O produtor brasileiro está cauteloso para sair às compras de fertilizantes, mesmo diante de preços muito menores se comparados aos dessa mesma época em 2022 quando o início da guerra na Ucrânia inflacionou o setor.
Contudo, maio e junho serão meses determinantes para garantir as compras de insumos para a próxima safra verão no país, cultivada a partir de setembro.
O aumento de demanda esperado para os próximos meses deverá impactar as cotações, mas agentes do segmento não acreditam em fortes oscilações de preços como em anos recentes. “O mercado mundial de fertilizantes está entrando em um novo ponto de equilíbrio de preços e oferta com novos fornecedores entrando na jogada”, resume Paulo Craveiro, coordenador da Datagro.
Por ora, em Mato Grosso, o maior produtor brasileiro de grãos, os agricultores garantiram até março 47% dos insumos necessários para a próxima safra de soja. O volume é 19 pontos percentuais inferior ao da mesma época do ano passado.
Há dois fatores para isso. “No ano passado, o movimento foi mais acelerado [em função do receio de falta de produto devido à guerra], e o produtor está mais cauteloso [em 2023] para travar compras de fertilizantes e defensivos porque o preço da soja caiu um pouco nos últimos meses”, diz Cleiton Gauer, superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).
O produtor tem tempo ainda para receber produtos, sem que comprometa o fluxo de preparação de plantio na propriedade, até meados de julho e início de agosto. “Mas, para isso, ele vai começar a travar as compras com mais velocidade a partir de agora para não ficar à mercê da logística lá na frente”, diz Gauer.
A ureia (nitrogenado), um dos nutrientes mais usados pelo agricultor, foi a única a subir em abril. Outros dois produtos importantes para as lavouras – MAP (fosfatado) e potássio – seguem em queda desde o ano passado. A tonelada da ureia reagiu porque o produtor dos EUA saiu às compras com atraso. “O produtor acaba sempre esperando que a cotação ceda um pouco mais”, afirma Marcelo Mello, diretor de fertilizantes da consultoria StoneX.
Ademais, o fator clima também atrasou um pouco as compras americanas neste ano, acrescenta Flavia Bohone, especialista em fertilizantes da Argus. A ureia foi cotada na semana passada a cerca de US$ 330/tonelada (preço no porto no Brasil). Em um ano, a queda é de 61%. No acumulado de 2023, a ureia recuou 32%, segundo a Argus. Apenas no acumulado de abril até a semana passada, a ureia reagiu pouco mais de 7%.
“Para MAP e ureia é possível que a gente comece a ver um pouco mais de demanda local a partir de maio. Qual será o impacto em preços, será preciso aguardar”, afirma Flavia. A Argus não faz projeção de preços, porém, traça tendências. “É natural que a demanda venha e o preço suba. Mas o comprador [produtor agrícola] não parece muito interessado em aderir a aumentos fortes”, continua.
O agricultor brasileiro, cada vez mais cauteloso em sua tomada de decisão de compra, sabe que há estoques locais. Segundo a Anda, que reúne as indústrias que atuam no país, o setor chegou ao fim de 2022 com estoque de 7,6 milhões de toneladas, alta de 12,5% em um ano.
Mello reitera que os fundamentos do grupo NPK (nitrogenado, fosfatado e potássio) não justificam fortes altas, e cita projetos que começaram a operar. A Índia, importante compradora de adubo, começa a maturar novas plantas produtoras de ureia. O país ampliou a capacidade em 6,5 milhões de toneladas, o que garantiria seu consumo. O analista destaca ainda novas unidades na Nigéria.
Belarus, um dos grandes fornecedores globais de potássio (e travado por sanções), deve aumentar em 2 milhões de toneladas o fornecimento global em 2023, para 6 milhões de toneladas. É a metade do que usualmente entrega ao mundo. Ainda em curto prazo, contudo, incertezas sobre a Rússia continuam, já que a guerra não teve fim.
Fonte: Valor Econômico