a janela ideal de semeadura do milho, conforme Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), o que comprometerá o cultivo do grão em alguns talhões das propriedades.
Com menor investimento, o milho variedade ainda pode ser uma alternativa para o produtor. “Usando algumas cultivares de milho variedade, como a BRS 4103, é possível colher de 80 até 100 sacas com investimento menor. Para quem está perto do complexo de etanol de milho, onde o preço é melhor, pode ser uma opção interessante”, afirma Flávio Wruck, chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Agrossilvipastoril.
Sorgo
Menos dependente de água, o sorgo tem sua janela de semeadura um pouco mais extensa, tornando-o uma opção viável, mantendo uma receita com grãos na segunda safra. Com origem africana, a planta de sorgo possui mecanismos fisiológicos, como dormência e enrolamento de folhas que permitem melhor convivência com o estresse hídrico de veranicos comuns nos meses finais da estação chuvosa.
“O preço do grão de sorgo é atrelado ao preço do grão de milho. Pagando-se bem pelo milho, vai se pagar bem pelo sorgo. Ainda mais com a menor oferta de milho, vai haver demanda pelo sorgo que é o principal substituto do milho na produção de rações”, explica Flávio Tardin, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo.
Algumas das cultivares de sorgo, como o granífero BRS 373 e o forrageiro BRS Ponta Negra, ainda trazem como vantagem o controle de nematoides. Porém, esses materiais têm sido muito procurados e já não há sementes disponíveis. Uma alternativa entre os graníferos é o BRS 330
“Sorgo bem adubado acelera seu ciclo. Então vai refletir em produtividade e no escape da seca”, destaca Flávio Tardin.
O sorgo biomassa BRS 716, por sua vez, é uma boa opção para produção de palhada para o sistema de plantio direto, enquanto o sorgo forrageiro BRS 810 pode ser usado para pastejo. O produtor, no entanto, deve estar atento ao controle de pragas, como o pulgão-da-cana-de-açúcar. Além disso, deve observar se o material escolhido é indicado para segunda safra.
“Muitas cultivares para silagem são sensíveis ao fotoperiodismo. Elas crescem pouco e já têm florescimento, não atingindo o volume de massa adequado. Então esses produtores devem ficar atentos aos cultivares”, alerta Tardin.
Outra espécie que ainda tem viabilidade técnica para cultivo é o girassol. Porém, é preciso ficar atento ao mercado para comercialização.
Consórcios forrageiros
Outra alternativa que pode trazer benefícios para os sistemas agrícolas é o uso de consórcios forrageiros. Dependendo das espécies utilizadas, o produtor pode ter como resultado aumento de matéria orgânica no solo, redução da pressão de nematoides, descompactação do solo e maior ciclagem de nutrientes.
Pesquisadores da Embrapa e da Universidade Federal de Mato Grosso vem trabalhando com diferentes configurações de consórcios e avaliando os benefícios tanto em termos de produção de forragem quanto nos aspectos químicos, físicos e biológicos do solo. O uso dos consórcios pode ser uma oportunidade de iniciar agora o preparo para colher uma melhor safra no ano que vem.
“Os consórcios são uma forma de você preparar seu solo. Ter um ganho de serviços ecossistêmicos, descompactação, adubação verde. Se você usar uma leguminosa, a entrada de nitrogênio é muito boa. A ciclagem de nutrientes é bastante interessante. Se temos um consórcio com seis toneladas de matéria seca por hectare, quando fazemos uma equiparação da quantidade de nutrientes que estará estocado nessa massa de matéria seca e comparando com as formas de NPK mineral, vemos que temos de R$ 8 mil a R$ 10 mil em nutrientes estocados por hectare. Então é uma forma não só de preparar a segunda safra, mas também de poupar dinheiro”, destaca Flávio Wruck.
Opções de consórcios
O Sistema Gravataí, que consorcia braquiária com feijão-caupi, pode ser usado tanto em integração lavoura-pecuária quanto em sistemas agrícolas com plantio direto na palha. No caso do uso na ILP, a leguminosa será pastejada junto ao capim, aumentando o teor proteico do alimento dos animais. Outra vantagem é a fixação biológica de nitrogênio, que beneficia a braquiária. No uso somente como cobertura do solo e palhada, o consórcio irá melhorar o solo, com aumento do teor de matéria orgânica, descompactação e ciclagem de nutrientes.
Outras opções em fase de validação pelos pesquisadores são consórcios de braquiárias com trigo mourisco, feijão guandu, crotalárias, níger e nabo forrageiro. Cada espécie pode trazer um benefício diferente como a fixação biológica de nitrogênio, redução da população de nematoides, descompactação do solo e ciclagem de nutrientes como fósforo e potássio. Há ainda a opção de consórcios múltiplos, em que a mistura de espécies de diferentes famílias faz com que as raízes explorem melhor o perfil do solo.
“Antes de escolher a cultura ou consórcio que for usar, é importante que o produtor verifique o histórico de chuvas e as previsões já disponíveis para sua região. Espécies como a BRS Ruziziensis conseguem produzir muito bem com 120 a 150 mm de chuva espaçadas em 60 dias”, alerta Flávio Wruck.
Fonte: Agrolink