A primeira estimativa de área para 2025/26 de soja em Mato Grosso, trazida nesta semana pelo Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária), indicando um crescimento de 1,67% em relação à safra anterior deixa evidente a cautela e a preocupação do produtor não só do maior estado produtor da oleaginosa, mas de todo o Brasil.
A instituição estima que serão cultivados 13,01 milhões de hectares com soja na próxima temporada, no entanto, ao mesmo tempo, traz ainda uma projeção de safra de 47,18 milhões de toneladas, 7,29% menor do que a 2024/25. O número considera a média de produtividade dos últimos três anos, de 60,45 sacas por hectare.

“Essa projeção inicial reflete a cautela dos produtores quanto a investimentos mais robustos na cultura, devido a alta dos custos de produção. Além disso, embora os preços da soja estejam mais elevados nesta temporada em relação à anterior, a margem líquida dos produtores (LAJIDA) ainda é menor, o que limita a capacidade de investimento no ciclo atual”, afirmaram os especialistas do Imea.
Apesar de os negócios com a safra 2025/26 já estarem acontecendo, com cerca de 60% dos fertilizantes já estarem, inclusive, comprados pelos sojicultores – número que pé levemente maior em relação ao ano passado – e por boa parte desta nova safra estar comprometida com a comercialização, a chegada desta primeira projeção do Imea é como a marcação oficial do início do novo ano-safra da soja no Brasil. São eles que deixam evidente o como cenário é desafiador para os produtores rurais.
“O enxugamento do crédito, os juros altos, a pressão ambiental e os custos mais elevados”, elencou o analista de mercado e diretor da Agrinvest Commodities, Marcos Araújo, como alguns dos principais fatores que limitam o incremento da área de soja no Brasil neste próximo ciclo, além do aumento dos custos de produção. Além disso, Araújo destaca ainda que as condições climáticas para o sojicultor de Mato Grosso na safra 2024/25 foi muito positiva, o que já não é esperado para acontecer da mesma forma na 2025/26.
Um levantamento feito por Araújo, usando como base o município de Sorriso/MT, mostra que da safra atual para a próxima, o aumento dos custos do produtor com insumos deverá passar de R$ 2.725,19 para R$ 3.306,14, levando o custo total de um hectare a saltar de R$ 5.599,08 para R$ 6.598,98. Considerando uma produtividade média de 65 sacas por hectare e um preço médio de vendas de R$ 119,33/sc, a margem bruta cairia de R$ 3025,89 para R$ 2929,18 por hectare, com um lucro de R$ 1.157,47, contra R$ 1756,59 da safra 2024/25.

Assim, os cálculos e os resultados de margens e lucro que o produtor poderia obter com a soja nesta próxima temporada ajudam a detalhar porque o crescimento da área 2025/26 deverá ser bem menor do que em anos anteriores. Embora ainda equilibrados os custos e as margens, a nova safra, como explica Marcos Araújo, está sendo definida em uma outra conjuntura de mercado, e em outros cenários de oferta e demanda.
Também analista da Agrinvest, neste caso de fertilizantes, Jeferson Souza traz a confirmação de que os sojicultores deverão, de fato, investir menos nos pacotes tecnológicos no novo ciclo, além da área crescendo menos.
“Nós já estávamos pensando que o crescimento seria mais contido pelo produtor brasileiro, isso é um fato. É inegável que, nos últimos anos, tivemos um aumento nos custos. Embora o preço da soja se mantenha, o apetite em abrir novas áreas, era esperado menor. Tivemos períodos em que a área de soja cresceu 5%, 7% em uma safra, agora este crescimento é menor devido à situação atual. O apetite é menor em abrir área e não é só o custo de produção. O crédito, as taxas de juros elevadas, isso afeta a abertura de área. Custa caro abrir área. Gastos com corretivos, fertilizante – que também está caro – e é por isso que se limita esse crescimento de área”, detalha Souza, em entrevista ao Bom Dia Agronegócio nesta quarta-feira (7).
