Pandemia aumentou a pressão, diz estudo de OCDE e FAO
Os preços reais das commodities agrícolas deverão declinar nos próximos dez anos no mercado internacional em razão do menor crescimento da demanda e do aumento da eficiencia no setor. Essa uma das principais conclusões do relatório
“Perspectivas Agrícolas 2020-2029”, publicado ontem pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e pela Agência da ONU para Agricultura e Alimentação (FAO).
Mas, ainda segundo o trabalho, a pandemia de covid-19 e a consequente contração economica mundial em 2020, prevista em 6%, poderá reforçar s pressão baixistas sobre as commodities agrícolas e deixar os mercados expostos a um choque sem precedentes. Para OCDE e FAO, as crescentes incertezas provocadas pelo novo coronavírus turvaram as perspectivas para a agricultura no médio prazo, já que todos os elementos do sistema alimentar estão sendo atingidos – da produção primária à demanda intermediária, passando por transformação, comércio e logística.
A situação poderá até piorar se houver uma segunda onda de infecções, observou o secretário-geral da OCDE, Angel Gurria. Um primeiro cenário traçado mostra que a covid-19 “poderia submeter os mercados a um choque sem precedentes. Nesse cenário, os preços agrícolas caem fortemente em seguida à contração da renda disponível por causa da pandemia, sobretudo nos países de baixa renda”.
Ao longo da década, projetam as entidades, o crescimento da oferta agrícola vai superar a do demanda. De um lado, portanto, aumentará o acesso a alimentos, mas de outro crescerá a pressão sobre as cotações e sobre a renda dos produtores. Em termos reais, os preços de alimentos deverão cair 0,7% ao ano. Mas continuarão mais elevados que os níveis do inicio dos anos 2000, tanto em termos nominais como reais.
Nos próximos dez anos, os preços de carnes deverão ter queda expressiva – de 1,8% ao ano, em média -, em parte porque os atuais patamares já são considerados elevados. A cotações do açucar deverá ficar mais equilibrada, enquanto a da soja tende a se manter firme nos níveis atuais. No caso do arroz, a liberação de estoques na China continuará a jogar o preço para baixo, e o etanol poderá registrar leve aumento.
Uma diminuição da renda disponível nos países mais pobres também deverá pesar sobre a demanda. Nos próximos anos, a importância do consumo de produtos destinados à alimentação humana, alimentação animal e à fabricação de biocombustíveis seguirá inalterada.
Nesse contexto, o aumento da população mundial será o principal fator de crescimento. Pelas projeções, a disponibilidade alimentar média por habitante atingirá 3 mil calorias e 85 gramas de proteína por dia em 2029. O consumo de matérias gordurosas deverá ter a maior alta (9%).
Também segundo o relatório de OCDE e FAO, a produção de vegetais será mais guiada pelo aumento de produtividades, a partir da utilização de insumos e de investimentos em tecnologias. E as emissões de gases de efeito estufa aumentarão 6%, com a pecuária representando 80% desse previsto incremento.
Além da pandemia de covid-19, o relatório aponta outros riscos nos mercados agrícolas mundiais. Do lado da oferta, o temor é de propagação de doenças como a peste suína africana – que destruiu 20% da produção de porcos da China, por exemplo. Outros riscos são invasão de grilos, aumento da resistência a antimicrobianos, regulamentação de novas técnicas de seleção vegetal e fenômenos climáticos extremos.
Fonte: Valor Econômico