A colheita da soja continua ainda bastante atrasada no Brasil e os primeiros volumes que se mostram disponíveis, além de baixos, não apresentam padrão para exportação, empurrando o início mais intenso e efetivo dos embarques brasileiros para os próximos meses. “Esses volumes deverão ser usados em mistura pela indústria nacional para fazer farelo. Isso não afeta muita coisa, o mercado lá fora não vê isso e lá observam apenas a safra em geral”, explica Vlamir Brandalizze.
Segundo o consultor, os problemas seguem pontuais e concentrados mais ao Sul do Brasil, principalmente no Paraná. O excesso de chuvas no estado vem tirando parte da qualidade da soja e também o ritmo dos trabalhos de campo.
Assim, as exportações este ano ainda não ganharam ritmo, os embarques são lentos em janeiro – 49,5 mil toneladas apenas, contra 1,4 milhão no mesmo mês de 2020, segundo dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior) em função da falta de produto, enquanto para fevereiro o lineup brasileiro de soja já se mostra próximo de 11 milhões de toneladas, de acordo com informações apuradas pelo Notícias Agrícolas.
A Pátria Agronegócios trouxe a apuração de duas imagens que mostram o fluxo de navios graneleiros saindo da China com destino Brasil e Estados Unidos e a diferença é bastante clara:
“Os chineses estão chegando em peso para carregar soja no Brasil entre fevereiro e março”, explica Matheus Pereira, diretor da consultoria. “A demanda está sendo represada. A soja disponível nos próximos dias, próximas semanas, irá ganhar prêmio”, complementa.
No último dia 18, Pereira deu uma entrevista ao Notícias Agrícolas e afirmou que os prêmios estavam subvalrorizados e que voltariam a subir.
Em seu último levantamento, a Pátria informou que apenas 1,82% da área brasileira de soja já havia sido colhida, contra 8,83% do ano passado e frente à média de 8,83% dos últimos anos.
Em Mato Grosso, maior estado produtor de soja do Brasil, apenas 4,71% da colheita está concluída, de acordo com os dados do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária). O índice também se mostra bem abaixo da safra anterior e da média dos últimos cinco anos, como ilustra o gráfico abaixo.
“A situação climática adversa no período da semeadura prejudicou as primeiras áreas, e, agora as chuvas em elevados volumes vem dificultando a entrada do maquinário no campo, o que acaba atrasando os trabalhos nas lavouras (…) Nesse período decisivo, os players estão de olho na previsão do tempo à espera de uma redução nos volumes de chuvas para
que as máquinas possam entrar no campo e recuperar oatraso de 21,97 p.p. em relação à temporada 19/20″, informam os especialistas do Imea.
Enquanto isso, os estoques de soja nos portos da China não são dos maiores. “Os dados dos portos da China sinalizam que eles não estão tão abarrotados de soja, mesmo com exportações do país em ritmo recorde nos EUA. O que poderia explicar os baixos estoques são os embarques brasileiros menores entre outubro e dezembro”, diz Karen Braun, analista de commodities da Reuters Internacional. ]
E o período citado por Karen para as operações Brasil-China já se refere, justamente, ao intervalo em que o Brasil já não registrava volumes consideráveis da oleaginosa. “O Brasil se esvaziou de soja, não tínhamos nada para ser embarcado. A demanda foi represada. Quando o produto voltar a estar disponível vai dar disputa entre os compradores”, alerta Matheus Pereira.
Fonte: Notícias Agrícolas