A rede varejista de insumos agrícolas Disam, que tem 27 lojas no Paraná, recentemente deixou de vender adubos. Segundo o diretor comercial da empresa, Carlos Zorzetto, os produtores não querem pagar os elevados preços atuais. No Rio Grande do Sul, outro importante Estado do agro, espera-se que a aplicação de fertilizantes recue entre 10% e 15% no ano, com um consumo projetado de 4,6 milhões de toneladas. Em Mato Grosso, peso pesado do cultivo de soja e milho no país, também é esperada uma diminuição das vendas.
Os reflexos da nova alta das cotações de nitrogenados, fosfatados e potássicos em 2022, que já tinham subido de 100% a 200% no ano passado, começam a ganhar contornos concretos no dia a dia do campo em um momento importante da temporada. No segundo e no terceiro trimestres, há concentração de compras de insumos, agora tendo em vista a safra 2022/23, que começará a ser semeada entre agosto e setembro.
Uma projeção recentemente elaborada pela consultoria MacroSector, especializada em agronegócios, aponta para um gasto de US$ 7,3 bilhões com importações no segundo trimestre deste ano, valor que, caso se confirme, representará um aumento de 193% na comparação com o mesmo período de 2021. “Já chegamos a ver alta de preço de 300% neste ano, em potássio”, diz Mario Sérgio do Prado, CEO da Coonagro. A cooperativa paranaense conta com uma misturadora.
O gordo desembolso que a MacroSector projeta para o atual trimestre, contudo, deverá ser suficiente para a compra de 8 milhões de toneladas, volume 2% menor do que o do mesmo período de 2021. No primeiro trimestre, já houve queda. O Brasil comprou 8% menos de fertilizantes químicos do que no intervalo de janeiro a março de 2021 e gastou 109% mais, segundo dados da Secex (ver infográfico).
Em abril, dados parciais mostraram aumento de 10% no volume importado em relação ao mesmo mês de 2021. “Houve um movimento de antecipação de compras”, observa Fabio Silveira, sócio diretor da MacroSector. Entre a celebração dos contratos de fertilizantes e a entrega pode haver um intervalo de 45 a 60 dias, sobretudo em um contexto geopolítico como o atual. A concentração, desse modo, não necessariamente representa um aumento no volume de importações no ano.
Segundo Silveira, a tendência é que o cenário se repita no terceiro trimestre. “Com isso, poderemos ver uma redução de área plantada na safra 2022/23. Mas não vai faltar alimentos”, conclui o sócio da consultoria.
Os produtores têm buscado alternativas para manter a produtividade por hectare e a margem de seus negócios. Entre os gaúchos, por exemplo, uma saída para amenizar o impacto dos preços tem sido escolher nutrientes com menos tecnologia embarcada. “Se o produtor usava uma fórmula ‘premium’, ele escolhe agora uma menos concentrada”, afirma Diego Wasmuth, gerente comercial de insumos da cooperativa gaúcha Cotrijal. Sem isso, estima ele, a redução das aplicações no Estado seria de 20%.
“Cada solo é diferente”, lembra Prado, da Coonagro. Segundo o executivo, as terras no Paraná, por exemplo, têm um “banco” de fertilizantes após anos de bons tratos culturais. Se um produtor da região aplicar 30% menos de adubos, não haverá impacto significativo sobre a produtividade neste ano, diz.
O ponto de vista é similar ao do CEO da SLC Agrícola, Aurelio Pavinato. Em entrevista recente à Bloomberg, ele contou que a companhia, que cultiva soja, milho e algodão, planeja usar entre 20% e 25% menos de adubo na safra 2022/23. “É possível cortar fertilizantes em um ano e ter impacto nulo na produção”.
Em Mato Grosso, o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) está concluindo um levantamento sobre as vendas de insumos. “Mas já é certo que a aplicação de adubos será menor, principalmente para quem deixou para comprar na última hora”, diz Cleiton Gauer, superintendente do Imea. Com a alta, os adubos passaram a representar 46% do custeio (média até o momento) da soja no Estado, acima dos 33% da safra anterior.
Fonte: Valor Econômico