O setor estima um custo diário de demurrage (estadia) de US$ 30 mil por dia por navio parado
Principal porta de entrada de fertilizantes no Brasil, o Porto de Paranaguá, no litoral do Paraná tinha, na sexta-feira (27), 7 navios com insumos atracados, 16 aguardando para descarregar e 18 anunciados para os próximos 30 dias.
Segundo a Paraná Portos, empresa que administra o terminal, o porto está movimentando uma quantidade incomum de fertilizantes.
De acordo com dados da Camex, no primeiro quadrimeste deste ano, o terminal movimentou 3,6 milhões de toneladas de fertilizantes, o que representa um aumento de 14% em relação ao mesmo período de 2021.
Com isso, toda a capacidade de armazenamento de 3,5 milhões de toneladas do porto já está em uso, dificultando o trabalho de descarga.
A situação em Paranagua é resultado de duas estratégias diferentes.
Em uma ponta, os compradores dicidiram anteciparam a importação de fertilizantes, com medo de faltar produto no mercado brasileiro, especialmente depois das sanções sanções contra a Rússia e contra Belarus por conta da guerra na Ucrânia, mesmo sem espaço suficiente para armazenagem no país.
O Brasil importa cerca de 85% dos fertilizantes que consome.
Por outro lado, os produtores ruais estão adiando as compras dos insumos, esperando preços melhores, especialmente no segundo semestre.
Segundo Luiz Teixeira da Silva, diretor de operações da Portos do Paraná, os navios que atracam nos berços públicos do Porto de Paranaguá descarregam o fertilizante diretamente para os armazéns de retaguarda, fora da área do porto organizado.
“Estes armazéns pertencem à iniciativa privada e vendem o espaço para o importador que deposita ali a sua mercadoria. A capacidade total dos armazéns de retaguarda gira em torno de 3,5 milhões de toneladas. Em tempos normais, a mercadoria tem um giro para o interior, evitando que o sistema fique saturado. Atualmente, o fertilizante não está saindo de Paranaguá. Então temos um grande volume chegando, resultado da antecipação das compras por parte do importador, e um volume bem menor saindo, resultante da demora da venda para o produtor rural”, explica.
Silva acredita que o mercado está se adaptando às novas realidades, como pandemia e guerra, e que vai demorar um pouco para a comercialização começar a rodar normalmente.
“É uma combinação de fatores: antecipação de compras, aumento de frete, aumento do preço do produto. São variáveis que o mercado vai ter que conviver e se auto regular”, afirma.
Preços de fertilizantes
O preço dos principais fertilizantes teve um reajuste de mais de 350%, saindo de uma média de US$ 350 por tonelada, na safra passada, para US$ 1,3 mil por toneladas na safra deste ano, um percentual de reajuste que, segundo a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), pode gerar desabastecimento de alimentos no mercado mundial.
O impacto no aumento dos preços, segundo Fernando Cadore, presidente da entidade, não será sentido apenas pelo produtor rural, mas também vai afetar o consumidor final, que terá menos alimentos nas prateleiras do supermercado.
“Sugerimos, nesta semana, à Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) que acione o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), cobrando explicações das empresas sobre o reajuste no preço considerado pelo setor produtivo como “abusivo e inexplicável” ou mesmo como “formação de cartel”, ou seja, com intuito de gerar lucro às poucas indústrias que atuam no país”, afirma Cadore.
Fonte: Canal Rural