Hoje tenho uma tarefa que eu acho muito fácil, mas ao mesmo tempo acho muito polêmica: Se eu quero produzir leite, devo escolher o sistema em pastagem ou em confinamento?

Senhores, vou iniciar com uma pergunta: Entre um Fusca e uma Ferrari, qual você escolheria? Tenho certeza que a maioria de vocês pensou Ferrari, não é mesmo? Eu digo o fusca. 

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Da para aplicar o mesmo pensamento quando a pergunta é vacas em pastagem ou em confinamento. Vamos lá: O Fusca foi um carro feito para a guerra, versátil, refrigerado a ar. Anda muito bem em estradas de terra e é resistente. A Ferrari é carro feito para correr, baixa altura do solo, rápido, refrigerado a água e com alto desempenho.

Sabendo dessas informações, eu vou escolher o fusca se meu objetivo é andar na pista para correr 180 km/h? Posso usar a Ferrari para minhas assistências técnicas, andando na lama, pedras e afins? Não funciona! O fusca não corre tudo isso e a Ferrari, na primeira valeta com lama ela atola. Então, cada um  é o melhor dentro da sua realidade. 

Pois bem, antes da historinha como é de costume, quero falar um pouco sobre que é produzir leite. Vamos lá?

Produzir leite não é mais como nossos avós faziam. Como diz Mário Sergio Cortella “ Vaca não dá leite – temos que tirar”. Neste caso, muitas vezes como faziam a maioria dos nossos avós, que praticavam muito o “tirar leite”, mas não o ato de tirar como diz o Cortella, mas, pelo fato de que as vacas comiam o que tinham e de manhã eram ordenhadas. Não se fazia muito para que aquele leite fosse produzido. O processo era natural.

Esta ordenha, era de tal forma que os bezerros mamavam um pouco o leite, que minha avó dizia que era “para descer o leite”, e em seguida a vaca era ordenhada. Nessa realidade, a vaca boa de leite era aquela que “dava” uns 4 a 5 litros de leite por dia. Quanto a alimentação, a vaca buscava o capim que tinha no pasto que tinha. Nem sempre bebia água de qualidade e em volume suficiente. Passar fome ou não comer para atender tudo que precisava era de costume. Quando ficava doente, muitas vezes nem o dono notava. Tudo isso acontecia porque a tecnologia ou a técnica era para poucos. Sim, para poucos.

Depois de relatar isso, vocês devem estar imaginando que este tipo de produção se refere a produção de leite a pasto, não é? Mas quero deixar claro que de maneira nenhuma, o que no descrito acima pode ser caracterizado como sistema de produção a pasto. Então vamos lá.

Sistema de produção de leite a pasto é conhecido por ser aquele que utiliza vacas meio sangue, ¾, 5/8 ou semelhantes, o que chamamos da raça Girolando. A raça Girolando e muito conhecida e respeitada, é a 5/8 Holandesa e 3/8 da raça Gir. Então já partimos do princípio que escolhemos um animal produtivo com relação a produzir leite, ok? Isto é muito importante.

Continuando, esta vaca se alimenta de pastagem no verão mais concentrado (ração) em uma proporção máxima, média, de 7 kg de ração animal dia. Esta ração é um concentrado de aproximadamente 18 a 20% de proteína bruta. No inverno, se alimenta de um volumoso, geralmente mais barato como a cana de açúcar, mas em muitos sistemas, já se utilizam de silagens como a de milho, sorgo e milheto.

Quanto ao manejo de ordenha, geralmente são duas ordenhas diárias, com produção de diária por animal que pode chegar até 30 litros de leite. Um leite de qualidade, com controle da dieta, qualidade do leite e livre de problemas. Faz-se controle leiteiro, inseminação artificial e todos os manejos para se obter um rebanho de qualidade com animais que são criados em ambientes com controles zootécnicos de bem-estar animal e manejos adequados.

A evolução do rebanho é efetuada, bem como seleção e reposição dos animais. Os animais ficam nas pastagens e áreas de descanso com sombra e água fresca. Os bebedouros são limpos sempre para se manter a qualidade de vida e do leite do animal, por meio de oferecimento de água de bebida de qualidade.

Quanto a ordenha, os animais são conduzidos de forma calma para serem ordenhados. A ordenha é mecanizada e o ambiente de produção controlado. Diferente do tempo do vovô não? Mas é assim hoje em dia.

