Combinação entre oferta reduzida, demanda em alta, clima desfavorável e uma boa dose de incerteza puxou a alta
A combinação entre oferta reduzida, demanda em alta, clima desfavorável e uma boa dose de incerteza levou os preços do leite no país a alcançarem, em agosto, o maior valor real da série histórica do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP).
Alta de 10,5% no mês
O valor do litro do leite captado em julho e pago ao produtor em agosto subiu 10,5% na comparação com o do mês imediatamente anterior, para R$ 1,9426 por litro na “média Brasil” – que considera os preços nos principais Estados produtores -, resultado de uma disputa acirrada das indústrias pela matéria-prima.
“Esse cenário vem se repetindo nos últimos três anos. Precisamos de mudanças estruturais na cadeia, com maior alinhamento para interesses como eficiência e qualidade”, diz Natália Grigol, pesquisadora do Cepea. A produção brasileira tem se mantido estável em 32 bilhões de litros.
Neste ano, além da entressafra, a queda na oferta é resultado da estiagem severa no Sul do país, que adiou o começo da safra na região, e da valorização do dólar ante ao real, que reduziu as importações. Nos primeiros sete meses deste ano, o Brasil importou 492 milhões de litros de produtos lácteos, 28,5% a menos que no mesmo período do ano passado. As importações respondem por entre 3% e 5% da demanda brasileira, e voltaram a crescer neste semestre.
Com isso, muitos produtores “secaram” as vacas ou mesmo descartaram animais, aproveitando a arroba bovina em alta.
Consumo crescente em 2020
Mas o consumo voltou a crescer em maio, amparado pelo auxílio emergencial, e a produção não acompanhou o movimento. “O setor tem essa flexibilidade, mas a incerteza ainda é uma dificuldade”, diz Grigol. Embora o mês de agosto seja normalmente marcado por picos de preços ao produtor – com a entressafra no Sudeste e no Centro Oeste-, neste ano o cenário tem componentes diferentes de quando o recorde anterior de preços foi alcançado, em agosto de 2016.
Naquele ano, o valor médio pago ao produtor chegou a R$ 1,7815 por litro mas os custos de produção aumentaram em consequência da quebra da safra de milho – e a alta não foi compensada pela valorização da matéria-prima.
Neste ano, o aumento de custos é inferior ao da receita. Enquanto os preços do concentrado cresceram 10% e os da suplementação subiram 6% no acumulado de janeiro a julho, o preço do leite no campo aumentou 42,9% desde o começo de 2020.
De acordo com Ribeiro, a expectativa ainda é de aumento de preços ao produtor – e, consequentemente, ao consumidor. Esse cenário deve mudar com a chegada das chuvas em outubro no Centro-Oeste e no Sudeste.
Fonte: Valor Econômico