A Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA) anunciou que o clima já está sob efeito do El Niño. Se a chegada do fenômeno climático já é uma certeza, a intensidade com a qual vai se manifestar ainda é a dúvida dos cientistas.
Nas projeções da NOAA, a chance para um El Niño moderado é de 84%. A possibilidade de um evento de forte intensidade é de 56%. “Existe a chance do fenômeno evoluir para um episódio de forte intensidade mais tarde neste ano. A agência dos Estados Unidos não usa a terminologia de um Super El Niño, mas esta é uma possibilidade”, avalia Estael Sias, meteorologista da MetSul, em boletim divulgado pela internet.
Para o Brasil, o principal efeito é um clima mais chuvoso na região Centro-Sul e uma redução de umidade nas áreas mais ao norte, especialmente no segundo semestre. Mas se essa influência virá de um El Niño fraco, moderado ou forte, meteorologistas avaliam que ainda é cedo para dizer. “Não é possível ainda afirmar que teremos um Super El Niño. Mas todos os episódios anteriores trouxeram graves consequências”, ressalta Estael Sias, da MetSul, destacando Sul do Brasil, centro e nordeste da Argentina, além de Paraguai e Uruguai como regiões fortemente atingidas em episódios anteriores de uma manifestação mais forte do fenômeno.
Nadiara Pereira, meteorologista da Climatempo, explica que diversos modelos climáticos apontam para a chance de temperaturas até 3ºC acima da anomalia climática, semelhante ao período 2015/2016.
Segundo a especialista, em 2015, última vez que o clima esteve sob a influência de um Super El Niño, a temperatura ficou 2,6°C mais quente que a média, e, em medições pontuais, o calor superou a média em 3°C graus. “Na época, houve muitos impactos para a produção agrícola, especialmente no Sul do Brasil, com chuvas acima da média, além de tragédias provocadas por enchentes”, lembra.
Em 2015, a safra de trigo no Rio Grande do Sul foi 35% menor, afetada por chuvas em excesso tanto nas fases de plantio quanto de colheita. “No Matopiba [confluência entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia] houve quebra de safra, já que muitas regiões sofreram com a falta de chuva”, acrescenta.
Efeitos de Norte à Sul
Se a previsão para este ano se confirmar, o El Niño será um dos mais fortes da história, alerta Nadiara. No entanto, apesar da probabilidade ser considerável, ainda é cedo para afirmar que o mundo enfrentará um Super El Niño. “Mesmo com padrões climáticos semelhantes, o clima tem um comportamento diferente em cada ciclo”, pontua Nadiara.
Marco Antônio dos Santos, agrometeorologista da Rural Clima, também adota um tom de cautela ao falar sobre a intensidade do fenômeno. Ele concorda que os parâmetros atmosféricos já indicam a influência do El Niño sobre o clima, que deve ser mais evidente a partir do mês de julho. “Não acredito que será de forte intensidade, como aconteceu nas safras 2015/16 e até mesmo na temporada 1997/98. O El Niño deve consolidar sua formação no segundo semestre deste ano, com sua intensidade podendo variar de moderada a fraca”, avalia.
Com a confirmação do El Niño para a segunda metade deste ano, Nadiara Pereira reforça que o padrão climático sem extremos deve favorecer os cultivos de inverno no Sul, mas também pode prejudicar a colheita de trigo, por exemplo, em caso de chuvas em excesso. Já o aumento das precipitações no Sudeste pode afetar a colheita da cana-de-açúcar.
As previsões da especialista apontam também para períodos de tempo mais seco que o normal para áreas do Matopiba. “Este ano, temos muito mais cana para colher, e os trabalhos podem se estender até novembro, e há previsão de clima mais úmido que o normal em junho e julho em áreas de São Paulo e também de Mato Grosso do Sul.”
Em maio, analistas do mercado de café alertaram para a possibilidade de geadas em áreas produtoras do Sudeste. O panorama climático levantou questionamentos sobre a influência antecipada do El Niño no clima do Brasil, fato descartado pela meteorologista da Climatempo. “Ainda estamos em uma fase de transição para o El Niño. O fenômeno tem como característica o aumento das temperaturas, e diminui o risco de frio tardio. Nós devemos sentir o seu efeito sob o clima no final do inverno e início da primavera no Brasil”, afirma Nadiara Pereira.
Fonte: Globo Rural