Para o analista, os valores de adubação deverão ser semelhantes aos registrados na safra anterior, sem sinais de redução muito intensa pelos produtores com os quais têm conversado. Justificando esta expectativa, os números da ANDA (Associação…) apontam que as entregas de fertilizantes no Brasil, no primeiro bimestre deste ano, cresceram mais 7% em relação ao mesmo período do ano passado. “Esse número será importante de olharmos agora para entender se, realmente, essa redução de tecnologia acontecerá ou não. Para mim, é um pouco cedo para chegarmos a qualquer conclusão”.
Deste ponto em diante, portanto, será fundamental a análise dos negócios para os 40% que faltam dos fertilizantes para serem comprados, considerando, inclusive, as inúmeras e diferentes realidades que os principais estados produtores de soja vivem no Brasil neste momento. E os preços das principais matérias-primas seguem firmes, sem muito espaço para um recuo que pudesse estimular novas e grandes compras agora.
“Há uma mudança no comportamento das compras de fertilizantes pelo produtor no Brasil, sobretudo, nos últimos dois anos. O produtor separou o fósforo do potássio e agora temos que analisar em duas frentes. Então, o produtor aproveitou as oportunidades, e elas apareceram em outubro, algumas em novembro, e vejo com bons olhos essa antecipação das compras porque ele aproveitou as oportunidades”, diz o analista. No entanto, ele destaca que os cenários são muito distindtos. Enquanto há regiões em Mato Grosso com cerca de 80% dos fertilizantes comprados, no Rio Grande do Sul, por razões óbvias, há ainda 75% dos negócios para acontecer.
O sócio-diretor da Agrometrika, Fernando Pimentel, compartilha das análises e destaca o comprometimento da rentabilidade.
“Dois fatores podem estar contribuindo. Estamos saindo de uma safra de alta produtividade, o clima foi muito bom (em Mato Grosso) e não pode se esperar, de novo, um ano seguido com a mesma condição climática perfeita. Segundo ponto, eu acredito que em função dos problemas de crédito e rentabilidade no campo – até porque a segunda safra de milho já está indicando um recuo da rentabilidade com as quedas dos preços futuros e o caminhar de uma safra muito boa, preços lá fora não muito bons -, provavelmente, teremos um impacto na redução de tecnologia no plantio de soja também”, detalha.
Assim, o crescimento de área modesto deverá ser uma realidade constante não só em Mato Grosso, mas também nos demais estados.
“A expansão de área é natural, pois sempre vamos “dar um jeitinho de plantar mais”, de certa forma isto está em nosso DNA como produtor rural. O cenário que nos tivemos este ano foi muito complexo, pois o volume de safra foi muito bom em quase todas as regiões do Brasil, os preços estiveram melhores em comparação com a temporada anterior, mesmo na entrada da soja no mercado e, mesmo assim, as margens ficaram muito apertadas devido aos custos de insumos, taxa de câmbio e, principalmente, juros muito altos”, afirma o sócio-diretor da Pine Agronegócios, Alê Delara.
“Para a próxima temporada, o cenário está indicando que poderá ser mais apertado ainda. Os juros para financiamentos estão muito altos, podendo ficar acima de 20% em alguns casos; há uma incerteza grande com o Plano Safra e já sabemos que os juros ficaram mais altos também”, complementa.
Ele complementa dizendo, todavia, que ainda é cedo para uma análise mais detalhada. “Há fundamentos que mostram que o cenário pode ser outros, como a venda de fertilizantes que está num percentual acima do último ano, a principio não teremos nenhum dos eventos climáticos adversos (El Niño e La Niña), então, talvez, a análise do IMEA pode ter sito precipitada, pois certamente trará ao mercado o sentimento de preços melhores para 2026”, conclui o diretor da Pine.
Fonte: Noticias Agricolas