O Rabobank produziu um estudo das Perspectivas para o Agronegócio Brasileiro 2025. Segundo o relatório, 2024 foi positivo para o setor no país após um 2023 de grandes desafios. Os produtores de leite conseguiram manter níveis adequados de rentabilidade com o preço do leite em patamares relativamente elevados ao longo do ano e os custos de produção em níveis estáveis.
A indústria também conseguiu operar em um cenário mais favorável, ainda que com o da matéria-prima elevado. A demanda do consumidor final voltou a crescer com melhoras nos indicadores de renda e emprego, o que permitiu ao setor preservar as suas margens em várias categorias e aumentar as vendas em volume em alguns segmentos.
A primeira metade do ano foi marcada por produção no campo acima do esperado, principalmente no primeiro trimestre, quando a produção avançou 3,6% comparada com o mesmo período de 2023. Já no segundo trimestre de 2024 a captação formal de leite avançou apenas 1%, comparada como mesmo período de 2023, em parte por causa da queda de 10% no Rio Grande do Sul, que sofreu com as maiores enchentes da sua história no final de abril. As importações recuaram 4,6% em volume no primeiro semestre, porém se mantiveram em patamar historicamente elevado (131 mil toneladas de janeiro a junho). Apesar do aumento da disponibilidade de leite no campo e das importações em patamares elevados, os preços ao produtor avançaram consideravelmente de R$ 2,13/litro em janeiro para R$ 2,75/litro em junho.
Na segunda metade de 2024, os efeitos da maior estiagem registrada no Brasil em mais de 40 anos, frearam o avanço da produção no terceiro trimestre. As condições extremas de calor impactam negativamente o conforto das vacas e a disponibilidade de pastagens, reduzindo a produtividade, principalmente em fazendas menores.
Mas apesar dos desafios com o clima, a rentabilidade dos produtores se manteve em patamares positivos no segundo semestre de 2024. De acordo com dados do MilkPoint Mercado, o indicador de receita menos o custo da ração tem se mantido no maior patamar do ano no terceiro trimestre (R$ 44/vaca/dia), e provavelmente deve continuar em níveis elevados no quarto trimestre. Isto porque esperamos queda apenas moderada dos preços ao produtor nos meses finais de 2024, considerando a desaceleração da oferta no segundo semestre e a dinâmica positiva da demanda.
Assim, a produção de leite no Brasil deve fechar o quarto trimestre com crescimento e alcançar um avanço total de aproximadamente 1,5% em volume para 2024 como um todo, comparado com o nível de 2023. Com relação ao mercado internacional, as importações brasileiras se mantiveram em patamares elevados no segundo semestre, e devem encerrar o ano em patamares semelhantes aos níveis de 2023 (278 mil toneladas).
A migração de pequenos produtores para outras atividades e a consolidação da base produtora em menos produtores ativos aumentou em 2024, como era esperado, e deve continuar em 2025. A rentabilidade dos produtores de grande porte tende a permanecer mais elevada do que a do pequeno produtor e os incentivos da indústria para pagamento por qualidade e volume, continuam impulsionando as margens e os investimentos (em tecnologia, genética e eficiência) dos maiores produtores, levando-os a crescer bem acima da média. O fator mão de obra deve continuar sendo um grande desafio para os produtores em 2025, com oferta limitada de funcionários capacitados e comprometidos na atividade, a tendência é continuar a ver aumento de investimentos em robôs de ordenha e tecnologia para aliviar a dependência em mão de obra.
E o mercado internacional?
Olhando para 2025, o Rabobank espera leves altas dos preços internacionais em continuação com a tendência apresentada em 2024. A oferta global está encontrando dificuldades para engatar um novo ciclo de expansão na maioria das regiões e inclusive mostra claros sinais de esgotamento na China, que tem sido o principal contribuinte ao crescimento da produção global nos últimos três anos.
Regulamentações adicionais, volatilidade climática e custo da mão de obra, são alguns dos fatores restringindo o avanço da oferta internacional em regiões como Europa e Oceania. Por outro lado, a demanda global tende a se manter estável no agregado em 2025, apesar das compras menores da China em 2024, estímulos adicionais devem nivelar o consumo no próximo ano. Outras regiões importadoras como o sudeste asiático devem sustentar as compras globais com crescimento demográfico e econômico.
Para o Brasil, preços internacionais levemente maiores não devem impactar consideravelmente o nível das importações. O preço do leite no Brasil tende a continuar dentre os mais caros do mundo, o que mantém as importações competitivas mesmo com câmbio mais depreciado.
Para a curva de preço ao produtor, parece provável que inicie 2025 em patamar elevado, limitando o espaço potencial para novas altas no primeiro semestre (salvo algum problema exógeno relevante). Já no segundo semestre poderá apresentar quedas relevantes, isto porque as margens elevadas ao produtor no segundo semestre de 2024 e primeiro semestre de 2025, devem estimular a produção de forma significativa, fortalecendo a oferta.
Com relação à demanda local, vale a pena considerar que os preços do leite e derivados estarão em patamares levemente mais altos no primeiro trimestre de 2025, comparado com os níveis de 2024, e os níveis de comparação de vendas serão elevados. Estes dois fatores podem levar a crescimentos nominais menores na primeira metade de 2025, comparado com 2024.
Por outro lado, o mercado financeiro espera mais um ano de crescimento econômico em 2025 no Brasil, porém em ritmo levemente menor comparado com 2022-2024 (próximo de 3%), com projeções atuais do PIB avançando próximo de 1,8% em 2025 e inflação próxima de 4%. Esperamos que a continuação do ciclo de crescimento econômico permita manter o nível de desemprego em patamares baixos, o que deve sustentar o consumo e permitir alguns ganhos adicionais em volume desde que a inflação permaneça sob controle. No ano de 2024, mais uma vez ficou evidente que quando o consumidor brasileiro percebe uma melhora no seu poder de compra, a categoria dos lácteos tende a performar melhor. A exceção deve continuar sendo o leite fluído (não refrigerado) que continuará enfrentando desafios com mudanças de tendências de consumo e desaceleração do crescimento demográfico.
A volatilidade climática mais uma vez deve ser monitorada e poderá trazer novos impactos negativos para a produção. Porém, os investimentos em tecnologia, genética e eficiência devem ajudar os produtores a navegar as oscilações do clima em 2025.
Pontos de Atenção:
- A procura por produtos com alto teor de proteína e zero açúcar devem dar folego adicional aos produtos lácteos funcionais em 2025 no mercado brasileiro.
- A evidente desaceleração no crescimento da produção na China deve levar a maior equilíbrio entre oferta e demanda global nos próximos anos.
Fonte: Milk Point e Rabobank