Pandemia acelerou uso de tecnologias na agricultura brasileira com retorno em produtividade
De um sítio no Vale do Ribeira, no Estado de São Paulo, onde tem passado a quarentena, o produtor Eduardo Godoi, sócio e diretor técnico da Agropecuária Reunidas do Papagaio, monitora quase tudo o que acontece a mais de 2 mil quilômetros de distância, em Sapezal (MT). A última vez que esteve na propriedade foi em 18 de março, quando o milho já tinha emergido do chão, após a soja ter sido colhida.
Em 3,6 mil hectares, ele planta ano a ano a oleaginosa seguida do milho safrinha e do milho de pipoca, que cobrem 2,2 mil hectares da área total. Entusiasta de ferramentas tecnológicas, Godoi criou o ambiente ideal para estar na fazenda semana sim, semana não, o que ajudou com a rotina pós-coronavírus.
Mas o motivo para manter cada um dos cinco serviços digitais que assina vai muito além da vontade de operar remotamente o negócio, sendo fruto da busca por padronizar operações, reduzir custos e solucionar dores recorrentes no dia a dia.
Para Otávio Celidônio, coordenador do centro de inovação AgriHub, sediado em Cuiabá (MT), a pandemia pode ser considerada um catalisador da adoção de tecnologias no campo, porque muitos foram obrigados a experimentar ferramentas que estavam deixando para depois.
“Claro que vão ter categorias de serviços mais procuradas agora, como aquelas que evitam o contato pessoal, mas a virada é mesmo no mindset do produtor”, diz. O produtor pode ceder espaço para tornar as chamadas em vídeo mais comuns, comprar insumos e até vender a produção pela internet. “Uma vez mergulhado nesse universo, a tendência é ele ir aderindo a outras ferramentas”, afirma Celidônio.
Na Reunidas do Papagaio, Godoi começou sua jornada tecnológica pela informatização das operações há cinco anos e pretende aderir, em breve, à venda de commodities online. Clima, máquinas, pragas, silos, tudo passou, pouco a pouco, a ser monitorado sujando a botina e também pilotando a tela do celular. Segundo ele, o objetivo final nunca foi deixar de visitar o campo nem deixar de tomar decisões finais por ele mesmo, mas otimizar suas idas e vindas conforme os alertas das plataformas digitais.
Embora não tenha na ponta do lápis que retorno cada tecnologia lhe trouxe, Godoi diz que a evolução proporcionada por elas é contínua e se reflete de alguma forma na sua produtividade, tendo como aliados, claro, também o clima e os manejos. Na última safra, ele colheu uma média de 65 sacas de soja. Há quatro anos, colhia 55 sacas. Em relação ao milho, prevê que irá colher 125 sacas por hectare no ciclo 2019/20 ante 106 sacas no ciclo 2017/18. No Brasil, a produtividade média da soja foi de 54,5 sacas e do milho de 89,5 sacas na safra passada, conforme estimativa da Conab.
Fonte: Valor Econômico