Ao falarmos de produzir leite em confinamento, os animais apresentam o mesmo cuidado, só que com algumas diferenças.

A alimentação é 100% no cocho com dieta balanceada – não que a dieta no pasto não seja mas, por produzirem mais, devem estar muito bem ajustadas. A alimentação é ofertada em baixo de uma cobertura, a temperatura, umidade e vento são controlados e em muitas instalações possui aspersores de água.

Máquinas são muito mais utilizadas e tudo fica mais caro. Mão de obra para tudo isso também. Higiene, mais intensificada pois os animais ficam mais juntos. Doenças mais monitoradas pelo mesmo motivo.

Enfim, o trem fica mais caro, como diz o mineiro, mas também produz mais. A média de leite produzido vaca por dia deve ser superior a 35 litros de leite. Enquanto a média de pasto é de 17 litros/dia. 

Vamos agora a uma historinha. Um amigo disse que vendia calcinhas para criança. Na ocasião ele me disse que ganhava 1 centavo por calcinha vendida. Então eu falei: compensa? Sim, compensa, ele disse, poisa a menor venda são 10 mil calcinhas.

Com este exemplo e esta historinha podemos concluir uma coisa muito importante: Sabe qual sistema me daria mais lucro? Os dois. Sabe como isto acontece? A parte mais fácil deste texto é agora, quando eu comento sobre escala de produção.

Sabe o que e isso? Simples. Se você quiser ganhar 10 reais no período e ganha 1 real por coisa vendida, para ter os 10 reais, você tem que vender 10 coisas no período. Se você vende uma coisa e você ganha 5 reais cada coisa, você precisa vender somente 2 coisas, certo?

Na produção de leite a pasto, como os custos são mais baixos, a rentabilidade é ao redor de 30%. Então, como eu gasto menos, invisto menos, geralmente os sistemas em pastos ficam nas mãos de pequenos produtores, não dizendo que grandes produtores podem usufruir da técnica também. Logico que podem.

Gado de leite em confinamento, exige mais custos e investimentos, e sua rentabilidade é menor, por volta de 10 %. Senhores, então, as duas são rentáveis desde que estejam dentro da escala.

Na produção de leite em pasto, em média, para termos um lucro (fazendo certo, ok) de 3000 reais, hoje, sem considerar a mão de obra, precisamos produzir por volta de 400 litros de leite dia. Isso varia muito, mas é mais ou menos por aí. Em confinamento, este número vai para ao redor de 1400 litros, pois tudo é mais caro e preciso pagar isto, certo? Preciso produzir mais para que o custo seja diluído e obtenha lucro, ok?

Então o que eu quero dizer é que, se eu optar por produção de leite a pasto, em função dos menores custos, eu posso produzir 500 litros por dia e ter um lucrinho, mesmo pagando mão de obra. Em confinamento, tenho que produzir mais que 1600 litros. Isto é fato.

Resumindo, a vaca de leite em confinamento gasta mais por vaca em função de tudo que a rodeia. A de pastagem, menos. Além de tudo a vaca de pasto, no verão, se serve do pasto. No verão as vacas de confinamento devem ser servidas no cocho. Então, resumindo se eu colocar uma vaca de leite no confinamento produzindo 17 litros não vai dar certo. E a de confinamento, produzindo 50 litros, no pasto, também não dará certo. Eu como Zootecnista, que trabalho na área de manejo e nutrição animal, afirmo que você não conseguirá fechar uma dieta deste animal utilizando pastagem e ração. Não fecha. Então senhores, cada macaco no seu galho. Tudo gera custos, mas devem estar dentro de uma escala de produção para se obter lucro.

Para encerrar, já presenciei dois pesquisadores quase se batendo por causa disso. Leite em pasto é melhor? Leite em confinamento é melhor? O Melhor é produzir leite.

Mas, nos dias de hoje tudo está muito difícil, será que é hora de parar? Definitivamente não. É hora de se adequar. Como última frase, que não é minha mas uso sempre: se não pode controlar o vento, ajuste as velas. Se precisar da gente para ajustar as velas estamos por aqui. Ajuste a escala, ajuste a produção, o animal, o leite e por fim, o seu sucesso. 

Fonte: MilkPoint